sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


A decadência de Salvador
 
Jornais baianos e paulistas focam a decadência de Salvador sem relacionar a situação atual como resultado de péssimas gestões, marcações de território desse e daquele partido, nenhum deles preocupado com o bem-estar da cidade ou de seus moradores. Assistimos a esquerda, direita, centro e partidos teocráticos urinando sobre essa terra de beleza absoluta com gestões desastradas. Por último, João Henrique, responsável por oito anos de mijadas ininterruptas, chegou com o papo cansado de que Salvador recolhe pouco e, por isso, não tem dinheiro para ser bem administrada.

APrefeitura recolhe mais do que deveria. Muitos cidadãos, como eu, pagam impostos para evitar a inadimplência. Apenas. Pagam taxa para recolhimento de um lixo que empesta todos os bairros. Pagam IPTU sem retorno. E o que mais Salvador tem condições de recolher? Seus humanos, desqualificados para sobreviver numa cidade naturalmente completa para o turismo, mal falam português com correção. Suas intermináveis joias culturais, as festas de largo, o Carnaval, o sincretismo, são tratadas por jegues diante de igrejas e, óbvio, não podem resultar em arrecadamento.

Como é que uma cidade que pode viver bem e fartamente de sua criação cultural incessante, que jorra como água na superfície, criadora de dezenas de movimentos artísticos nacionais, não tem uma secretaria de cultura que pense, organize e fomente essa riqueza? Não adianta perguntar isso a João Henrique. Nem aos seus secretários, que nunca souberam arrecadar impostos, como gestores, porque não sabem usar sua melhor e, talvez, única riqueza para fazê-lo.

Éridículo que o Carnaval de Salvador receba dinheiro público sem retorno, para acolher milhões de pessoas durante sete dias, consumindo comida, habitação, música . Só o Carnaval da Baía, se bem-feito, pode (e deve) gerar renda para enriquecer a cidade durante o ano. Cidade que não pode ter outra indústria, senão a cultural, que tem todos os equipamentos naturais e culturais para o turismo. E que quando investiu neles, com senso, recebeu deles o dobro do que investiu.
 
Acesso em: 21 de dezembro de 2012, às 19h11.
 
 
 

                                                                 Trilhas

Roberto Carlos lançou um disco para o Natal e decretou “Esse cara sou eu”. Não acreditei no plano, mas, como o disco já está à venda nos “Francis Drake” da Cidade, inspirando os bonitões que preferem um tom mais cor de rosa que o pagode.baiano para dizer que são os caras, funcionou. O sucesso de um produto cultural de massa tem que estar na pirataria. Chegou às bancas dos piratas, espalhadas pelo País, está na mass media.

Que ainda não acatou o fim do mundo como produto final. Daí porque a probabilidade é que, depois do dia 21, será Natal com Simone ecoando em cada Shopping do País, e milhares de Humanos tentando comprar e vender absolutamente tudo. Jesus Cristo é um ótimo confrade dos comerciantes. E como há Shoppings neste País... Todos muito parecidos. Ocupando um espaço sobreterrâneo que os livros de prospecção humanística não detectaram. Nem 1984, de Orwell, nem Admiráv...el mundo novo de Huxley.

O que um Maia faria em um Shopping? Não tenho culpa. Essas perguntas chegam ao meu cérebro e eu repasso. Comeria? Compraria roupas? Levaria o disco de RC? Assistiria a um filme? Desejaria o fim do mundo? Talvez. Em 2012, o mundo acabou para Oscar Niemayer, Décio Pignatari, e milhares de outros Humanos que plantaram uma árvore, fizeram um filho, mas não escreveram um livro nem construíram uma cidade. E criar qualquer coisa está cada dia mais difícil, mais colado entre Criação e Recepção. Criar está exigente como sua essência. Ninguém suporta mais repetições, imitações, reproduções. Só clonagens de originais inacessíveis.

O que é péssimo para o Planeta, se sobreviver ao seu fim, com essa criatividade escassa. Entraremos no décimo terceiro ano do século 21 com analfabetos no Brasil, ditadura em Cuba, piadas portuguesas, filósofos alemães (a França se esforça, mas...). No ar, duas novidades, a China pós.Mao, seus dragões de liberdade, sua ditadura, as conquistas e criações, e o reconhecimento da gastronomia brasileira, que, desde sempre, teve ingredientes para seduzir o Planeta. Daí que, se o mundo não acabar dia 21, em 2013 será bom conhecer a China e as obras de arte dos Chef.s brasileiros.
 
Aninha Franco em Dia 21, Trilhas, Revista Muito, A Tarde, 16.12.2012.