A proposta de Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM / 2011 solicitava a leitura dos textos motivadores "Liberdade sem fio", da edição no. 240, da revista "Galileu", de julho de 2011, "A internet tem ouvidos e memória", retirado do portal www.terra.com.br, em 30 de junho de 2011, e a seguinte tirinha do cartunista André Dahmer, da série "Quadrinhos dos anos 10":
E a partir da leitura desses três textos, o candidato deveria produzir um texto dissertativo-argumentativo, utilizando a variante padrão da língua, sobre o seguinte tema: "Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado".
Vejamos, agora, uma redação sobre esse tema considerada de excelente nível.
Redes sociais: o uso exige cautela
Uma característica inerente às sociedades humanas é sempre buscar novas maneiras de se comunicar: cartas, telegramas e telefonemas são apenas alguns dos vários exemplos de meios comunicativos que o homem desenvolveu com base nessa perspectiva. E, atualmente, o mais recente e talvez o mais fascinante desses meios, são as redes virtuais, consagradas pelo uso, que se tornam cada vez mais comuns.
Orkut, Twiter e Facebook são alguns exemplos das redes sociais (virtuais) mais acessadas do mundo e, convenhamos, a popularidade das mesmas se tornou tamanha que não ter uma página nessas redes é praticamente como não estar integrado ao atual mundo globalizado. Através desse novo meio as pessoas fazem amizades pelo mundo inteiro, compartilham ideias e opiniões, organizam movimentos, como os que derrubaram governos autoritários no mundo árabe e, literalmente, se mostram para a sociedade. Nesse momento é que nos convém cautela e reflexão para saber até que ponto se expor nas redes sociais representa uma vantagem.
Não saber os limites da nossa exposição nas redes virtuais pode nos custar caro e colocar em risco a integridade da nossa imagem perante a sociedade. Afinal, a partir do momento em que colocamos informações na rede, foge do nosso controle a consciência das dimensões de até onde elas podem chegar. Sendo assim, apresentar informações pessoais em tais redes pode nos tornar um tanto quanto vulneráveis moralmente.
Percebemos, portanto, que o novo fenômeno das redes sociais se revela como uma eficiente e inovadora ferramenta de comunicação da sociedade, mas que traz seus riscos e revela sua faceta perversa àqueles que não bem distinguem os limites entre as esferas públicas e privadas “jogando” na rede informações que podem prejudicar sua própria reputação e se tornar objeto para denegrir a imagem de outros, o que, sem dúvidas, é um grande problema.
Dado isso, é essencial que nessa nova era do mundo virtual, os usuários da rede tenham plena consciência de que tornar pública determinadas informações requer cuidado e, acima de tudo, bom senso, para que nem a própria imagem, nem a do próximo possa ser prejudicada. Isso poderia ser feito pelos próprios governos de cada país, e pelas próprias comunidades virtuais através das redes sociais, afinal, se essas revelaram sua eficiência e sucesso como objeto da comunicação, serão, certamente, o melhor meio para alertar os usuários a respeito dos riscos de seu uso e os cuidados necessários para tal.
Análise da Redação
Parágrafo 1: Construído com dois períodos, o parágrafo introdutório traz a apresentação do tema e deixa subentendido a tese do autor ao se referir à importância das redes sociais para a comunicação humana na vida moderna. Antes, o produtor textual se utiliza de sua bagagem cultural e relaciona algumas “maneiras” que o homem criou para colocar em prática essa comunicação, ou seja, “cartas, telegramas e telefonemas”, aparecendo, implicitamente, o seu ponto de vista sobre o tema.
Parágrafo 2: Elaborando um perfeito Tópico Frasal, o candidato inicia o primeiro parágrafo do Desenvolvimento citando alguns exemplos de redes sociais para, em seguida, fazer a apresentação seu primeiro argumento: “... não ter uma página nessas redes é praticamente como não estar integrado ao atual mundo globalizado.” Em seguida, ele desenvolve o argumento: “... as pessoas fazem amizades pelo mundo inteiro, compartilham ideias e opiniões, organizam movimentos, como os que derrubaram governos autoritários no mundo árabe e, literalmente, se mostram para a sociedade.” No último período, existe uma sinalização para os aspectos negativos que serão tratados no próximo parágrafo.
Parágrafo 3: Em outro bem elaborado Tópico Frasal, o produtor cita um novo argumento, que é a extrapolação dos limites de exposição do usuário, desenvolve-o ao dizer que as informações publicadas fogem ao nosso controle e conclui refletindo sobre o perigo de ficarmos vulneráveis moralmente a essa situação.
Parágrafo 4: Ocorre o término da argumentação, quando o candidato cita os dois aspectos fundamentais na discussão do uso das redes sociais, ou seja, o fato de elas serem eficientes e inovadoras e, ao mesmo tempo, representarem um perigo à imagem das pessoas e as consequências advindas dessa exposição excessiva.
Parágrafo 5: Na Conclusão, aparece uma sugestão para resolução do problema em “... é essencial que nessa nova era do mundo virtual, os usuários da rede tenham plena consciência de que tornar pública determinadas informações requer cuidado e, acima de tudo, bom senso...”. Em outros concursos e exames que exigem uma produção textual, bastaria esse posicionamento do candidato. Mas, no ENEM, é imprescindível a apresentação de uma Proposta de Intervenção, e ela aparece em “Isso poderia ser feito pelos próprios governos de cada país, e pelas próprias comunidades virtuais através das redes sociais.”
Sem dúvida, uma produção textual que revela muita competência do candidato. Necessário ressaltar que a Variante Padrão da Língua Portuguesa foi utilizada adequadamente, ocorrendo falhas, apenas, na ausência de vírgulas, no segundo período, do primeiro parágrafo, após a palavra "recente", e no último período, do segundo parágrafo, depois da palavra "momento". E não deveria existir, no último período, do último parágrafo, após a palavra "país". No entanto, esses desvios não impedem o recebimento de uma pontuação elevada para o candidato.
Análise: Prof. Paulo Jorge
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