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Foi a partir da leitura do livro “Tudo sobre crase”, que ganhou em 1955, que Ferreira Gullar concebeu um irreverente aforismo gramatical: "A crase não foi feita para humilhar ninguém." Conta o poeta que se divertiu tanto a com ideia que criou outros: "Quem tem frase de vidro não joga crase na frase do vizinho." Mais: "Frase torcida, crase escondida."
Criatividade à parte, o fato é que encontramos a todo o momento, e em vários contextos, exemplos do seu uso inadequado. Veja:
“A pedido de Jaques Wagner, presidente Dilma Rousseff adia viagem à Salvador.” (http://www.tribunadabahia.com.br/2013/06/20)
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– Em locuções adverbiais, conjuntivas e prepositivas femininas:
Ex. Às vezes, a vida nos traz grandes surpresas.
À medida que estudava, percebia que as dúvidas aumentavam.
Ganhava a vida, à custa de grandes esforços.
– Em pronomes
demonstrativos e relativos:
Ex. Fiz alusão àquele rapaz sentado à direita.
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
Será feita a realocação da comunidade para uma área equivalente à que ela vive hoje.
– Com a presença de nomes
próprios de lugares que exigem o artigo definido feminino:
Ex. Os atletas retornaram à Austrália após o jogo.
– Com numerais quando indicam horas:
Ex. Chegaremos a São Paulo às 8h.
– Nas palavras CASA, TERRA e DISTÂNCIA, somente quando especificado
o sentido:
Ex. Ela sabia do meu retorno à casa de meus pais.
Os marinheiros voltaram à terra natal.
Os animais ficam à distância de 100 metros daqui.
– Quando estiver subentendido a expressão “à moda de...”:
Ex. Prefiro filé à milanesa.
Carlos Heitor Cony escreve à Machado de Assis.
Obs.: Veja que, neste último exemplo, caso não houvesse o sinal grave, o sentido seria de um envio de correspondência de Cony ao escritor realista.
Há, porém, três casos em que o uso da crase é opcional. Observe:
– Com pronomes possessivos femininos no singular, nomes próprios femininos
e após a preposição “até”:
Ex. Meus amigos andam à / a minha procura.
Aqueles quadros pertencem à / a Marta.
Fui até à / a praia pela manhã.
Vamos concordar com o poeta que são situações gramaticais que não ofendem ninguém. Basta atenção e reflexão ao escrever e ao revisar a produção textual.
Paulo Jorge
Professor Especialista em Língua Portuguesa
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