domingo, 19 de dezembro de 2021

O Natal, por Vinicius de Moraes

Caras (os) Leitoras (es),

Nesta semana de Natal, pensei em trazer para reflexão Zero Grau de Libra, texto de leitura imprescindível de Caio Fernando Abreu, mas os versos deste poema de Vinicius venceram uma batalha interior que travei antes da escolha da postagem. No entanto, me parece que a visão de Natal de Vinicius se aproxima do pensamento demasiado humano do grande escritor gaúcho. 

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Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Ficheiro:Vinícius de Moraes ASSINATURA.jpg – Wikipédia, a enciclopédia livre

Poesia Completa e Prosa
Editora Nova Aguilar. Rio de Janeiro, 1986.

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