Entre o Curso e o Discurso
O Caos do Brasil Colônia era sem luz. A vontade era reprimida, sempre, com violência letal. Entre o Curso e o Discurso, havia o Poder teocrático e o militar, um nutrindo o outro de patrimônio e almas. Edmar Bacha, criador da expressão Belíndia para explicar o Brasil, com poucos brasileiros com IDH Belga e milhares com IDH indiano, está de livro novo na praça mostrando que a desigualdade brasileira deu seu maior salto durante a última ditadura, com os “milagres econômicos” dos milagreiros Bulhões, Simonsen e Delfim Neto.
As conquistas se esgueiraram entre os Poderes teocrático e militar, entre a cruz e o baraço, entre o fulejo e o porrete, esbarrando, sempre, no controle populista do querer coletivo. O Povo ainda desconhece essa história, a verdadeira, a de muito sangue e muita exploração, que um dia há de se reler, com clareza, expondo as dificuldades de alcançar uma democracia de Curso, para além do discurso. Não nos enganemos. A miséria e a ignorância ainda são os melhores negócios do País, as que geram mais lucros, mas há direções ao curso, disperso pela violência e cooptação dezenas de vezes.
A eficácia do Poder Judiciário revela-se, clara, independente, julgando o Poder Executivo no Poder e o condenando, como é natural. E nas eleições, nelas, que surpreendem a cada dois anos, vê-se o Curso derrotar o Discurso, com vagar, mas sem esmorecimento. A ameaça teocrática de Russomano foi derrotada, temporariamente, pela briga pueril do PSDB com o PT, que prejudica o País desde 1994. Mas é bom ficar alerta. A teocracia é incansável. A gestão de Eduardo Paes (RJ) venceu no primeiro turno todos os apoios estelares a Freixo, porque Paes iniciou, sem discurso, nos últimos quatro anos, o curso que Freixo prometeu fazer nos próximos quatro.
Os números que Dilma Rousseff conquistou combatendo a corrupção, em 2011, foram derrotados pelos cursos de Eduardo Campos, em Pernambuco, e de Aécio Neves, em Belo Horizonte, cidades de estados com IDH crescentes. Os cursos derrotaram o discurso de Lula, que enfraquece a cada má gestão que ele avaliza. Como quem deve ganhar, sempre, é a Sociedade, que todas as vitórias e todas as derrotas sirvam, exclusivamente, à sua vitória.
Aninha Franco, Trilhas, Revista Muito, A Tarde, 14.10.2012.
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