Em 2014, o exame trouxe como Proposta de Redação o tema Publicidade infantil em questão no Brasil. Como textos de apoio, a proposta continha um texto jornalístico em que discute se a publicidade infantil deve ser proibida no Brasil, um infográfico sobre a publicidade para crianças no mundo e um texto sobre a criança como o consumidor do futuro.
Veja:
Veja, a seguir, um texto produzido com muita competência e, por isso, obteve a nota máxima.
(Sem título)
A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às crianças. No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma questão que envolve interesses diversos. Nesse contexto, o governo deve regulamentar a veiculação e o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às crianças, pois, do contrário, elas podem ser prejudicadas em sua formação, com prejuízos físicos, psicológicos e emocionais.
Em primeiro lugar, nota-se que as propagandas voltadas ao público mais jovem podem influir nos hábitos alimentares, podendo alterar, consequentemente, o desenvolvimento físico e a saúde das crianças. Os brindes que acompanham as refeições infantis ofertados pelas grandes redes de lanchonetes, por exemplo, aumentam o consumo de alimentos muito calóricos e prejudiciais à saúde pelas crianças, interessadas nos prêmios. Esse aumento da ingestão de alimentos pouco saudáveis pode acarretar o surgimento precoce de doenças como a obesidade.
Em segundo lugar, observa-se que a publicidade infantil é um estímulo ao consumismo desde a mais tenra idade. O consumo de brinquedos e aparelhos eletrônicos modifica os hábitos comportamentais de muitas crianças que, para conseguir acompanhar as novas brincadeiras dos colegas, pedem presentes cada vez mais caros aos pais. Quando esses não podem compra-los, as crianças podem ser vítimas de piadas maldosas por parte dos outros, podendo também ser excluídas de determinados círculos de amizade, o que prejudica o desenvolvimento emocional e psicológico dela.
Em decorrência disso, cabe ao Governo Federal e ao terceiro setor a tarefa de reverter esse quadro. O terceiro setor – composto por associações que buscam se organizar para conseguir melhorias na sociedade – deve conscientizar, por meio de palestras e grupos de discussão, os pais e os familiares das crianças para que discutam com elas a respeito do consumismo e dos males disso. Por fim, o Estado deve regular os conteúdos veiculados nas campanhas publicitárias, para que essas não tentem convencer pessoas que ainda não têm o senso crítico desenvolvido. Além disso, ele deve multar as empresas publicitárias que não respeitarem suas determinações. Com esses atos, a publicidade infantil deixará de ser tão prejudicial e as crianças brasileiras poderão crescer e se desenvolver de forma mais saudável.
Antônio Ivan Araújo, Ceará. http://g1.globo.com/educacao/enem/2015/
Análise
Parágrafo 1: Construção perfeita da Introdução, com o a apresentação do Tema: “A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às crianças.” e a Tese (Ponto de Vista) do produtor textual: “No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma questão que envolve interesses diversos.” E, também, já aparece uma Proposta de Intervenção: “... o governo deve regulamentar a veiculação e o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às crianças...”
Parágrafo 2: No Desenvolvimento, o candidato apresenta o primeiro argumento em “... as propagandas voltadas ao público mais jovem podem influir nos hábitos alimentares...”, em forma de Tópico Frasal. Ou seja, o parágrafo está estruturado em três períodos: no primeiro, o produtor textual apresenta o argumento como uma Introdução; no segundo, ele Desenvolve a ideia e, no terceiro, Conclui seu pensamento. Como aspecto negativo, a utilização do conectivo “Em primeiro lugar”, pois, aqui, denota obviedade.
Parágrafo 3: Com outro bom argumento – “... a publicidade infantil é um estímulo ao consumismo desde a mais tenra idade.”, o candidato recorre outra vez ao Tópico Frasal e o mesmo número de períodos. Uma técnica, digamos, meio nariz de cera, como costumam dizer os avaliadores de redações de concursos públicos, ou seja, algo que já vem pré-montado. No entanto, pode passar despercebido se houver uma ótima argumentação, como é o caso desta redação. Empobrecendo o texto, a ausência do acento agudo em “compra-los” e a presença da expressão “Em segundo lugar”. O que foi dito no parágrafo anterior, serve, também, para este conectivo.
Parágrafo 4: Proposta de Intervenção de excelente nível e ao gosto do ENEM: detalhada e contendo os agentes de intervenção: o que, quem e como. Com aspecto negativo, a ausência da vírgula após a palavra “prejudicial”, neste caso, obrigatória, pois separa orações contendo sujeitos diferentes.
Prof. Paulo Jorge