sexta-feira, 23 de setembro de 2016




Partido de programa
                                                                                      
SÃO PAULO - O PMDB resolveu pensar. Eis aí uma notícia: o partido que se confunde com a política do pragmatismo cego está disposto a apresentar sua visão sobre o futuro do Brasil. A legenda que virou sinônimo de oportunismo e fisiologia no país teria percebido agora que lhe falta um lastro (ou lustro) doutrinário. Ora, o PMDB não precisa de um programa de governo, mas de um manual de conduta.

Ainda assim, Michel Temer encomendou ao partido um texto que não seja de "extremos", e sim "moderado para o Brasil". É até divertido o contraste entre uma prática tão voraz e a retórica da "moderação". Além disso, a ideia de que o aliado servirá de freio a eventuais radicalismos do PT na formulação do governo Dilma Rousseff soa apenas como manobra diversionista para desviar das reais motivações de uma aliança que Ciro Gomes batizou de "roçado de escândalos".

A escassez de ideias, de bandeiras e de lideranças não é, no caso do PMDB, um problema, mas a condição para que ele seja o que é.

Como o partido, à medida que engordou, perdeu sua massa crítica (e encefálica), teve que recorrer a um serviço de "sábios delivery" para pensar o país. E nada sintetiza melhor o fundo farsesco desse esforço programático do que a presença de Roberto Mangabeira Unger entre os neopeemedebistas pensantes.

Mangabeira – diga-se logo – é um intelectual de grande envergadura, criado no ambiente da esquerda liberal norte-americana. Mas suas ideias, embora originais, foram sendo tragadas pelo ridículo de suas incursões desastradas na vida política – uma mistura de voluntarismo ingênuo com oportunismo feroz.

Mangabeira já foi brizolista, já apoiou Ciro à Presidência, já se lançou por um partido nanico ao Planalto, já disse que o governo Lula era o mais corrupto da história e já foi, depois disso, ministro de Lula. Com essa trajetória, faz sentido que esse Professor Pardal itinerante e sempre disposto a salvar o Brasil esteja agora a serviço do PMDB.

Fernando de Barros e Silva, Folha de S. Paulo. 24 de março de 2010.

Charge retirada de: www.simancablog.blogspot.com.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

  QUEM NÃO TEM EMAIL, XIMBA!

Aí galera, Esse email é de Claudinei, mas aqui é Jonilso que está falando.

É porque eu não tenho email, aí ele me liberou para escrever no dele. E eu quero falar é sobre isso mesmo: email. O problema é o seguinte: outro dia eu estava procurando um serviço no jornal aí eu vi lá uma vaga na loja de computador. Aí eu fui lá ver o que era mesmo. Botei uma roupa bonita que eu tenho, joguei meu sapato chique e fui lá. Aí eu cheguei lá, fiz a ficha que a mulher me deu e fiquei lá esperando. Moreno de gravata e etc., eu só "nada... estou com medo nada!". Aí, eu estou lá sentado, para, aí a mulher me chama para entrevista, lá na sala dela. Ela é muito boa! Entrei na sala dela, sentei, para, aí ela começou: a mulher perguntou coisa como o que eu não sabia responder, se eu sabia fazer alguma coisa sobre isso e eu só "sim senhora, que eu já trabalhei nisso e naquilo", jogando 171 na mulher e ela comendo legal!

Aí ela parou assim, olhou pra ficha e mim perguntou mesmo assim: "você mora aí, é?", aí eu disse "é". Só que eu não sou menino, botei o endereço de um amigo meu e o telefone, que eu já tinha dado a idéia pra ele que se ela ligasse para ele, ele dizia que eu sou irmão dele e que eu tinha saído, para ela deixar recado, que aí era o tempo dele ligar para o orelhão do bar lá da rua e falar comigo ou deixar o recado que a galera lá dá. Eu não vou dá meu endereço que eu moro em um lugar longe! Aí a mulher vai pensar o quê? Vai pensar que eu sou vagabundo também, não é pai... Nada! Aí, estava. A mulher só perguntando e eu jogando um "h" na mulher, e ela gostando ... se abrindo toda... mulher boa é essa! Aí ela mim disse mesmo assim: "olhe, mim dê seu email que aí quando for para lhe chamar... - a mulher já iria me chamar já - ... quando for para lhe chamar, eu lhe mando um email". Aí eu digo "e agora?O que eu faço". Aí eu disse a ela mesmo assim "olhe, eu vou lhe dar o email de um vizinho meu para a senhora, que ele tem computador, aí ele mim avisa". Mentira, que o rapaz mora muito longe e o computador e é lá do trabalho dele, aí ele iria ter que mim avisar pelo telefone lá da rua.

 Aí, depois quando eu disse isso, a mulher empenou. Sem mentira nenhuma, ela me disse mesmo assim: "aí, não! como é que você quer trabalhar na loja de computador e não tem email?". Aí ela bateu no meu ombro assim e disse "Olhe, hoje em dia, quem não tem email ximba!". Falou mesmo assim, a mulher! Mas aí, eu ia fazer o que, não tinha saída?

Aí uns dias depois eu acabei conseguindo um serviço de ajudante de pedreiro: pegava muito no batente! Eu pego 7 horas da manhã e leva direto, de 7 a 7 horas, aí meio dia para, para almoçar, comida fria por demais, e acabou o almoço não descansa não, volta para o serviço. É, muito trabalhoso... é muito mesmo. É por isso que eu digo, é como a mulher disse: "quem não tem email ximba, rapaz!". É isso aí. Os rapazes que não receberam esse email vão ximbar, mesmo, dando muito trabalho, quando chegar o fim do mês, receber muito pouco. Agora para você que recebeu esse email, eu vou lhe dá a idéia, vá lá na loja que ainda tem a vaga! Já fui!

Esse email é de Claudinei, mas aqui é Jonilso que está falando.

Valeu!

Jonilso
http://vidadeumagarotaamiga.blogspot.com.br

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

10 erros imperdoáveis no Enem


Saber o que é imprescindível estudar é fundamental para maximizar a pontuação

A 10 semanas do vestibular mais importante do país (o Enem), o mergulho nos estudos deve ser intenso e contínuo. E saber o que é imprescindível estudar é fundamental para maximizar a pontuação e ajudar a organizar a rotina de estudos.

O gerente pedagógico e professor de português do Descomplica (plataforma de ensino online)  Eduardo Valladares, enumera 10 erros, que podem impedir ou dificultar a obtenção de uma vaga nos vestibulares mais disputados do país, além do Enem.

1) A (preposição, tempo futuro, distância) em lugar de (tempo decorrido ou sentido de existir)

Correto:

--  Não o vejo há muitos anos
--  Há meninas brincando no jardim
-- O colégio fica a três quadras daqui
--  Daqui a alguns anos, iremos nos reencontrar

2)  Haver (sentido de existir) em lugar de A ver (ter relação com)

Correto:

--  Esse vestido não tem nada a ver com meu estilo
--  Deve haver uma forma de solucionarmos este problema.

3) À medida que (proporção) em lugar de Na medida em que (locução causal):

Correto:

-- À medida que caminhávamos, mais ficávamos cansados
--  Perdi dois quilos em uma semana, na medida em que fiz uma reeducação alimentar

4) Não separar o sujeito do predicado por vírgulas é um erro grave.

5) A crase não deve ser usada antes de palavras no masculino, verbos no infinitivo ou pronomes.

6) Começar uma conclusão com as expressões “para concluir”, “concluindo”.

7) Fazer referências ao próprio texto ao longo da escrita.

8) Não esquecer a preposição em casos obrigatórios de regência verbal.

9) Errar a concordância utilizada pela norma culta.

10) Trocar os valores empregados pelas conjunções.

Foto: Andibreit/Pixabay/Creative Commons
 http://www.tribunadabahia.com.br/2016/09/08/10-erros-imperdoaveis-no-enem

sábado, 3 de setembro de 2016



Carta a um jovem poeta

Rainer Maria Rilke
 
Paris, 17 de fevereiro de 1903.

Prezadíssimo Senhor,

Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizívies quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, — seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.

Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema Minha alma. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema A Leopardi talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente. Também, meu prezado Senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o Senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.

Mas talvez se dê o caso de, após essa decida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o Senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de sua consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.

Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.

Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Horacek; guardo por este amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste meu sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.

Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.

Com todo o devotamento e toda a simpatia,