sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Sobre a Arte de Escrever




Assunto instigante para muitos escritores, o início da produção textual – qualquer que seja ela! – representa um momento de desespero para o autor. O desafio da folha em branco que Drummond belamente poetizou em Áporo. E se para eles o pontapé inicial o faz tremerem, imagine para aqueles que não têm o exercício prática escrita como função diária.

Veja, a seguir, o que diz Clarice Lispector sobre esse ofício essencial ao crescimento humano.

Ótima leitura!





COMO É QUE SE ESCREVE?

Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve. E se não soasse infantil e falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria um amigo escritor e lhe perguntaria: como é que se escreve?

Por que, realmente, como é que se escreve? que é que se diz? e como dizer? e como é que se começa? e que é que se faz com o papel em branco nos defrontando tranquilo?

Sei que a resposta, por mais que intrigue, é a única: escrevendo. Sou a pessoa que mais se surpreende de escrever. E ainda não me habituei a que me chamem de escritora. Porque, fora das horas em que escrevo, não sei absolutamente escrever. Será que escrever não é um ofício? Não há aprendizagem, então? O que é? Só me considerarei escritora no dia em que eu disser: sei como se escreve.

A Descoberta do Mundo, pág. 156-57.
Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1999.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A expectativa era que...



Veja, a seguir, duas construções gramaticais e eleja aquela que, na sua opinião, está corretamente elaborada, segundo a variante formal da Língua Portuguesa:
 
a) A expectativa era que o criminoso se entregasse às 21h.

b) A expectativa era de que o criminoso se entregasse às 21h.

Você acertou se escolheu a primeira alternativa, uma vez que não se justifica a presença da preposição “de” após o verbo de ligação SER, nesse tipo de construção gramatical.
Alguns manuais ainda registram a expressão "a expectativa era a de que".
Fuja!
É arcaica e fere a audição.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A Coerência Textual em 7 Regras




1) Manter a ordem cronológica: não se deve relatar antes o que ocorre depois, a não ser que se pretenda criar um clima de suspense ou tensão (mas nunca esquecendo que, no final, a tensão deve ser resolvida).

2) Seguir uma ordem descritiva: isto é, seguir a ordem em que a cena, o objeto, o fato são observados –  dos detalhes mais próximos para os mais distantes, ou vice-versa; de dentro para fora; da direita para a esquerda etc.

3) Uma informação nova deve se ligar a outra, já enunciada: à medida que o texto avança, as novas ideias devem se relacionar às antigas, de maneira que todas permaneçam interligadas.

4) Evitar repetições: uma ideia já enunciada pode ser repetida - e, em alguns casos, é imprescindível que isso ocorra -, mas desde que acrescentemos uma informação nova ao raciocínio, um novo elemento, capaz de aclarar ainda mais o assunto de que estamos tratando. Ou seja, devemos evitar redundâncias: à medida que escrevemos, o texto se amplia graças à agregação de novas ideias, e não porque insistimos no que já foi tratado ou usamos um excesso de palavras.

5) Não se contradizer: uma tese exposta e defendida no início não pode ser atacada no final do texto. Se o objetivo do autor é discutir sobre diferentes argumentações em torno de um mesmo tema, deve deixar claro quem defende qual ideia. Nesses casos, todo cuidado é pouco: a contradição não deve ser assumida pelo autor, mas, sim, surgir da diversidade de opiniões.

6) Não escamotear a realidade: um dado concreto, real, só pode ser contestado com base em investigações científicas. Um fato de conhecimento público pode ter novas versões, mas com base em depoimentos fidedignos. Encobrir a realidade com rodeios ou subterfúgios, apenas para dar maior veracidade a uma ideia, acaba sempre comprometendo a qualidade do texto - e, às vezes, abalando a reputação do autor.

7) Evitar generalizações: afirmar, de forma infundada ou não, que algo é verdadeiro em grande parte das situações, ou para a maioria das pessoas, demonstra
falta de argumentos ou preconceito do autor.


Fonte: Comunicação em prosa moderna, Othon M. Garcia,
14ª edição, Editora da Fundação Getúlio Vargas.