sábado, 28 de setembro de 2024

Carta-Argumentativa

 

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Algumas universidades têm cobrado nos exames vestibulares a carta-argumentativa. E, apesar das semelhanças com o texto dissertativo-argumentativo, há diferenças importantes entre esses dois tipos de produção textual.

 

Veja:

 

a) Cabeçalho: na primeira linha da carta, na margem do parágrafo, aparecem o nome da cidade do remetente e a data.

 

Ex.: Salvador, 28 de setembro de 2024.

 

b) Vocativo: na linha seguinte, há o termo por meio do qual se dirige ao leitor, (marcado por vírgula). A escolha desse vocativo dependerá muito do leitor e da relação social com ele estabelecida.

 

Ex.: Prezado senhor Fulano, Excelentíssimo senhor presidente Luís Inácio Lula da Silva, Caro deputado Sicrano etc.

 

c) Interlocutor definido: essa é a principal diferença entre a dissertação e a carta. O texto dissertativo, geralmente, possui um leitor universal. Na carta, isso muda, pois se estabelece uma comunicação particular entre o remetente e o destinatário. Logo, deve-se adaptar a linguagem e a argumentação à realidade desse destinatário e ao grau de intimidade estabelecido entre os dois. Os argumentos e informações deverão ser compreensíveis ao leitor, próximos da realidade dele.

 

d) Necessidade de se dirigir ao interlocutor: ao escrever uma carta, o leitor deve “aparecer” no texto; por isso, além do Vocativo, utilizam-se verbos no imperativo, que fazem o leitor perceber que é ele o interlocutor.

 

e) Despedida: terminada a carta, deve-se produzir uma despedida que precede a assinatura do autor. “A mais comum é “Atenciosamente”, mas, dependendo das suas intenções do locutor para com o interlocutor, será possível gerar várias outras expressões, como “De um amigo”, “Do seu eleitor”, “De alguém que deseja ser atendido”.

 

f) Assinatura: um texto pessoal, como é a carta, deve ser assinado pelo autor. Nos vestibulares, porém, costuma-se solicitar ao aluno que não escreva o próprio nome por extenso.

 

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 (Crônica de Moacyr Scliar)

 

São Paulo, 14 de agosto de 2000.

 

Prezados Senhores,

 

Uns amigos me falaram que os senhores estão para destruir 45 mil pares de tênis falsificados com a marca Nike e que, para esse fim, uma máquina especial já teria até sido adquirida. A razão desta cartinha é um pedido. Um pedido muito urgente.

 

Antes de qualquer coisa, devo dizer aos senhores que nada tenho contra a destruição de tênis, ou de bonecas Barbie, ou de qualquer coisa que tenha sido pirateada. Afinal, a marca é dos senhores, e quem usa essa marca indevidamente sabe que está correndo um risco. Destruam, portanto. Com a máquina, sem a máquina, destruam. Destruir é um direito dos senhores.

 

Mas, por favor, reservem um par, um único par desses tênis que serão destruídos para este que vos escreve. Este pedido é motivado por duas razões: em primeiro lugar, sou um grande admirador da marca Nike, mesmo falsificada. Aliás, estive olhando os tênis pirateados e devo confessar que não vi grande diferença deles para os verdadeiros.

 

Em segundo lugar, e isto é o mais importante, sou pobre, pobre e ignorante. Quem está escrevendo esta carta para mim é um vizinho, homem bondoso. Ele vai inclusive colocá-la no correio, porque eu não tenho dinheiro para o selo. Nem dinheiro para selo, nem para qualquer outra coisa: sou pobre como um rato. Mas a pobreza não impede de sonhar, e eu sempre sonhei com um tênis Nike. Os senhores não têm ideia de como isso será importante para mim. Meus amigos, por exemplo, vão me olhar de outra maneira se eu aparecer de Nike. Eu direi, naturalmente, que foi presente (não quero que pensem que andei roubando), mas sei que a admiração deles não diminuirá: afinal, quem pode receber um Nike de presente pode receber muitas outras coisas. Verão que não sou o coitado que pareço.

 

Uma última ponderação: a mim não importa que o tênis seja falsificado, que ele leve a marca Nike sem ser Nike. Porque, vejam, tudo em minha vida é assim. Moro num barraco que não pode ser chamado de casa, mas, para todos os efeitos, chamo-o de casa. Uso a camiseta de uma universidade americana, com dizeres em inglês, que não entendo, mas nunca estive nem sequer perto da universidade – é uma camiseta que encontrei no lixo. E assim por diante.

 

Mandem-me, por favor, um tênis. Pode ser tamanho grande, embora eu tenha pé pequeno. Não me desagradaria nada fingir que tenho pé grande. Dá à pessoa certa importância. E depois, quanto maior o tênis, mais visível ele é. E, como diz o meu vizinho aqui, visibilidade é tudo na vida.

 

Atenciosamente,

 

Um sem tênis 

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

TOP 10 – DESVIOS NA FALA

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Ocorrem em nossas interações sociais orais diversas divergências entre o modo com que pronunciamos determinadas palavras e o que recomenda a variante padrão da Língua Portuguesa, motivadas por vários aspectos, como, por exemplo, a facilidade de pronúncia de determinados fonemas, uma melhor sonoridade, dentre outras causas.

Listamos, a seguir, um TOP 10 entre as palavras mais utilizadas pelo falante que se desviam da variante padrão da Língua Portuguesa. 

Boa Leitura! 

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1) MENOS: esta palavra só possui uma forma, independente se o termo a que ela se refira é masculino ou feminino, singular ou plural. Nunca “menas”. Por ferir demais a audição, merece liderar a lista.

EX. Isto é menos verdade, meu amigo.

Menos pessoas apareceram no jogo de hoje. 

2) RUBRICA: a palavra é paroxítona, entretanto muitos pronunciam como se o som mais forte da palavra estivesse na antepenúltima sílaba, ou seja, fosse uma proparoxítona, o que não acontece.

Ex. Por favor, coloque aqui a sua rubrica. 

3) EU / MIM: quando uma frase possuir um verbo terminado em AR / ER / IR e exigir sujeito, o uso deve ser EU e não MIM. Caso contrário, utiliza-se MIM.

Ex. Este trabalho é para eu fazer o mais rápido possível.

Foi o que disse para mim o gerente. 

4) GRATUITO: o falante pensa que o fonema / a letra “i” não faz parte da segunda sílaba da palavra, o que não é verdade, ela faz, sim: gra-tui-to. É um ditongo e não um hiato.

Ex. O passeio de bicicleta é gratuito. 

5) RECORDE: possivelmente influenciado pelo seu som de origem, muitos a pronunciam como se a primeira sílaba fosse a mais forte, não é, pois se trata de uma paroxítona.
Ex. Nadador baiano bate recorde em prova aquática.
 

6) IBERO: trata-se uma paroxítona, pois a sílaba tônica se encontra no meio da palavra, e não uma proparoxítona.

Ex. Tempos atrás, ocorreu um encontro ibero-americano, em Salvador. 

7) TEX: certamente obedecendo à lei do menor esforço, o usuário da língua a pronuncia como se a sílaba tônica fosse a última. Na verdade, trata-se de uma paroxítona.
Ex. Obtém-se o látex a partir das seringueiras.
 

8) NOBEL: a palavra possui o som mais forte na última sílaba, mas o falante supõe ser a primeira. É uma oxítona.

Ex. Em 1998, José Saramago, escritor português, recebeu o Nobel de Literatura. 

9) MENDIGO: condicionado pela grande nasalidade existente na Língua Portuguesa, muitos falantes pronunciam, incorretamente, “mendingo”. Está errado. Só existe nasalização na primeira sílaba.

Ex. Os mendigos necessitam de mais atenção das prefeituras e da sociedade. 

10) PRIVILÉGIO: provavelmente, muitas pessoas pensam que a melhor sonoridade presente em “previlégio” faz dela a pronúncia correta, mas é um equívoco.

Ex. O acesso à educação de qualidade deve ser privilégio de todos. 

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

sábado, 14 de setembro de 2024

Três Passos à Nota 1.000 / ENEM

  
https://www.tudocelular.com/


1° Passo: Introdução 

– Apresentação do tema

– Visão geral

– Contextualização na história/tempo/espaço

– Conhecimento do mundo e bagagem cultural

– Apresentação da tese

– Introduz o assunto que será abordado

 

2° Passo: Desenvolvimento 

– Questões que você quer levantar

– Explicação das questões

– Exemplos

– Clareza na escrita

– Lógica entre um parágrafo e outro

 

3° Passo: Conclusão


– Retomada da tese

– Proposta de intervenção

– Não acrescentar informações novas

– Não repetir frases 

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

domingo, 8 de setembro de 2024

Vícios de Linguagem

https://www.preparaenem.com/

VÍCIOS DE LINGUAGEM

É o nome que se dá ao modo de falar ou escrever que não estão de acordo com as normas de uma língua. O "erro" torna-se "vício" quando se torna comum ou freqüente na expressão de uma ou mais pessoas.

Barbarismo

Todo erro que se relaciona à forma da palavra.

cacoépia: seje, em vez de seja.

cacografia: rúbrica, em vez de rubrica.

estrangeirismo: exame antidoping.

Arcaísmo

Emprego de palavras que caíram desuso.

Mui fremosa senhorita.

Ambigüidade

A mensagem apresenta mais de um sentido devido à má disposição das palavras na frase.

O garoto viu o roubo do carro. (O garoto estava no carro e viu o roubo ou viu o carro ser roubado?)

Cacófato

Palavra inconveniente, ridícula ou obscena resultante da união das sílabas de palavras vizinhas.

A boca dela era horrível.

Solecismo

Erro de sintaxe.

Concordância: Fazem muitos anos. (Nesse caso fazer é impessoal.)

Regência: Esse é a música que ele mais gosta. (Essa é a música de que ele mais gosta.)

Colocação: Me faça um favor... (Faça-me um favor...)

Pleonasmo

Repetição de palavras inúteis, pois nada acrescentam ao que já foi dito.

Subiu para cima. Entrou para dentro.

Eco

É a rima em prosa, sem intenção estilística.

Infelizmente, essa ideia me veio à mente somente de repente.

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Vozes da Sabedoria

 

https://prezi.com

Segundo o Dicionário Houaiss on-line, “Provérbio – ou adágio, ou dito popular – é uma frase curta, geralmente de origem popular, rítmica e / ou rimada, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral.” 

Encontrados em abundância em nossa cultura, os provérbios representam para muitos de nós um repertório amplo, rico e pedagógico que contribui contribuiu para a nossa formação pessoal, familiar e social. 

Vivíssimos em minha lembrança afetiva, os ditados populares chamavam-me à atenção, porque era impressionante a recorrência de seu uso, principalmente pelas mulheres de nossa comunidade, a extinta Buracão, situada no bairro da Federação, próximo ao Rio Vermelho, que sumiu do mapa para dar lugar a um alto e triste viaduto que liga – ou separa?! – o bairro do Rio Vermelho à av. Vasco da Gama, aqui, em Salvador. 

Lembro-me, certa vez, de que uma das minhas irmãs começou a se interessar por um garoto que não lhe retribuía as atenções. Ao perceber a situação, minha mãe dizia: “Cuidado minha filha. Quem muito se abaixa o melhor aparece.” Ou então: "Boa romaria faz, quem em sua casa está em paz.", para momentos em que ficávamos em casa dos vizinhos. 

Millôr Fernandes, desenhista, humorista, tradutor, escritor e dramaturgo brasileiro, reescreveu alguns provérbios bastante conhecidos em nossa oralidade utilizando a Variante Formal do Português Brasileiro, o que resultou em um humor estranho e refinado. 

Veja:

Ex. 1: “Quando o sol está abaixo do horizonte, a totalidade dos animais domésticos da família dos felídeos é de cor mescla entre preto e branco.

R. À noite, todos os gatos são pardos. 

Ex. 2: “A criatura canonizada que vive em nosso próprio lar não é capaz de produzir efeito extraordinário que vá contra as leis fundamentais da natureza.

R. Santo de casa não faz milagre. 

Agora é com você. Tente descobrir quais provérbios Millôr transcreveu para a variante formal da Língua Portuguesa. As respostas você encontrará no final desta página. 

Não vale a pesca, hein?! 

a- “De unidade de cereal em unidade de cereal, a ave de crista carnuda, asas curtas e largas, da família das galináceas, abarrota a bolsa que existe nessa espécie por uma dilatação do esôfago e na qual os alimentos permanecem algum tempo antes de passarem à moela. 

b- “Substância inodora e incolor que já se foi não é mais capaz  de comunicar movimento ou ação ao engenho especial de triturar cereais. 

c- “Aquele que se deixa prender sentimentalmente por pessoa destituída de dotes físicos de encanto ou graça, acha-a extraordinariamente dotada desses mesmos encantos que os outros lhe não veem.” 

d- “O traje característico que usa e não identifica fundamentalmente a pessoa que por fanatismo, misticismo ou cálculo se isola da sociedade, levando vida austera e desligada das coisas mundanas. 

Paulo Jorge de Jesus
Professor Especialista em Língua Portuguesa

 

a- De grão em grão, a galinha enche o papo.

b- Águas passadas não movem moinhos.

c- Quem ama o feio bonito lhe parece.

d- O hábito não faz o monge.