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A Ironia
Ironia é, segundo definição do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, um “modo de exprimir-se que consiste em dizer o
contrário daquilo que se está pensando ou sentindo...”
Este recurso pode ser empregado em
qualquer tipo de texto: carta, editorial, relato de entrevista, história em
quadrinhos, roteiro de filme, propaganda, descrição de ambiente dentre outros. Nesta postagem, veremos uma carta-argumentativa. E como exercício, tente descobrir quem é o destinatário da carta do jornalista Clóvis Rossi.
Veja, a seguir, um bom exemplo de um texto elaborado
com o recurso da ironia.
Ótima Leitura!
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Petição ao presidente
Clóvis Rossi
São Paulo – Caríssimo presidente, é com enorme
constrangimento que lhe escrevo esta carta, a pedido de minha filha. Ela se
entusiasmou com a informação de que o seu governo prepara-se para dar socorro
financeiro a alguns bancos (sem falar na redução de impostos) e passou a achar
que tem o mesmo direito.
Alega que acabou de nascer
seu segundo filho e que as despesas inevitáveis vão deixá-la “na maior dureza”.
Tentei argumentar que esse linguajar é inadequado. Se ela ao menos dissesse que
está passando por “uma crise de liquidez”, como certos bancos, seria mais facilmente
entendida. Mas não adianta, presidente. O linguajar da moçada de hoje é esse
mesmo.
Também procurei demonstrar
que o pedido dela é injusto. Afinal, ela é professora, profissão que, no
Brasil, como o senhor sabe, goza de salários elevadíssimos e privilégios sem
conta.
Já os bancos, coitados,
estão sofrendo muito. Só os nove maiores grupos privados tiveram, em 1993, um
lucro líquido de apenas US$ 1 bilhão. Como conseguem fazer para sobreviver é
algo que não entendo.
Mas minha filha
definitivamente não tem a mesma consciência social e argumentou: “Se os bancos
podem, eu também posso. Afinal, a lei é igual para todos”.
Não sei onde ela aprendeu
conceitos tão subversivos, meu Deus. Deve ter sido algum professor de esquerda,
desses empenhados em destruir os pilares da organização social e política
brasileira.
Só falta agora essa menina
pretender passar pela alfândega sem revisão de bagagem de praxe, justo no seu
governo, presidente, que, nesse ponto, é da maior inflexibilidade, não é?
Por mais que argumentasse,
não consegui demovê-la. Por isso, estou sendo obrigado a enviar-lhe esta carta.
Só o faço porque tenho certeza de que o senhor está em posição de me entender.
Sabe, melhor do que ninguém, que coração de pai é como o seu governo em relação
aos bancos: absolutamente incapaz de resistir ao menor pranto.
Certo de sua compreensão,
aguardo um socorro tão rápido quanto o que está para ser concedido aos bancos.
(Folha de S. Paulo, 29/7/94)
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