segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A página em branco


Levante a mão aquele que nunca se desesperou diante de uma página em branco! Seja uma folha de papel ou a tela de um computador, este vazio diante de nossos olhos possui um poder implacável.

Grandes autores já registraram suas angústias e seus temores sobre este momento em que tudo parece conspirar contra o escritor. Escritor, aqui, registre-se, no sentido amplo da palavra. O filósofo alemão, Rob Riemen, em seu livro Nobreza de espírito, comenta que “… as horas tornavam-se longas quando o papel ficava em branco”, para o grande Thomas MannCarlos Drummond de Andrade refletiu sobre a capacidade de a folha em branco deixar impotente o produtor textual no ato inicial da escrita de um texto.

Seja literária ou não literária, a construção textual é um caminho a ser projetado, construído e revisto em cada etapa de sua criação. Fiquemos, neste momento, com uma reflexão sobre o processo de construção do texto não literário, do gênero dissertativo-argumentativo, haja vista a sua importância em vários contextos da sociedade contemporânea.

Diferentemente da fala, na qual o usuário não se encontra restrito a um determinado espaço e dispõe de recursos, por exemplo, de corrigir qualquer ato falho que venha a cometer no processo comunicativo; na escrita, o produtor textual está subordinado a convenções linguísticas e discursivas que ele deve seguir, a fim de conseguir o seu objetivo.


Quem escreve deve ter na mente, com clareza, o que irá dizer, para quem dizer e como dizer. O que irá dizer refere-se ao tema a ser abordado, à tese defendida por seu autor e aos argumentos que serão utilizados, a fim de conseguir a adesão do interlocutor, por isso se deve produzir uma argumentação consistente e irrefutável.

É preciso, também, que se tenha uma imagem do leitor, porque será este que irá determinar a linguagem a ser utilizada pelo produtor textual. Em textos dissertativo-argumentativos, o uso da variante padrão do português brasileiro é obrigatório.

Como dizer talvez venha a ser a maior dificuldade encontrada por quem escreve. Para se diminuir a tensão deste momento, o escritor deve atentar aos seguintes aspectos: primeiro efetuar uma leitura atenta dos textos motivadores – se houver, é claro! – que algumas instituições colocam em provas para mobilizar e ampliar o conhecimento do candidato a respeito do assunto. Em seguida, ler o tema proposto, buscar as palavras-chave do enunciado e, em seguida, verificar as informações e conhecimentos disponíveis em sua bagagem cultural e que sejam significativos para o interlocutor.

Agora o caminho se encontra pavimentado, e o produtor em condições para começar a escrever o seu texto. E como dissemos que todo texto é um processo de construção, o produtor deverá fazer uma revisão textual, antes de considerá-lo pronto.

Boa caminhada!

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Como construir um Texto Dissertativo-Argumentativo?


 

TEMA: Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos.”

Sua primeira providência deve ser copiar este tema em folha de rascunho e fazer a seguinte pergunta: POR QUÊ?

Ao iniciar sua reflexão sobre o tema proposto e sobre uma possível resposta para a questão, procure recordar-se do que já leu ou ouviu a respeito dele. É quase certo que você tenha ao menos uma noção acerca de qualquer tema que lhe vier a ser apresentado.

O ideal, para que sua dissertação explore suficientemente o assunto, é que você obtenha duas ou três “respostas” para a questão formulada; estas “respostas” chamam-se argumentos. Vejamos agora que argumentos poderíamos encontrar para este tema. Uma possibilidade é pensar que um dos sérios problemas que o homem não consegue resolver é o da miséria. Assim, já teríamos o primeiro argumento:

ARG. 1: Existem populações imersas em completa miséria.

Pensando um pouco mais nos problemas que enfrentamos, poderíamos formular o segundo argumento:

ARG. 2: A paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais.
           
Refletindo um pouco mais sobre as questões que afligem a humanidade, logo nos lembramos do desequilíbrio ecológico, que pode ser o nosso terceiro argumento:

ARG. 3: O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Dessa maneira, obtemos o seguinte quadro:

1) Existem populações imersas em completa miséria.
2) A paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais.
3) O meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.

Você pode encontrar outros argumentos além desses apresentados acima que justifiquem a afirmação proposta pelo tema. A única exigência é que eles se relacionem com o assunto sobre o qual você está escrevendo.

Uma vez estabelecido o tema e os três argumentos, você já dispõe do necessário para, agora, rascunhar a sua dissertação. Ela deverá constar de três partes fundamentais: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. 

Vamos agora redigir o primeiro parágrafo da dissertação, ou seja, a Introdução. Para compô-la, você deve falar do assunto e manifestar sua opinião a respeito dele. Veja como poderia ser:

No início do terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver, ou mesmo minimizar, graves problemas que atingem populações em vários cantos do mundo. É preciso discutir de forma séria e urgente essas questões; pois, se assim não o for, corremos risco de a vida na Terra piorar ainda mais, se é que é possível piorar.
    
Depois de terminado o parágrafo da Introdução, você deverá passar para o Desenvolvimento, explicando cada um dos argumentos já encontrados.

Assim, no próximo parágrafo, escreva tudo o que souber sobre o fato de existirem populações miseráveis.

Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas mal distribuídas quer entre estados, quer entre indivíduos –; encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações.

Como você pode perceber, convém, vez por outra, lançar mão de certos exemplos para comprovar suas afirmações.

No parágrafo seguinte, desenvolve-se o seguinte argumento:

Além disso, nestas últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos inúmeros conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança, por exemplo, das guerras do Vietnã, da Coréia, na antiga Iugoslávia e da Guerra do Golfo. Atualmente, a guerra no Iraque, promovida pelos Estados Unidos, mantém o estado de preocupação de governos, instituições e, por que não dizer, do cidadão comum.

Note a presença da expressão Além disso no início do parágrafo, que estabelece a ligação com o parágrafo anterior. Ela deve ser colocada para evidenciar o fato de que os parágrafos se relacionam entre si.

Trabalhemos agora o terceiro argumento:

Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável.      

Observe a expressão Outra preocupação constante colocada no início deste parágrafo. Ela é o elemento de ligação com o parágrafo anterior de Desenvolvimento. Estabelece a conexão entre os argumentos apresentados.

Para que sua dissertação fique completa, falta apenas elaborar um último parágrafo que se chama Conclusão. Para isso, reafirme, com outras palavras, sua posição já colocada na Introdução.

Observe:

Somos levados, portanto, a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os graves problemas que afligem direta ou indiretamente a todos nós. É imprescindível que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo mais facilmente habitado pelas gerações futuras.

Agora, observe a redação construída, integralmente:

Tempos modernos

        No início do terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver, ou mesmo minimizar, graves problemas que atingem populações em vários cantos do mundo. É preciso discutir de forma séria e urgente essas questões; pois, se assim não o for, corremos risco de a vida na Terra piorar ainda mais, se é que é possível piorar.
      Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas mal distribuídas quer entre estados, quer entre indivíduos –; encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações.        
    Além disso, nestas últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos inúmeros conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança, por exemplo, das guerras do Vietnã, da Coreia, na antiga Iugoslávia e da Guerra do Golfo. Atualmente, a guerra no Iraque, promovida pelos Estados Unidos, mantém o estado de preocupação de governos, instituições e, por que não dizer, do cidadão comum.
        Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável.   
        Somos levados, portanto, a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os graves problemas que afligem direta ou indiretamente a todos nós. É imprescindível que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo mais facilmente habitado pelas gerações futuras.