quarta-feira, 13 de julho de 2016


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A Ironia

Ironia é, segundo definição do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, um “modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo...”

Este recurso pode ser empregado em qualquer tipo de texto: carta, editorial, relato de entrevista, história em quadrinhos, roteiro de filme, propaganda, descrição de ambiente dentre outros. Nesta postagem, veremos uma carta-argumentativa. E como exercício, tente descobrir quem é o destinatário da carta do jornalista Clóvis Rossi.

Veja, a seguir, um bom exemplo de um texto elaborado com o recurso da ironia.

Ótima Leitura!

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Petição ao presidente
                                                                                                                                       Clóvis Rossi

São Paulo – Caríssimo presidente, é com enorme constrangimento que lhe escrevo esta carta, a pedido de minha filha. Ela se entusiasmou com a informação de que o seu governo prepara-se para dar socorro financeiro a alguns bancos (sem falar na redução de impostos) e passou a achar que tem o mesmo direito.
      Alega que acabou de nascer seu segundo filho e que as despesas inevitáveis vão deixá-la “na maior dureza”. Tentei argumentar que esse linguajar é inadequado. Se ela ao menos dissesse que está passando por “uma crise de liquidez”, como certos bancos, seria mais facilmente entendida. Mas não adianta, presidente. O linguajar da moçada de hoje é esse mesmo.
      Também procurei demonstrar que o pedido dela é injusto. Afinal, ela é professora, profissão que, no Brasil, como o senhor sabe, goza de salários elevadíssimos e privilégios sem conta.
      Já os bancos, coitados, estão sofrendo muito. Só os nove maiores grupos privados tiveram, em 1993, um lucro líquido de apenas US$ 1 bilhão. Como conseguem fazer para sobreviver é algo que não entendo.
      Mas minha filha definitivamente não tem a mesma consciência social e argumentou: “Se os bancos podem, eu também posso. Afinal, a lei é igual para todos”.
      Não sei onde ela aprendeu conceitos tão subversivos, meu Deus. Deve ter sido algum professor de esquerda, desses empenhados em destruir os pilares da organização social e política brasileira.
      Só falta agora essa menina pretender passar pela alfândega sem revisão de bagagem de praxe, justo no seu governo, presidente, que, nesse ponto, é da maior inflexibilidade, não é?
      Por mais que argumentasse, não consegui demovê-la. Por isso, estou sendo obrigado a enviar-lhe esta carta. Só o faço porque tenho certeza de que o senhor está em posição de me entender. Sabe, melhor do que ninguém, que coração de pai é como o seu governo em relação aos bancos: absolutamente incapaz de resistir ao menor pranto.
      Certo de sua compreensão, aguardo um socorro tão rápido quanto o que está para ser concedido aos bancos.
                                                                                                           (Folha de S. Paulo, 29/7/94)

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