segunda-feira, 26 de abril de 2021

Dicas: A Clareza Textual

1 – Fique por dentro do tema: Para ficar preparado para discorrer sobre qualquer assunto, você deve manter-se informado; revistas, jornais impressos e conteúdos virtuais de fontes confiáveis são indispensáveis. O domínio sobre o tema influi diretamente na clareza da escrita.

2- Períodos longos X Períodos curtos: Para construir períodos curtos, pontue mais. Frases longas, cheias de períodos, tendem a confundir o leitor e até mesmo quem está escrevendo. A sequenciação lógica depende da organização sintática das frases, por isso, fique atento para não errar e assim prejudicar a coerência de seus argumentos.

3- Cuidado com a pontuação: Um texto que abre mão da boa pontuação fica vulnerável a diversos problemas textuais, entre eles a ambiguidade. A construção de sentidos de um texto depende dos sinais de pontuação, como vírgulas e pontos-finais. Sem eles o leitor certamente encontrará dificuldades para a compreensão.

4- Ordem direta X Inversões sintáticas: Nos textos não literários, prefira a ordem direta, cuja construção sintática obedece à regra sujeito + verbo + complemento. Ao privilegiar a ordem direta, você estará contribuindo para a clareza textual. Nos textos literários, inversões estão liberadas, já que nesse tipo de linguagem há um compromisso com aspectos estilísticos da escrita.

5- Evite abreviaturas e siglas: Recursos muito utilizados quando precisamos redigir de maneira dinâmica, as abreviaturas e as siglas devem ser evitadas na linguagem escrita, pois devemos considerar a possibilidade de que nem todos os leitores conheçam determinado termo em sua forma reduzida.

6- Subjetividade X objetividade: A subjetividade é um recurso expressivo da linguagem que deve ficar restrito aos textos literários. Subjetivismos geralmente revelam estados emocionais, característica que prejudica a objetividade e a clareza textual.

7- Uso do vocabulário: Usar termos obsoletos e obscuros prejudicam a clareza textual, principalmente quando empregados fora do contexto. Uma palavra fora do lugar já é o suficiente para confundir o leitor, portanto, escolha cuidadosamente cada palavra e evite aquelas cujo significado você não tenha muita certeza.

Luana Castro Alves Perez

Acesso em: 26 de abril de 2021, às 19h49

 

 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Redação ENEM 2020 / Nota 1.000

 

(sem título)

 

                 No filme estadunidense “Coringa”, o personagem principal, Arthur Fleck, sofre de um transtorno mental que o faz ter episódios de riso exagerado e descontrolado em público, motivo pelo qual é frequentemente atacado nas ruas. Em consonância com a realidade de Arthur, está a de muitos cidadãos, já que o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira ainda configura um desafio a ser sanado. Isso ocorre, seja pela negligência governamental nesse âmbito, seja pela discriminação dessa classe por parcela da população verde-amarela. Dessa maneira, é imperioso que essa chaga social seja resolvida, a fim de que o longa norte-americano se torne apenas uma ficção.

                 Nessa perspectiva, acerca da lógica referente aos transtornos da mente no espectro brasileiro, é válido retomar o aspecto supracitado quanto à omissão estatal nesse caso. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o país com maior número de casos de depressão da América Latina e, mesmo diante desse cenário alarmante, os tratamentos às doenças mentais, quando oferecidos, não são, na maioria das vezes, eficazes. Isso acontece pela falta de investimentos em centros especializados no cuidado para com essas condições. 

Consequentemente, muitos portadores, sobretudo aqueles de menor renda, não são devidamente tratados, contribuindo para sua progressiva marginalização perante o corpo social. Esse contexto de inoperância das esferas de poder exemplifica a teoria das Instituições Zumbis, do sociólogo Zygmunt Bauman, buque as descreve como presentes na sociedade, mas que não cumprem seu papel com eficácia. Desse modo, é imprescindível que, para a completa refutação da teoria do estudioso polonês, essa problemática seja revertida.

                Paralelamente ao descaso das esferas governamentais nessa questão, é fundamental o debate acerca da aversão ao grupo em pauta, uma vez que ambos representam impasses para a completa socialização dos portadores de transtornos mentais. Esse preconceito se dá pelos errôneos ideais de felicidade disseminados na sociedade como metas universais. Entretanto, essas concepções segregam os indivíduos entre os “fortes” e os “fracos”, em que os fracos, geralmente, integram a classe em discussão, dado que não atingem os objetivos estabelecidos, tal como a estabilidade emocional. Tal conjuntura segregacionista contrária o princípio do “Espaço Público”, da filósofa Hannah Arendt, que defende a total inclusão dos oprimidos — aqueles que possuem algum tipo de transtorno, nesse caso — na teia social. Dessa maneira, essa celeuma urge ser solucionada, para que o princípio da alemã se torne verdadeiro no país tupiniquim.

                  Portanto, são essenciais medidas operantes para a reversão do estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira. Para isso, compete ao Ministério da Saúde investir na melhora da qualidade dos tratamentos a essas doenças nos centros públicos especializados de cuidado, destinando mais medicamentos e contratando, por concursos, mais profissionais da área, como psiquiatras e enfermeiros. Isso deve ser feito por meio de recursos liberados pelo Tribunal de Contas da União — órgão que aprova e fiscaliza feitos públicos—, com o fito de potencializar o atendimento a esses pacientes e oferecê-los um tratamento eficaz. Ademais, palestras devem ser realizadas em espaços públicos sobre os malefícios das falsas concepções de prazer e da importância do acolhimento das pessoas doentes e vulneráveis. Assim, os ideais inalcançáveis não mais serão instrumentos segregadores e, finalmente, a situação de Fleck não mais representará a dos brasileiros.


 Júlia Sampaio
https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/
Acesso em: 15 de abril de 2021, às 14h59.



 

domingo, 28 de março de 2021

Salvador, Cidade-Texto

 

No dia 29 de março de2021, Salvador irá completar 472, cidade fundada, em 1549, por Tomé de Sousa, governador-geral do Brasil.

Na sua fundação, segundo o site https://www.calendarr.com/, recebeu o nome de São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Isso porque a primeira expedição exploratória chegou no dia 1º de novembro, dia de Todos dos Santos. Depois disso, por ocasião da sua fundação, o rei de Portugal mandou fazer uma homenagem a Jesus Cristo, de modo que ao nome se juntou São Salvador.

Além de primeira cidade do Brasil, foi em Salvador também onde se constituiu a primeira sede da administração colonial portuguesa do nosso país, assim considerada a primeira capital do Brasil até 1763, quando a mesma foi transferida para o Rio de Janeiro.

Conhecida principalmente pelo Carnaval e pela sua gastronomia com influência africana, Salvador comemora o seu aniversário com música e muitos eventos culturais variados, tal como feiras de arte e exposições.

O texto que você vai ler, a seguir, é uma belíssima homenagem à Roma Negra, epíteto cunhado por Mãe Aninha, fundadora do Ilê Axé Opó Afonjá.

Atenção especial à proposta de reflexão dos autores sobre a nossa cidade constante no último parágrafo do texto.

Salve, Salvador!

Cidade-texto

Sempre existiu uma íntima relação entre a literatura e a cidade. Na história, os dois fenômenos – escrita e cidade – ocorrem quase que simultaneamente. Por outro lado, é evidente o paralelismo que existe na possibilidade de empilhar tijolos / construir cidades e agrupar letras formando palavras para representar sons e ideias. Construir cidades significa também uma forma de escrita. Sempre presente nas indagações e nas angústias dos escritores, a cidade é sempre tessitura, trama da experiência literária. Seja a cidade natal, seja a cidade grande, sempre em torno da cidade o escritor, o artista, constroem sua vida pessoal e, consequentemente, sua obra literária. Sendo a cidade o cenário de nossa vida cotidiana, nós somos parte dela, da urbe – somos urbanos.

É na cidade e através da escrita que se registra a acumulação de conhecimentos. Na cidade-escrita, habitar ganha uma dimensão completamente nova, vez que se fixa em uma memória que, ao contrário da lembrança, não se dissipa com a morte. A cena escrita da cidade permanece. E não são somente os textos que a cidade produz e contém (documentos, registros, mapas, plantas baixas, inventários) que fixam essa memória. A própria arquitetura urbana escreve a história da cidade. O desenho das casas e das ruas, das praças e dos templos, além de contar a experiência daqueles que os construíram, revela o seu mundo. É por isso que as formas e tipologias arquitetônicas podem ser lidas e decifradas como se lê um texto. A arquitetura da cidade é, ao mesmo tempo, continente e registro da cultura urbana. É como se a cidade fosse um imenso alfabeto, com o qual se montam e desmontam palavras e frases. É precisamente essa dimensão que permite ser o próprio espaço da cidade o encarregado de contar sua história.

Tanto as manifestações culturais populares e eruditas quanto as igrejas, os monumentos, qualquer produto arquitetônico, as praças e jardins, o traçado das ruas e caminhos, os arquivos e museus, as obras de arte, os fazeres e as peculiaridades do comportamento social, a paisagem e os vestígios arqueológicos podem estar reunidos no cenário da cidade. Tudo isso constitui, na cidade, as suas referências, a sua memória e a sua identidade. A cidade é o espaço da história e da cultura. É na cidade que se produz a arte.

E é essa história, com o cenário de Salvador, o objeto de muitas obras literárias de Jorge Amado, dentre as quais a Bahia de Capitães da Areia, dos Pastores da Noite, de Tenda dos Milagres, da vida amorosa de Dona Flor e seus Dois Maridos e de A morte e a morte de Quincas Berro d’água. É tema também dos versos satíricos de Gregório de Matos e Guerra, que retratam a velha metrópole do século XVII.

Lugar de nossas lembranças e de nossas emoções, cidade do Terceiro Mundo, fundada há 450 anos, Salvador foi a primeira capital portuguesa da América, e o seu Centro Histórico o primeiro aglomerado urbano do Brasil. Seus símbolos e significados do passado se interceptam com os do presente, construindo uma rede de significados móveis. Em Salvador, o passado existe porque faz parte do presente.

É nesse presente, mais precisamente na década de 90, que Salvador passou por uma das mais vastas e profundas operações urbanísticas de que se têm notícias no mundo – a revitalização do seu Centro Histórico, em torno do Pelourinho. Será o novo Pelourinho um engano a desafiar nossa leitura do texto da cidade?

                                                                                                 Silva, M. A. da. & Pinheiro, D. J. F. 1999.