terça-feira, 25 de junho de 2019

Amor gramatical


 O belíssimo texto que você lerá, a seguir, não possui autoria reconhecida. Credita-se sua criação a uma aluna da UFPE - Universidade Federal de Pernambuco, em um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa. Desnecessário dizer que a autora foi aprovada; certamente, com louvor.


Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
                                                                                                                                    
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador para, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, sub-tônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.

Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-três. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

PS: Tela Amor, de Picasso

terça-feira, 4 de junho de 2019

Desvios Gramaticais Comuns




1 - "Mal cheiro", "mau-humorado". Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar.

2 - "Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.

3 - "Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais.

4 - "Existe" muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam idéias.

5 - Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.

sábado, 25 de maio de 2019

O Drama dos Refugiados


 

Acolhimento necessário

Não é mais possível à comunidade internacional fechar os olhos ao drama humanitário dos cidadãos obrigados a deixar seus lares, sem a eles poder retornar, em busca de segurança e vida digna em outros lugares. É preciso sensibilidade para se encarar um problema que tem gerado situações extremas e que atingem cada vez maiores dimensões.

Agora mesmo, em decorrência da passagem do Dia Mundial do Refugiado, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) divulgou relatório apontando que uma em cada 113 pessoas no mundo é refugiada, requerente de asilo ou deslocada interna – aquela forçada a fugir de casa, mas que permanece em seu país de origem.

O número de obrigados a abandonar suas casas já chega a 65,3 milhões, quantidade equivalente à população do Reino Unido ou da França. O mais grave: metade delas é de crianças. É a primeira vez na história humana que o patamar de 60 milhões foi ultrapassado.

São pessoas tentando escapar de guerras, de opressão política, detenções arbitrárias, perseguições religiosas ou simplesmente de vidas difíceis em países pobres e afetados pela pobreza. Em desespero, muitas acabam recorrendo a traficantes de gente para transpor fronteiras internacionais, em viagens perigosas e freqüentemente mortíferas.

Fechar fronteiras aos migrantes não é solução para um problema humanitário de tamanha proporção. Até aqui a comunidade global vem gerindo mal o inevitável movimento massivo de pessoas em um mundo assolado por conflitos cada vez mais freqüentes e marcado por grandes disparidades econômicas.

É preciso buscar novos acordos mundiais para proteger os direitos dos refugiados e dos migrantes. Como bem disse Filippo Grandi, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, tem de haver uma solução partilhada para um problema partilhado, sendo a cooperação internacional o único caminho possível para se acabar com a rejeição a pessoas que estão em perigo.               

Jornal A TARDE. Editorial. 25/06/2017

quinta-feira, 9 de maio de 2019

A Grafia das Horas




Em sua opinião, quais enunciados, abaixo, estão grafados corretamente?

Ex. I

A diretoria e os funcionários se reuniram entre 10h30 e 12h30.
Creio que 5h eles já estarão em Salvador.

Ex. II

A diretoria e os funcionários se reuniram entre às 10h30 e às 12h30.
Creio que às 17h eles já estarão em Salvador.


Você acertou se optasse pelas frases constantes no segundo exemplo, pois o uso do artigo definido antes de horário é obrigatório, seja em hora cheia – sem minutos e segundos, seja em hora quebrada – com minutos e segundos.

E, aproveitando o tema, observe as abreviaturas das palavras que marcam o tempo:

Hora / Horas – h (Nunca use “hs” ou “hrs”.)
Minuto / Minutos – min (“m” é a abreviatura de metro.)
Segundo / Segundos – s (Nunca use “seg”.)

quarta-feira, 24 de abril de 2019

As Orações Coordenadas


A frase constante na tirinha traz três orações estruturadas de forma coordenada.  A primeira, por se apresentar sem ligação, é uma oração coordenada assindética (sem síndeto, conectivo, conjunção): "A preguiça é a mãe de todos os vícios." Já as duas outras, apresentam conectivos de ligação.

Veja:

 "Mas uma mãe é uma mãe..." e “... e é preciso respeitá-la, pronto."

A primeira é uma oração coordenada sindética adversativa, porque traz a conjunção mas; e a segunda, pela presença da conjunção e, uma sindética aditiva.


É o período formado por orações independentes que se coordenam em uma sequencia e cada uma possui um significado integral. 

Dividem-se em:

1) Assindéticas: são aquelas que se apresentam ligadas a outras orações apenas por sinais de pontuação, sem o auxílio de conjunções coordenativas.
Ex. Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Alguns reclamam, um ou outro protesta, ninguém reivindica.

2) Sindéticas: são orações ligadas a outras com o auxílio de conjunções coordenativas.
Ex. O pescador prepara a isca e lança a linha na água.

Classificação

a- Aditivas: e, nem, mas também.
Ex. Não quero festas nem desejo despedidas.
Ela levantou a cabeça e fitou-me.

b- Adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante.
Ex. Estava velho, porém mantinha a dignidade.
Era um homem gentil, entretanto não agiu corretamente.

c- Alternativas: ou, ou...ou, ora...ora, já...já, quer...quer.
Ex. Ajude-o ou esqueça-o.
Ou se tem chuva, ou se tem sol.
(Obs.: Nesse caso, as duas orações são sindéticas alternativas.)

d- Conclusivas: portanto, assim, por conseguinte, de modo que, em vista disso, logo, por isso, pois (após o verbo)
Ex. Tudo está em ordem, portanto não se preocupe.
A garota demonstrou talento; será, pois, efetivada no cargo.

e- Explicativas: que, porque, pois (antes do verbo).
Ex. Não venha agora, pois chove bastante aqui.
Dirija devagar que o local é perto.