Mesmo
vendo-a pela primeira, dificilmente um leitor atento não saberá de imediato o
sentido da palavra Intertextualidade. E por um motivo simples: nela, perceberá
a presença do radical em "textual", que contém o
significado da palavra. No início, verá o prefixo “inter” (entre); e, no final, o sufixo “idade”
(condição, estado). Ou seja, Intertextualidade é o diálogo que o usuário da
língua estabelece com outros textos, seja na oralidade, seja na escrita.
Aliás,
competência linguística que desenvolvemos desde nossa infância, antes mesmo de
irmos à escola. No convívio familiar, com os amigos, com a comunidade, a
interatividade humana faz com que utilizemos outros discursos na construção de
nossos discursos. Até aqui não existe plágio, que é um tipo de
intertextualidade.
Acrescente-se
que o diálogo pode ser estabelecido não só entre textos verbais, mas também
entre textos imagéticos como, aliás, abrimos este texto.
Veja outro exemplo:
Neste
momento, ficaremos com a intertextualidade entre textos verbais. Elas se
classificam em:
– Alusão:
Trata-se de uma referência a outros textos, pessoas, situações sem a citação
nominal.
Ex. No Brasil, existem ex-presidentes que parecem continuar no poder.
– Citação:
É a transcrição de texto alheio, por isso deve vir, obrigatoriamente, marcada
por aspas.
Ex. O escritor italiano Umberto Eco disse que “Todo texto é uma máquina
preguiçosa pedindo ao leitor que faça parte de seu trabalho.”
– Paráfrase: O autor irá produzir
um texto que irá ao encontro das ideias presentes em outro texto. Em textos não
literários, ocorre, por exemplo, em resumos escolares. Veja, na área da arte, a
paráfrase criada por Jorge Bem Jor, em “País tropical”:
Ex.
Moro num país tropical / Abençoado por Deus / E bonito por natureza.
Com
o Hino Nacional Brasileiro:
Ex.
Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, limpos campos têm mais flores
Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida em teu seio mais amores.
– Paródia: Ao contrário da
paráfrase, a paródia vai de encontro às ideias presentes em outro texto,
normalmente por um viés irônico. Veja o diálogo do poeta Eduardo Alves da Costa
com o nosso hino:
Ex. Minha terra tem Palmeiras, / Corinthians e outros times / de copas
exuberantes.
– Pastiche: É a imitação de um
estilo, pois se reporta a um gênero. Por exemplo, o programa Os Trapalhões é um
pastiche de comédias italianas.
– Plágio: Único tipo de intertextualidade
ilegal, porque o produtor textual se apropria do texto alheio e não informa a
autoria original. Acontece em livros, músicas, fotografias e, também, em
trabalhos escolares e acadêmicos.
– Tradução: trabalho consciente e exato de transposição
de um idioma para outro, entretanto desprovido de cunho artístico.
–
Versão: trabalho de transposição, exato e artístico.
O
recurso da intertextualidade é fundamental para a produção de textos criativos
e refinados. Para tanto, é necessário que o usuário da língua amplie a sua
bagagem cultural, ampliando o seu conhecimento de mundo. E só é possível
conseguir isso por meio de leituras variadas, principalmente, de textos
literários.
Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa