segunda-feira, 28 de março de 2022

Nas entrelinhas: Pressupostos & Subentendidos

 Nas Entrelinhas

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As relações humanas são mediadas pelo ato de comunicação que envolve seus interlocutores em um contexto social específico e em determinado tempo histórico. Nessas relações, as pessoas se utilizam de recursos oferecidos pela língua para se fazerem compreender, enriquecerem seus discursos, vencerem seus oponentes, compartilharem suas emoções.

 

O pressuposto e o subentendido estão entre esses recursos linguísticos e são dois dos mais utilizados em nossa comunicação diária.  O pressuposto é indiscutível tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois decorre da presença de uma palavra, expressão ou frase (ou oração) no enunciado, seja ele falado ou escrito. Veja:

 

Ex. As chuvas continuam a atormentar a vida dos habitantes de Salvador.
De repente, os alunos entenderam os assuntos meio ambiente e vida saudável.
O jovem que se esforça progride.

 

Observe que no primeiro exemplo, a palavra “continuam” enuncia que os habitantes de Salvador passam por um transtorno que já vem ocorrendo há certo tempo. No segundo, a expressão “De repente” afirma que o entendimento dos alunos sobre meio ambiente e vida saudável se deu de forma súbita. Já a oração “... que se esforça...” informa que apenas jovens com essa característica terão sucesso na vida.

 

 Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com...

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Já o subentendido é uma informação implícita, presente nas entrelinhas do texto, e precisa da participação do ouvinte ou do leitor para sua compreensão. No entanto, o autor do subentendido poderá ater-se ao sentido literal das palavras e negar que tinha tido a intenção de dizer aquilo que o ouvinte inferiu. Observe:

Ex. Fala do ex-presidente do Esporte Clube Vitória proferida alguns anos atrás em uma emissora de rádio de Salvador, Bahia: “O Vitória não é time refém de treinador.”

 

Ao enunciar que seu clube “não é refém de treinador”, o ex-presidente sugere que outro time é refém de treinador, uma vez que afirmação para essa negação é "Algum time é refém de treinador." Nesse caso, o ouvinte irá buscar, em seu repertório cultural, a resposta para a proposição. Chega, então, à conclusão que é o Esporte Clube Bahia o detentor de tamanha desventura, haja vista a rivalidade existente entre os dois clubes e não fazer sentido o sr. Paulo Carneiro (Foi ele!) se referir a outro clube de futebol.

 

Analisemos, agora, o texto sobre o lançamento de um CD, de Djavan, publicado no jornal A Tarde, em agosto de 2010: “Em última análise, o disco é um passeio emocional por um recorte específico e pessoal de suas memórias musicais. Imperdível. Para os fãs.”

 

O enunciado possui três períodos, e os dois últimos fazem despertar a atenção do leitor. Caso estivessem estruturados em um único período, a compreensão seria que os fãs se encantariam com o novo trabalho do cantor alagoano. E só, haja vista que a palavra "Imperdível" estaria diretamente ligada a "Para os fãs."  Mas, ao criar dois períodos para a informação final, o jornalista elimina a ligação com a frase final e emite um posicionamento desfavorável ao novo CD de Djavan.

 


Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

sexta-feira, 11 de março de 2022

A Ênfase Textual

 Os elementos que interferem na qualidade textual - PrePara ENEM

Compare as seguintes frases e eleja aquela que, na sua opinião, apresenta uma construção mais sonora e elegante, em nossa Língua Portuguesa:

a) Lênin desembarcou em 3 de abril de 1917, na estação Finlândia, em Petrogrado, retornando de trem do exílio.

b) Retornando de trem do exílio, Lênin desembarcou em 3 de abril de 1917, na estação Finlândia, em Petrogrado.

Fácil perceber, não?! A segunda opção está melhor estruturada, pois realça o valor da informação, conseguido pelo deslocamento dos termos sintáticos da frase, o que proporciona uma ênfase no período.

 

 Sob o céu literário: Elementos coesivos e coerentes na construção textual

 

Para se conseguir essa ênfase, geralmente, alguma circunstância - tempo, lugar, meio, fim - é anunciada em primeiro lugar, antecedendo o núcleo do pensamento.

No exemplo acima, esse núcleo ou ideia principal é "Lênin desembarcou em 3 de abril de 1917, na estação Finlândia.". A segunda forma é mais enfática que a primeira, porque, no primeiro enunciado, a ideia principal ficou entre duas circunstâncias; de tempo: "... retornando de trem do exílio." E de lugar: "... em Petrogrado.", empobrecendo, dessa forma, a construção frasal.

Obtém-se uma construção textual mais refinada, normalmente, colocando no início da frase os seguintes termos linguísticos. 

Veja:

1) Adjuntos adverbiais de tempo, lugar, modo, fim etc.
Ex. Em 19 de outubro de 2013, o Brasil celebrou o centenário de nascimento do poetinha Vinícius de Moraes.

2) Alguns tipos de orações subordinadas.
Ex. Embora não tenha muito que comemorar, o torcedor nordestino sempre frequenta os estádios de futebol.

3) Orações reduzidas de gerúndio, particípio ou infinitivo.
Ex. Fazendo festas, o brasileiro esquece os seus problemas.

Observe mais um exemplo de um enunciado com nível elementar:

Coerência textual: o que é, tipos, exemplos - Brasil Escola

O técnico reuniu os jogadores de seu time para anunciar que vai abandonar o cargo, antes de iniciar os treinamentos ontem de manhã, caso não consigam vencer a partida do próximo sábado.”

E, agora, enriquecido:

Antes de iniciar os treinamentos ontem de manhã, o técnico reuniu os jogadores de seu time para anunciar que vai abandonar o cargo, caso não consigam vencer a partida do próximo sábado.

Em "O ´Queísmo´Textual", postagem de 08/02/2022, refletimos sobre o que fazer para se atingir um bom nível no que se refere a produções textuais leves, sonoras e elegantes. Aquela reflexão fica valendo, também, para a conclusão desse texto.

Paulo Jorge

Professor Especialista em Língua Portuguesa