terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O "Queísmo" Textual

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Em 2011, a apresentadora do Jornal Hoje, da Rede Globo, Sandra Anneberg, pronunciou essa frase sobre um tombo sofrido, propositadamente, por uma repórter, durante uma reportagem apresentada ao vivo e em São Paulo. Nesse enunciado, a palavra "Que" intensifica a ideia do adjetivo “elegante”, por isso, quanto à morfologia, desempenha a função de advérbio. Na sintaxe, de um adjunto adnominal.

Deselegância à parte, a palavra mais utilizada da Língua Portuguesa, possui diversas funções que possibilitam a construção de textos coerentes e coesos, sonoros e articulados tanto na oralidade, quanto na escrita.

Observe outros exemplos:

Ex 2. Falava que falava, mas ninguém conseguia entendê-la.

Aqui, a palavra “QUE” assume a função morfológica de uma conjunção aditiva, mas não possui função sintática.

Ex. 3:

Meu bem querer
tem um quê de pecado
Acariciado pela emoção

Nesse belíssimo verso de Djavan, morfologicamente, a classe gramatical de “QUE” é um substantivo, porque denota a ideia de um elemento, um ser abstrato. Já sintaticamente complementa o sentido de um Verbo Transitivo Direto (tem), por isso se trata de um Objeto Direto.

No entanto, existem casos em que o uso abusivo dela empobrece o texto, tornando este pesado, enfadonho, dificultando a sua leitura e o seu entendimento. Veja alguns exemplos desse mau uso:                                

Ex 4. Quando chegaram, pediram-me que devolvesse o livro que me fora emprestado por ocasião dos exames que se realizaram no fim do ano que passou.

Percebe-se que o enunciado está muito mal construído e existem algumas possibilidades de reestruturação. Veja uma delas:

Ex. Quando chegaram, pediram-me a devolução do livro emprestado por ocasião dos exames realizados no fim do ano passado.

Convenhamos, agora, o enunciado se apresenta sonoro e simples. De fácil pronúncia e entendimento. Observe mais um exemplo:

Ex. 5: Muitos candidatos revelaram que desconheciam totalmente a matéria que constava dos programas que foram organizados pela banca que os examinava.

Ficaria enriquecido se estivesse, por exemplo, assim, construído:

Ex. Muitos candidatos revelaram desconhecer totalmente a matéria constante dos programas organizados pela banca examinadora.                                  

A habilidade para se produzir textos leves, elegantes e sonoros é adquirida com a leitura sistemática de textos produzidos por escritores e jornalistas reconhecidos pela sua competência textual.

 

Paulo Jorge

Prof. Especialista de Língua Portuguesa

sábado, 22 de janeiro de 2022

Exposição de Motivos

 

A Exposição de Motivos é um gênero textual no qual são apresentadas as justificativas para criação, alteração, modificação ou extinção de um determinado fato, experiência, invenção, lei dentre outros de caráter educativo, jurídico ou científico, de modo a indicar as idéias do remetente ou de um determinado grupo social. Tempos atrás, este documento transitava, exclusivamente, na esfera pública federal, no entanto ele já se mostra usual em diversas esferas da sociedade.

A seguir, apresentamos um exemplo de Exposição de Motivos; aliás, antes de expor os motivos, faz-se necessário um texto de apresentação.

Veja:

 

Salvador, 17 de dezembro de 2018.

 

Ilmo. Sr. Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Neto

 

Morador há quase quinze anos do Largo 2 de Julho, centro da cidade do Salvador, venho, através desta, expor alguns aspectos que, na minha opinião, precisam ser observados pelo novo gestor desta capital, no que se refere ao processo de recuperação e revitalização do nosso centro histórico.

A minha decisão em escrever esta exposição de motivos deve-se ao fato de ser morador da capital em que nasci e de morador do bairro que escolhi para morar.

Espero que minhas sugestões sejam analisadas pelo gestor desta cidade tão degradada e, ao mesmo tempo, desejar-lhe votos de uma gestão recuperadora e humanista, porque esta cidade e seus habitantes assim anseiam e merecem.

 

Exposição de Motivos

 

1) Moradores e comerciantes – principalmente estes! – depositam, a qualquer hora do dia e da noite, lixo na frente de restaurantes, lojas e edifícios e, também, em esquinas de ruas e próximas a sinaleiras.

2) Caminhões-baú de cervejarias e produtos alimentícios descarregam seu material, ao longo da manhã e da tarde, provocando engarrafamentos no local.

3) Os jardins da praça estão completamente degradados.

4) O coreto da praça necessita de ampla e urgente reforma.

5) As barracas de venda de diversos produtos – acarajé, plantas, cigarros dentre outros – estão sujas e rasgadas.

6) Parte do jardim do Largo 2 de Julho está coberto por um equipamento de ferro que exige substituição.

7) A iluminação pública está funcionando parcialmente.

 

Atenciosamente,

 

Paulo Jorge de Jesus