sábado, 15 de julho de 2023

Como Introduzir a Tese na Redação

Como introduzir uma Tese na Redação do Enem

Em uma aula de redação, no momento em que o professor explica a proposta, grande parte dos alunos diz não saber como começar a escrever, como introduzir a tese no primeiro ou nos primeiros parágrafos do texto. Realmente não é fácil iniciar a escrita, mas se escrevermos com frequência, isso se tornará mais fácil com o tempo e, com as orientações abaixo, podemos ver que há vários modos de começar uma dissertação – argumentativa.

1. Conceituando (definindo) algo – É a forma mais comum de se começar. Por exemplo:

Violência é toda ação marginal que nos atinge de maneira irreversível: um tiro que nos é dado, um assalto sem que esperemos, nosso amigo ou conhecido que perde a vida inesperadamente através de ações inomináveis…

2. Apresentando alguma(s) estratégias argumentativas como dados estatísticos, exemplos, citações, depoimentos etc – No ENEM, não é adequado copiar dados da coletânea, já que nele esta é, apenas, fonte de inspiração para ampliar seu conhecimento sobre o tema, então, este modo de apresentar a tese requer um conhecimento prévio bastante vasto e certeiro, pois se você escrever algo errado, pode comprometer seu texto no quesito “coerência externa/verossimilhança”.

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) enfrentará dificuldades para concluir projetos que visam garantir a segurança e o funcionamento do setor durante a Copa de 2014. A constatação é de um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União), ao qual a Folha teve acesso. Segundo o documento, foram concluídas licitações referentes a apenas 11,6% dos R$ 45,7 milhões que a reguladora deveria ter comprometido em 2012 com projetos exigidos pelo Gcopa (Comitê Gestor da Copa 2014, grupo do Executivo que acompanha as ações de preparação para a Copa do Mundo de 2014).

3. Usando linguagem metafórica ou sentido figurado – Método mais indicado, geralmente, para iniciar redações cujos temas são reflexivos, como por exemplo, amizade, liberdade etc (temas mais recorrentes em provas da Fuvest e da Unesp). O ENEM normalmente elabora temas de cunho social e não reflexivos, mas nada impede que você inicie sua redação utilizando metáforas ou o sentido figurado.

“Sorteio de vagas na educação… triste Brasil! Tristes e desamparadas criaturas que transformam-se em números sem particularidade individual e acabam, como num bingo do analfabetismo, preenchendo cartelas da ignorância. (…)

4. Narrando – Sim, você pode iniciar uma dissertação – argumentativa narrando algo, mas deve parar por aí e voltar a dissertar e a argumentar logo em seguida, senão seu texto será zerado na segunda competência da grade de correção do ENEM (“Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo”). Pensando na proposta do ENEM 2012, vejamos um exemplo:

“Maria, cidadã boliviana, não conseguia encontrar emprego em seu país e, desesperada por uma vida melhor para ela e para seus filhos, aceitou a proposta de um conhecido que a ofereceu um emprego no Brasil, em São Paulo, como costureira. Sonhando com com um trabalho digno, embarcou, mas logo se desiludiu ao conhecer a confecção escura, apertada, mal ventilada onde iria trabalhar; decepcionou-se com seu baixíssimo salário e cansou-se de, já no primeiro dia, costurar por mais de 15 horas e mal conseguir dormir no alojamento.”

 Enem 2023 inscrições abertas - DNE Blog 

5. Interrogando o tema – Na primeira publicação desta série, seguiremos um tipo de planejamento da sua redação a partir da transformação do tema em pergunta e das respostas para esta pergunta que, por sua vez, orientariam toda a argumentação e assim podemos introduzir uma tese, questionando. Mas atenção: todas as perguntas feitas devem ser respondidas pelo autor. Tendo em mente o ENEM 2012, temos um exemplo:

“O que leva uma pessoa a imigrar para outro país? A busca por uma vida melhor? A fuga de um regime totalitário, de uma crise financeira ou da miséria? Um grande amor?”

6. Contestando o tema – Sim, você pode discordar do tema (e assim contestá-lo) desde que tenha argumentos fortes para isso. Muitos perguntam se há a possibilidade do corretor não gostar do texto, não concordar e assim dar nota baixa. E a resposta é não. O corretor está lá para verificar se a redação atende às expectativas da banca em relação à grade de correção (as competências) do ENEM e não para gostar ou não do seu ponto de vista, até porque você deve escrever imaginando um leitor universal e não o corretor.

“Embora se divulgue que o trabalho infantil no Brasil diminuiu consideravelmente, isso não é o bastante, já que o ideal é que ele seja erradicado não só do nosso país, mas do mundo todo. Crianças ainda trabalham, até em regime escravo, em plantações, carvoarias, nas cidades e até em suas próprias casas”

7. Traçar uma trajetória histórica comparando passado e presente, projetando um futuro.

“A história da humanidade deu-se através dos movimentos imigratórios em busca de desenvolvimento, de poder, de riquezas, de conquistas e se dá até hoje pelos mesmos motivos…”

8. Descrever lugares, pessoas etc. – Aqui vale a mesma orientação para o início narrativo: descreva, narre e logo vá para a dissertação – argumentativa para não zerar no tipo textual.

“Um porão escuro, fechado e mal ventilado; nele há várias máquinas de costura nas quais há, em cada uma, uma pessoa que buscou na imigração um sonho de vida e acabou deparando-se com o trabalho escravo em uma confecção que vende roupas para uma grande rede de lojas que, por sua vez, vendem estas peças a preços que elas nunca poderão pagar, mesmo trabalhando mais de 15 horas por dia.”

https://infoenem.com.br/

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

sábado, 1 de julho de 2023

A Estilística

    Imagem relacionada

    https://marta-omeucanto.blogs.sapo.pt/

 

Segundo o Houaiss, Estilística é o “ramo da linguística que estuda a língua na sua função expressiva, analisando o uso dos processos fônicos, sintáticos e de criação de significados que individualizam estilos.”, ou seja, o produtor textual utiliza a função emotiva aliada ao intelecto com o objetivo de conseguir a adesão do seu interlocutor de maneira emocional.

Ao responder a pergunta "Qual sua experiência?" para concorrer a uma vaga de emprego, o autor produziu um texto que é um monumento à Estilística. Infelizmente, sem autoria requerida.

Boa Leitura!                                                                             

                                             

Experiência?!

 

Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho e até já brinquei de ser bruxo.


Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista, já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.


Já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei me viciando.


Já roubei beijo, já confundi sentimentos.


Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.


Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer.


Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda, já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante, já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só, já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar, já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.


Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
 

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "Qual sua experiência?"


Essa pergunta ecoa no meu cérebro: Experiência... Experiência...


Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora, gostaria de indagar uma pequena coisa a quem formulou esta pergunta:
"Experiência?! Experiência?! Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?!"

 

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa