quinta-feira, 21 de março de 2019

As Palavras Homófonas



Existe um grupo de palavras na Língua Portuguesa composto por vocábulos que são pronunciados pelos usuários da língua praticamente da mesma forma; no entanto, na modalidade escrita, esses vocábulos possuem duas, três ou até quatro grafias com significados diferentes. E o contrário pode, também, ocorrer, ou seja, existem palavras com a mesma grafia e com sons diferentes.

Na comunicação oral, o contexto social, no qual os interlocutores estão envolvidos, elimina qualquer possibilidade de incompreensão que, por acaso, venha ocorrer na interlocução, entretanto a utilização incorreta dessas palavras, na escrita, pode trazer sérios prejuízos ao produtor textual. A esse grupo de palavras chamamos de homonímia e paronímia.

A homonímia apresenta os seguintes tipos de vocábulo: homófonos, homógrafos e homônimos perfeitos.

Veja:


1) Homófonos: mesmo som, com grafias e sons diferentes.

– acender (pôr fogo) / ascender (elevar)
– acento (sinal gráfico) / assento (lugar)
– acidente (desastre) / incidente (episódio)
– apreçar (avaliar) / apressar (acelerar)
– caçar (perseguir) / cassar (anular)
– censo (pesquisa) / senso (juízo)
– cinto (substantivo) / sinto (verbo)
– conserto (correção) / concerto (peça musical)
– seção (divisão, departamento) / sessão (reunião, presença de pessoas) / cessão (entrega, doação)
– tacha (prego) / taxa (imposto)




2) Homógrafos: mesma grafia e sons diferentes. Os sentidos podem ou não permanecer.

Ex. O começo de nossos trabalhos está previsto para amanhã.
Eu começo o dia com atividades físicas moderadas.
Ex. A torre foi construída em local impróprio.
É preciso que você torre o café antes de levá-lo ao fogo.
Ex. É preciso esperar para colher.
Utilize uma colher para mexer o suco.

Você observou que no primeiro exemplo de cada tipo das homógrafas o som da sílaba tônica mostra-se fechado como se houvesse um acento circunflexo?! Já nos outros exemplos, o som é aberto.




3) Homônimos perfeitos: grafia e sons idênticos. Normalmente, os sentidos ficam alterados.

Ex. Eu cedo minha posição para você. (verbo)
Amanhã terei que acordar cedo. (advérbio)
Ex. O paciente já está são. (adjetivo)
Pernambuco e Sergipe são estados nordestinos. (verbo)
Ex. Lavou tão bem o terno que este ficou alvo. (adjetivo)
Bons salários é o alvo de todo trabalhador. (substantivo)

Na próxima semana, traremos exemplos de paronímias mais utilizadas na fala e na escrita dos brasileiros.

quarta-feira, 6 de março de 2019

À medida que & Na medida em que

 

Leia as frases, abaixo relacionadas, e diga se ambas estão corretas ou apenas uma delas:

a- Não temos nenhum programa a esconder, à medida que nossa atividade é absolutamente pública.

b- Não temos nenhum programa a esconder, na medida em que nossa atividade é absolutamente pública.

Você acertou se marcou apenas a segunda opção, pois a expressão à medida que dá a ideia de proporção:

Ex. À medida que as chuvas aumentam, as ruas e as avenidas ficam alagadas.
Desenvolvemos nossos conhecimentos, à medida que ampliamos nossas leituras.

Já a expressão na medida em que equivale a visto que, já que, uma vez que, ou seja, possui ideia de causa, que é o caso da segunda frase:

Ex. Não temos nenhum programa a esconder, visto que nossa atividade é absolutamente pública.
Já que você estará em casa neste final de semana, cuide das crianças.
Uma vez que não se interessa por Arte, desistiu do curso.

sexta-feira, 1 de março de 2019

Esdrúxulas



Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto

As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.

Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os artrópodes.

As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.

Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.

Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica!

Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito.

É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.

O inclinado e o íngreme.

O irregular e o áspero.

O grosso e o ríspido.

O brejo e o pântano.

O quieto e o tímido.

Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice.

Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice.

Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.

É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido.

Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.

Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.

(Este último parágrafo contém algo raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)

Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas.

É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.

O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido.

Da mesma forma, errar é humano. Épico mesmo é cometer um equívoco.

Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.

O que você não conhece é só desconhecido. O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma incógnita.

Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao âmago.

O desejo de ser uma proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais básicos têm o privilégio (efêmero) de pertencer a essa família – e são chamados de oxítonos e paroxítonos. Não é o cúmulo?


Eduardo Affonso é escritor e arquiteto.
Escreve no site https://www.jornaldacidadeonline.com.br/blogs/