terça-feira, 24 de agosto de 2021

Análise das Melhores Redações / ENEM 2014

 Inscrições para o Enem 2014 começaram nesta segunda-feira | Etec Adolpho  Berezin

Em 2014, o exame trouxe como Proposta de Redação o tema Publicidade infantil em questão no Brasil. Como textos de apoio, a proposta continha um texto jornalístico em que discute se a publicidade infantil deve ser proibida no Brasil, um infográfico sobre a publicidade para crianças no mundo e um texto sobre a criança como o consumidor do futuro.

Veja:

 
Enem 2014 - Professora montes-clarense acerta outra vez tema da Redação do Enem  2014 | Jornal Montes Claros

 

Veja, a seguir, um texto produzido com muita competência e, por isso, obteve a nota máxima.

(Sem título)

A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às crianças. No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma questão que envolve interesses diversos. Nesse contexto, o governo deve regulamentar a veiculação e o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às crianças, pois, do contrário, elas podem ser prejudicadas em sua formação, com prejuízos físicos, psicológicos e emocionais.

Em primeiro lugar, nota-se que as propagandas voltadas ao público mais jovem podem influir nos hábitos alimentares, podendo alterar, consequentemente, o desenvolvimento físico e a saúde das crianças. Os brindes que acompanham as refeições infantis ofertados pelas grandes redes de lanchonetes, por exemplo, aumentam o consumo de alimentos muito calóricos e prejudiciais à saúde pelas crianças, interessadas nos prêmios. Esse aumento da ingestão de alimentos pouco saudáveis pode acarretar o surgimento precoce de doenças como a obesidade.

Em segundo lugar, observa-se que a publicidade infantil é um estímulo ao consumismo desde a mais tenra idade. O consumo de brinquedos e aparelhos eletrônicos modifica os hábitos comportamentais de muitas crianças que, para conseguir acompanhar as novas brincadeiras dos colegas, pedem presentes cada vez mais caros aos pais. Quando esses não podem compra-los, as crianças podem ser vítimas de piadas maldosas por parte dos outros, podendo também ser excluídas de determinados círculos de amizade, o que prejudica o desenvolvimento emocional e psicológico dela.

Em decorrência disso, cabe ao Governo Federal e ao terceiro setor a tarefa de reverter esse quadro. O terceiro setor – composto por associações que buscam se organizar para conseguir melhorias na sociedade – deve conscientizar, por meio de palestras e grupos de discussão, os pais e os familiares das crianças para que discutam com elas a respeito do consumismo e dos males disso. Por fim, o Estado deve regular os conteúdos veiculados nas campanhas publicitárias, para que essas não tentem convencer pessoas que ainda não têm o senso crítico desenvolvido. Além disso, ele deve multar as empresas publicitárias que não respeitarem suas determinações. Com esses atos, a publicidade infantil deixará de ser tão prejudicial e as crianças brasileiras poderão crescer e se desenvolver de forma mais saudável.

Antônio Ivan Araújo, Ceará. http://g1.globo.com/educacao/enem/2015/

Análise

Parágrafo 1: Construção perfeita da Introdução, com o a apresentação do Tema: “A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às crianças.” e a Tese (Ponto de Vista) do produtor textual: “No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma questão que envolve interesses diversos.” E, também, já aparece uma Proposta de Intervenção: “... o governo deve regulamentar a veiculação e o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às crianças...

Parágrafo 2: No Desenvolvimento, o candidato apresenta o primeiro argumento em “... as propagandas voltadas ao público mais jovem podem influir nos hábitos alimentares...”, em forma de Tópico Frasal. Ou seja, o parágrafo está estruturado em três períodos: no primeiro, o produtor textual apresenta o argumento como uma Introdução; no segundo, ele Desenvolve a ideia e, no terceiro, Conclui seu pensamento. Como aspecto negativo, a utilização do conectivo “Em primeiro lugar”, pois, aqui, denota obviedade.

Parágrafo 3: Com outro bom argumento – “... a publicidade infantil é um estímulo ao consumismo desde a mais tenra idade.”, o candidato recorre outra vez ao Tópico Frasal e o mesmo número de períodos. Uma técnica, digamos, meio nariz de cera, como costumam dizer os avaliadores de redações de concursos públicos, ou seja, algo que já vem pré-montado. No entanto, pode passar despercebido se houver uma ótima argumentação, como é o caso desta redação. Empobrecendo o texto, a ausência do acento agudo em “compra-los” e a presença da expressão “Em segundo lugar”. O que foi dito no parágrafo anterior, serve, também, para este conectivo.

Parágrafo 4: Proposta de Intervenção de excelente nível e ao gosto do ENEM: detalhada e contendo os agentes de intervenção: o que, quem e como. Com aspecto negativo, a ausência da vírgula após a palavra “prejudicial”, neste caso, obrigatória, pois separa orações contendo sujeitos diferentes.

Prof. Paulo Jorge

 

sábado, 14 de agosto de 2021

Análise das Melhores Redações / ENEM 2013

 Enem 2013 - Informações e Notícias - InfoEscola

A prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2013 trouxe o tema "Os efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil", para o qual os candidatos deveriam produzir um texto dissertativo-argumentativo. A Proposta de Redação apresentava os seguintes textos motivadores.

Tema da redação do Enem 2013 fala sobre a Lei Seca no Brasil | Enem 2013 |  G1      Redação Enem 2013 | EducaBras

Repulsão magnética a beber e dirigir

A lei da física que comprova que dois polos opostos se atraem em um campo magnético é um dos conceitos mais populares desse ramo do conhecimento. Tulipas de chope e bolachas de papelão não servem, em condições normais, como objetivos de experimento para confirmar essa proposta. A ideia de uma agência de comunicação em Belo Horizonte foi bem simples. Ímãs foram inseridos em bolachas utilizadas para descansar os copos, de forma imperceptível para o consumidor. Em cada lado, há uma opção para o cliente: dirigir ou chamar um táxi depois de beber. Ao mesmo tempo, tulipas de chope também receberam pequenos pedaços de metal mascarados com uma pequena rodela de papel na base do copo. Durante um fim de semana, todas as bebidas servidas passaram a pregar uma peça no cliente. Ao tentar descansar seu copo com a opção dirigir virada para cima, os ímãs apresentavam a mesma polaridade e, portanto, causando repulsão, fazendo com que o descanso fugisse do copo; se estivesse virada mostrando o lado com o desenho de um táxi, ela rapidamente grudava na base do copo. A ideia surgiu da necessidade de passar a mensagem de uma forma leve e no exato momento do consumo.

 www.operacaoleisecarj.rj.gov.br. (Adaptado)

Veja, a seguir, uma produção textual que obteve uma excelente avaliação no ENEM 2013.

(sem título)

Segundo Thomas Hobbes, é necessário estabelecer um contexto social em que o governo garanta a segurança do povo e iniba um convívio caótico. No entanto, o alcoolismo no Brasil é um dos fatores que impede a harmonia no trânsito e oferece

riscos à vida humana. Dessa maneira, a “Lei Seca” surgiu como um mecanismo que corrige diversos hábitos incoerentes por parte de motoristas, mas que ainda sofre entraves que dificultam a realização de modificações mais profundas.

Uma das consequências imediatas dessa iniciativa do poder público é a diminuição dos perigos relacionados à locomoção viária, uma vez que o número de acidentes tende a ser sensivelmente reduzido. Nesse sentido, por estarem sóbrios, indivíduos tornam-se mais conscientes, o que dificulta a perda do controle da direção, que é uma das grandes responsáveis por mortes no trânsito. Dessa forma, a população passa a ter seu direito à vida – garantia defendida pela ONU – respeitado diante da vigência de uma regra que incompatibiliza a associação entre o álcool e o dirigir.

Apesar disso, a erradicação dos problemas gerados pela embriaguez ainda não foi plenamente alcançada. Isso ocorre, em grande parte, devido a uma resistência de alguns indivíduos que não aceitam as regras estabelecidas. Nesse cenário, o “jeitinho brasileiro” de burlar certas normas, somado à fiscalização muitas vezes precária do poder público, inibe a harmonia social e perpetua uma cultura de impunidade e de desrespeito que perpetua a de acidentes.

Pode-se dizer, portanto, que a iniciativa do governo federal produz benefícios incontestáveis, mas que ainda não são plenamente aplicados. Para tanto, é preciso intensificar a divulgação de propagandas midiáticas que demonstrem as vantagens da nova lei, além de aumentar a fiscalização das vias públicas, por meio da atuação da polícia militar, principalmente em regiões de maior fluxo veicular. Tais medidas, associadas ao incentivo ao uso de táxis com a redução de custos possibilitados por subsídios governamentais são importantes. Afinal, assim será possível, ao menos, garantir a harmonia defendida por Hobbes diante da ordem e do progresso estampados em nossa bandeira.

 http://enememcurso.com.br/

 Análise

Parágrafo 1: O texto começa em alto nível com a citação do teórico político, filósofo e matemático inglês Thomas Hobbes sobre a vida em sociedade e apresenta no terceiro período o tema da redação “... a “Lei Seca” surgiu como um mecanismo que corrige diversos hábitos incoerentes por parte de motoristas,” e o ponto de vista (tese) do candidato “... mas que ainda sofre entraves que dificultam a realização de modificações mais profundas.” Convenhamos: uma Introdução irretocável.

Parágrafo 2: No primeiro parágrafo do Desenvolvimento, o candidato manifesta-se a favor da Lei Seca argumentando que a medida governamental reduz os acidentes no trânsito. Habilmente elaborado em Tópico Frasal, ou seja, o parágrafo contém, em dimensões reduzidas, uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Aliás, aqueles que ainda têm dificuldade em produzir os parágrafos do desenvolvimento devem usar essa estratégia, a fim de conseguir clareza, coerência e coesão textuais.

Parágrafo 3: Já no parágrafo seguinte, o candidato sinaliza que a referida lei ainda não conseguiu erradicar as mazelas produzidas pelo uso do álcool ao volante. Segundo ele, “... devido a uma resistência de alguns indivíduos que não aceitam as regras estabelecidas.”, apresentando, em seguida, as consequências dessa situação. E mais uma vez se utilizando da produção do Tópico Frasal.

Parágrafo 4: Construído em torno de uma proposta de intervenção, basicamente com a presença do “como”: intensificar a divulgação de propagandas midiáticas, aumentar a fiscalização das vias públicas e uso de táxis com a redução de custos possibilitados por subsídios governamentais. Uma proposta de intervenção apenas mediana para um texto que apresentou excelentes parágrafos na introdução e no desenvolvimento. No entanto, mesmo falhando na proposta o candidato volta a citar Hobbes e estabelece uma intertextualidade com a Bandeira Nacional, novamente, aqui, elevando o nível da produção textual.

Abraços Fraternos,

Prof. Paulo Jorge