A dissertação-argumentativa é
um gênero textual da esfera escolar que tem como um de seus objetivos expor
uma tese (ponto de vista) acerca de um
determinado tema (sugerido na proposta de
redação), baseada em argumentos e estratégias argumentativas sólidas e
consistentes, alicerçadas nas mais diversas áreas do conhecimento.
Este
primeiro objetivo – que não é nada fácil de ser alcançado, aliás – mira um
propósito ainda maior (que é o mesmo que o deste e de tantos outros textos):
convencer o leitor de que a tese ali
exposta é correta e adequada para aquele contexto.
No fundo, o
maior objetivo de uma dissertação-argumentativa é, por meio de um texto
organizado, coerente e coeso – tanto estruturalmente quanto ideologicamente –
convencer o leitor de que aquelas ideias são verdadeiras e devem ser tidas como
corretas ou adequadas para aquela abordagem de determinado tema.
Nesse
sentido, a dissertação-argumentativa bem escrita é um exemplo da arte do
convencer o outro. Não é à toa que o autor desse gênero, em vários manuais de
redação, é nomeado como “voz da razão e da verdade” e, por isso, o foco está
nas ideias apresentadas e não no autor e, consequentemente, o texto deve ser
escrito de maneira impessoal, sem estabelecer diálogo entre autor e leitor.
É como se o
autor fosse uma voz “divina”, professando verdades, e o leitor fosse um ser
totalmente passivo, um sujeito “assujeitado”, sem pensamentos, sentimentos… sem
opinião própria. Ou seja, uma mentira.
Um leitor
passivo, sem autonomia, sem senso crítico e sem opinião própria só existe nos
manuais de redação para vestibulares e concursos públicos. Como dissemos no
texto da semana passada (leia aqui),
todos nós pensamos algo sobre tudo o que nos cerca e não somos neutros como
podemos até imaginar. Nesse sentido, o convencimento é uma
verdadeira arte.
Num mundo
lotado de informações, no qual todos os dados e fatos circulam numa rapidez
tremenda, como convencer as pessoas acerca de um ponto de vista? Com argumentos
sólidos e consistentes, amparados no conhecimento acadêmico e científico e que
saiam do senso comum, esta entidade que nos ronda a todo o momento, principalmente
na internet, muitas vezes disfarçada de fake news que os
corroboram porque é o que o povo quer ouvir e ler. A voz do povo é a voz da
razão? Se ela for guiada pelo senso comum e por mentiras, não.
Neste exato
momento quero convencê-los de que meus argumentos são corretos. Neste mesmo
instante você pode estar pensando em quais argumentos escreverá no comentário
desse texto para convencer aos outros e a mim de que você está certo. O
vendedor quer te convencer de que a roupa ficou boa para ter a comissão. O
psicólogo quer te mostrar o quão responsável você é por tudo o que ocorre na
sua vida. O professor quer te convencer a estudar e assim vai…
Isto é:
todos nós queremos convencer a todos os outros acerca de alguma coisa, seja ela
qual for. Sempre conseguiremos? Não, de maneira nenhuma e está tudo bem. Haverá
debates? Sim e isso é maravilhoso! É no debate que suscitamos
novas ideias, novos argumentos, que podemos, inclusive, mudar de opinião e não
ter aquela velha opinião formada sobre tudo (senso comum) e ser um pouco da
metamorfose ambulante de Raul Seixas.
O importante
é debater, mesmo que discordando, com respeito, educação e empatia, se
colocando no lugar do outro e não disseminando discurso de ódio e, assim,
desrespeitando os direitos humanos, não só na redação do Enem.
Pensem nisso
na hora de escrever a redação do Enem ou de qualquer outra prova, no almoço em
família, no churrasco com os amigos e na ceia de Natal deste ano.
Acesso em: 10 de dezembro de 2018, às 23h01
Maravilha de texto
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