Assunto instigante
para muitos escritores, o início da produção textual – qualquer que seja ela! –
representa um momento de desespero para o autor. O desafio da folha em branco
que Drummond belamente poetizou em Áporo.
E se para eles o pontapé inicial o faz tremerem, imagine para aqueles que não
têm o exercício prática escrita como função diária.
Veja, a seguir, o que diz Clarice Lispector sobre esse ofício essencial ao crescimento
humano.
Ótima leitura!
COMO É QUE SE ESCREVE?
Quando não estou
escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve. E se não soasse infantil e
falsa a pergunta das mais sinceras, eu escolheria um amigo escritor e lhe
perguntaria: como é que se escreve?
Por que, realmente,
como é que se escreve? que é que se diz? e como dizer? e como é que se começa? e
que é que se faz com o papel em branco nos defrontando tranquilo?
Sei que a resposta,
por mais que intrigue, é a única: escrevendo. Sou a pessoa que mais se
surpreende de escrever. E ainda não me habituei a que me chamem de escritora.
Porque, fora das horas em que escrevo, não sei absolutamente escrever. Será que
escrever não é um ofício? Não há aprendizagem, então? O que é? Só me
considerarei escritora no dia em que eu disser: sei como se escreve.
A Descoberta do Mundo, pág. 156-57.
Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1999.
Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1999.
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