sábado, 16 de abril de 2022

Como escrever com coerência

 Redação: veja como fazer um texto nota 10

1) Manter a ordem cronológica: não se deve relatar antes o que ocorre depois, a não ser que se pretenda criar um clima de suspense ou tensão (mas nunca esquecendo que, no final, a tensão deve ser resolvida).

2) Seguir uma ordem descritiva: isto é, seguir a ordem em que a cena, o objeto, o fato são observados – dos detalhes mais próximos para os mais distantes, ou vice-versa; de dentro para fora; da direita para a esquerda etc.

3) Uma informação nova deve se ligar a outra, já enunciada: à medida que o texto avança, as novas ideias devem se relacionar às antigas, de maneira que todas permaneçam interligadas.

4) Evitar repetições: uma ideia já enunciada pode ser repetida - e, em alguns casos, é imprescindível que isso ocorra -, mas desde que acrescentemos uma informação nova ao raciocínio, um novo elemento, capaz de aclarar ainda mais o assunto de que estamos tratando. Ou seja, devemos evitar redundâncias: à medida que escrevemos, o texto se amplia graças à agregação de novas ideias, e não porque insistimos no que já foi tratado ou usamos um excesso de palavras.

5) Não se contradizer: uma tese exposta e defendida no início não pode ser atacada no final do texto. Se o objetivo do autor é discutir sobre diferentes argumentações em torno de um mesmo tema, deve deixar claro quem defende qual ideia. Nesses casos, todo cuidado é pouco: a contradição não deve ser assumida pelo autor, mas, sim, surgir da diversidade de opiniões.

6) Não escamotear a realidade: um dado concreto, real, só pode ser contestado com base em investigações científicas. Um fato de conhecimento público pode ter novas versões, mas com base em depoimentos fidedignos. Encobrir a realidade com rodeios ou subterfúgios, apenas para dar maior veracidade a uma ideia, acaba sempre comprometendo a qualidade do texto - e, às vezes, abalando a reputação do autor.

7) Evitar generalizações: afirmar, de forma infundada ou não, que algo é verdadeiro em grande parte das situações, ou para a maioria das pessoas, demonstra falta de argumentos ou preconceito do autor.

8) Utilizar os recursos de coesão textual

                                           Comunicação em Prosa Moderna, Othon M. Garcia,
                   14 edição. Fundação Getúlio Vargas.     

 

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

 


 

 

segunda-feira, 28 de março de 2022

Nas entrelinhas: Pressupostos & Subentendidos

 Nas Entrelinhas

http://ligiarosso.blogspot.com

 

As relações humanas são mediadas pelo ato de comunicação que envolve seus interlocutores em um contexto social específico e em determinado tempo histórico. Nessas relações, as pessoas se utilizam de recursos oferecidos pela língua para se fazerem compreender, enriquecerem seus discursos, vencerem seus oponentes, compartilharem suas emoções.

 

O pressuposto e o subentendido estão entre esses recursos linguísticos e são dois dos mais utilizados em nossa comunicação diária.  O pressuposto é indiscutível tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois decorre da presença de uma palavra, expressão ou frase (ou oração) no enunciado, seja ele falado ou escrito. Veja:

 

Ex. As chuvas continuam a atormentar a vida dos habitantes de Salvador.
De repente, os alunos entenderam os assuntos meio ambiente e vida saudável.
O jovem que se esforça progride.

 

Observe que no primeiro exemplo, a palavra “continuam” enuncia que os habitantes de Salvador passam por um transtorno que já vem ocorrendo há certo tempo. No segundo, a expressão “De repente” afirma que o entendimento dos alunos sobre meio ambiente e vida saudável se deu de forma súbita. Já a oração “... que se esforça...” informa que apenas jovens com essa característica terão sucesso na vida.

 

 Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com...

 https://kdfrases.com

 

Já o subentendido é uma informação implícita, presente nas entrelinhas do texto, e precisa da participação do ouvinte ou do leitor para sua compreensão. No entanto, o autor do subentendido poderá ater-se ao sentido literal das palavras e negar que tinha tido a intenção de dizer aquilo que o ouvinte inferiu. Observe:

Ex. Fala do ex-presidente do Esporte Clube Vitória proferida alguns anos atrás em uma emissora de rádio de Salvador, Bahia: “O Vitória não é time refém de treinador.”

 

Ao enunciar que seu clube “não é refém de treinador”, o ex-presidente sugere que outro time é refém de treinador, uma vez que afirmação para essa negação é "Algum time é refém de treinador." Nesse caso, o ouvinte irá buscar, em seu repertório cultural, a resposta para a proposição. Chega, então, à conclusão que é o Esporte Clube Bahia o detentor de tamanha desventura, haja vista a rivalidade existente entre os dois clubes e não fazer sentido o sr. Paulo Carneiro (Foi ele!) se referir a outro clube de futebol.

 

Analisemos, agora, o texto sobre o lançamento de um CD, de Djavan, publicado no jornal A Tarde, em agosto de 2010: “Em última análise, o disco é um passeio emocional por um recorte específico e pessoal de suas memórias musicais. Imperdível. Para os fãs.”

 

O enunciado possui três períodos, e os dois últimos fazem despertar a atenção do leitor. Caso estivessem estruturados em um único período, a compreensão seria que os fãs se encantariam com o novo trabalho do cantor alagoano. E só, haja vista que a palavra "Imperdível" estaria diretamente ligada a "Para os fãs."  Mas, ao criar dois períodos para a informação final, o jornalista elimina a ligação com a frase final e emite um posicionamento desfavorável ao novo CD de Djavan.

 


Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa