Acesso em: 31 de julho de 2012, às 19h13.
terça-feira, 31 de julho de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Aninha Franco
A trilha de hoje era outra até o momento em que Na estrada, de Walter Salles, se exibiu para a minha intranquilidade provinciana. O ponto de partida do filme é On the Road, romance que Jack Kerouac (1922-1969) escreveu em 1951 e que se tornou referência da Geração Beat. Mas o livro é só o miolo da massa. Salles usou a câmera de maneira, às vezes, crítica, para falar da mais benéfica das revoluções humanas do século 20, a revolução Beat, com Allen Ginsberg (1926-1997), William Burroughs (1914-1997), os hippies, o rock-and-roll, o sexo livre, o uso de drogas, a vida em comunidade, conduzindo o planeta Terra a um estágio menos ameaçador.
Sempre há guerras. A dos anos 1940 foi assustadora. Campos, gás, genocídio, e a multiplicação dessa capacidade Humana de destruir a si mesmo e as outras espécies fotografada e filmada, não tanto como agora, mas em velocidade considerável. Devia ser difícil acreditar nos humanos nos anos 1950, talvez mais que agora. A mesma espécie que condenava a liberdade sexual e o uso de drogas, se matava com requintes de perversidade, como ainda hoje, e aplicava as regras do capitalismo com sofreguidão. O capitalismo, instituído pela revolução industrial do século 18, estava pleno. A mais valia, substituta astuta da escravidão, multiplicava fortunas.
Quem precisava fugir disso, como aquela juventude inteligente e desencantada, ia para a estrada, comportamento de outros transgressores que Salles cita todo o tempo, exibindo o exemplar sebento de No Caminho de Swann, de Marcel Proust, outra estrada, ou a única foto conhecida de Rimbaud que, depois de escrever uma obra pequena e capital, embarcou para sempre, na África, traficando armas, escravos e outras especiarias.
Os muros Beat caíram quando o capitalismo se apropriou de seus signos, da calça azul e desbotada, da música, da estrada, da droga, mas ninguém conseguiu impedir que a liberdade, essa mulher de ombros largos e risada escandalosa, que mete medo aos tiranos, abrisse caminhos. Por causa de suas conquistas, essa foi a melhor revolução que os humanos fizeram no século 20.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Aninha Franco
As mesmas coisas se repetem há décadas. A CPI, a CPMI, a corrupção, a miséria nas ruas, as eleições e a cara de Sarney. Tenho a impressão de que os degredados, no século 16, já reclamavam de tudo isso. O Brasil deveria trocar o nome para Tudigual. E criar uma campanha publicitária assim: “Tudigual desde Cabral. Se você não chegou ontem, encontrará tudo amanhã”. O mundo virtual também anda todo chatinho. Ô, o material do mundo real é péssimo. Notícia de gravidez de celebridade é de uma pobreza evolutiva de dar pena. Saímos do Homus erectus para o Homus tecnologicus para noticiar gravidez de celebridade.
O jeito é distrair na Torre de Babel do Translate Google. Se você escrever “pobrema” nele, lerá as traduções “pas de problème”, “nessun problema” e “no problem”. Na vida virtual. Na real, “pobrema” desce o PIB, encolhe a indústria, e tira o Brasil do Bric.s. O Bric.s está prestes a virar Ric(s), Rússia, Índia e China. Mas o que o Brasil produziu até julho de 2012? A corrupção de Goiás, a prisão de Cachoeira, a cassação de Demóstenes, os escândalos da Delta e os lucros bancários! Ninguém quer comprar.
A única possibilidade de venda do nosso ano (e)letivo é o romance de Cachoeira com a mulher do suplente de Demóstenes. Suplente de senador é tão ignóbil que esse corno é por merecimento… A história deve ser vendida para Hollywood ou Bollywood. O filme brasileiro que atingiu mais de um milhão de espectadores, em 2012, foi E aí, comeu?, que não versa sobre antropofagia tupinambá. Versa sobre “gravidez de celebridade”.
O Brasil não consegue humanizar seus humanos com conteúdo, conhecimento, habilitação e criatividade. É preciso ser humanizado com a humanidade de Shakespeare, de Márquez, de Bishop, de Elliot, de Pound, de Euclides da Cunha, de Luís Henrique dias Tavares, de Cecília Meirelles. No princípio, antes da era digital, era a era analógica? Nem sei mais. Às vezes, estou na idade da pedra lascada, da pedra polida ou mesmo da pré-história. Sem saber de que história. Se houver, espero que seja menos corrompida.
Jornal A tarde. Revista Muito. 22 de julho de 2012.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Esta semana Avenida Brasil chegou ao 100º capítulo levando ao ar uma trama que há muito não prendia tanto o telespectador, ancorada em ganchos sucessivos e não deixando saudades do tempo em que o público de novelas tinha que esperar 180 capítulos para ver o desfecho central se realizar ou para ver um mistério anunciado no primeiro capítulo ser revelado. Do lado de cá da tela, no caso do telespectador de Salvador, outros 100 capítulos sem nenhuma atratividade e nenhum desfecho também foram ao ar na mesma semana: a greve dos professores da rede pública estadual, há 100 dias fora da sala de aula.
BISPO – Enquanto em Avenida Brasil Adriana Esteves vem dando um banho de interpretação, sobretudo em se tratando da TV, um veículo que deixa pouquíssimo espaço para o ator crescer em seus personagens a ponto de explodir em talento numa tela tão pequena, na chanchada da greve baiana não houve espaço para outra coisa senão para a explosão do grotesco. Do lado do Governo, além do já tradicional modus operandi lentíssimo do governador Jaques Wagner de só negociar conflito quando nem mesmo o bispo, literalmente (no caso, o Cardeal Arcebispo Primaz de Salvador, Don Murilo Krieger, que sempre tenta ajudar em negociações entre grevistas e Governo do Estado) suporta mais tanto imobilismo, mais duas cenas grotescas marcaram essa greve para nunca mais saírem da história da (péssima) educação na Bahia.
SHOW – A primeira partiu do próprio Governo, que parecendo acreditar que educação e fast food são uma coisa só, deu a deixa para que a população incorporasse em seu repertório uma expressão ímpar: professor de ponta. Não, não se fala de cornos, chifres ou algo do gênero, como inicialmente a expressão sugere, mas de uma suposta elite eleita por um professor-empresário-privilegiado cuja empresa foi contratada pelo Estado por milhões, sem licitação, para que seu dono pagasse uns caraminguás pequenininhos a professores tidos pelo próprio ‘professores de ponta’ e os colocasse para dar uns aulões, aulas do tipo que qualquer pessoa de bom senso acha uma ribanceira intelectual: juntar trocentos alunos em grandes espaços, como ginásios de esportes e conchas acústicas e oferecer-lhes como aula substitutiva às interrompidas pela greve uns tais aulões. Os cursinhos estão cheios desses aulões, né? Professores cantam, rebolam, dão show e, nos vestibulares que importam os alunos dançam. Ou são aprovados nas faculdades capengas e 10 anos depois não conseguem ter uma carteira da OAB porque mal sabem ler e escrever.
NINA COVER – Quando o Governo parecia ser o único dono da cereja do bolo, por vender aos alunos das escolas em greve bugalhos (estrelados por professores de ponta) por alhos, dando-lhes aulões ao invés do processo educacional que a Constituição garante, foi a vez de uma professorinha sem talento resolver incorporar a Carminha má da greve, transformando uma auxiliar de limpeza da Assembléia Legislativa em uma Nina cover atirada ao lixão da ofensa. A senhorinha letrada (sim, já não era nenhuma jovem inexperiente imberbe) achou por bem acocorar-se no chão de um dos banheiros da Assembléia e jorrou com gosto sua uréia, mesmo com dois sanitários com vaso branco, água limpa e portas bem à sua frente. Flagrada em cena tão educativa por auxiliar de limpeza, que lhe questionou a razão do ato, dona professora não titubeou. Disse-lhe, com ares de quem se sente a bala que matou Kennedy, que fez, sim, o nº 1, e se a moça a importunasse, ela iria fazer o nº 2. Disse mais: a auxiliar teria obrigação limpar os dois, pois quem mandou não estudar?
SENTA LÁ – No mesmo dia em que o depoimento em vídeo da auxiliar de limpeza com esse conteúdo assombrava em alguns telejornais de Salvador, a Globo local exibiu uma entrevista com um aluno da rede pública, há 100 dias sem aula. Perguntado sobre o que estaria fazendo nesse período, o garoto resumiu sua condição no que se refere àquilo que o estado lhe oferece. Disse que ficava olhando o caderno, com a mente vazia. Resumo da ópera: na Bahia, bem remunerado pelo Estado é o professor de ponta, professora faz nº 1 e nº 2 no chão de órgão público e considera que auxiliares de limpeza são subalternas e têm obrigação de limpar seus detritos e os jovens, se depender da educação que recebem, não passarão de zumbis com mentes vazias. E os marxistas embolorados certamente acham que a culpa disso tudo é da Carminha global, que aliena as massas e não as estimula a pensar e a emprenhar a mente. Ah, tá. Senta lá, professor de ponta.
Malu Fontes é jornalista e professora da Facom-UFBA
domingo, 22 de julho de 2012
sábado, 21 de julho de 2012
O EDITORIAL
Os editoriais são textos de um jornal em que o conteúdo expressa a opinião da empresa, da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de ter alguma imparcialidade ou objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas. Os quadros dos editoriais são normalmente demarcados com uma borda ou tipografia diferente para marcar claramente que aquele texto é opinativo, e não informativo.
Estímulo pernicioso
Findou a décima edição do Big Brother Brasil e a TV Globo já contratou mais quatro. A votação e o prêmio explicam a insistência nesse programa exaltador dos maus instintos e da competição agressiva: quase 155 milhões de votos, recorde mundial, e R$ 1,5 milhão para o vencedor. Até celebridades votaram. Não faltará espectador e muito menos quem deseje participar.
O diretor de núcleo do programa, José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, defendeu-o: “Big Brother não é cultura. É um jogo cruel. Quanto pior, melhor”. De um lado, ele instiga ao voyerismo, isto é, o prazer de observar a intimidade de pessoas, heterossexuais ou homossexuais, em uma casa fechada. De outro, a busca da felicidade (prêmios, carros, apartamento no Rio) para quem primou pela maldade, egoísmo, sensualidade, canalhice.
Importado da tevê americana, o Big Brother Brasil expõe a fragilidade da sociedade, de forma danosa à formação do caráter e da idoneidade. Pessoas em busca do ganho pela exposição de corpos dito sarados, e de intimidades alheias ao toque da afinidade apaixonada, entregam-se ao vale-tudo em benefício pecuniário. Fraqueza de valores éticos e morais são passados ao público externo, notadamente os jovens do Twitter e do Orkurt.
Ao estimular a torcida e votação dos telespectadores, o Big Brother Brasil pinta um retrato igualmente cruel da nossa sociedade. No mínimo, valoriza a vitória sem escrúpulos, para a qual valem todos os meios, incluindo a traição, a sedução artificiosa, a maldade preconcebida, a resistência psicológica. À margem ficam a dignidade, o bem-estar, a fraternidade, o aprimoramento da cultura como forma de engrandecimento do indivíduo.
Desbragado consumismo de sensações baratas, que transforma corpos de homens e mulheres em simples objetos, e as mentes em câmaras de artimanhas, o Big Brother estimula o convívio vicioso. Parece ser este o modelo de sociedade que a TV quer propagar. A sociedade da esperteza, dos maus valores.
Editorial. A Tarde. 30 de março de 2010.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
A INTERTEXTUALIDADE
SÓ O ROCK'N'ROLL SALVA
Elvis Presley que estais no Céu,
Muito escutado seja Bill Haley,
Venha a nós o Chuck Berry,
Seja feito barulho à vontade,
Assim como Hendrix, Sex Pistols e Rolling Stones.
Rock and roll que a cada dia nos melhora,
Escutai sempre Clapton e Neil Young,
Assim como Pink Floyd e David Bowie,
Muddy Waters e The Monkees.
E não deixeis cair o volume do som
102,1 de estação.
Mas livrai-nos do Axé
Amém!
Fanáticos, uni-vos! KISS, 102,1 FM
Folha de S. Paulo. 13 de Novembro de 2005
A Intertextualidade é a influência direta ou indireta de um ou mais textos preexistentes – orais ou escritos – para a elaboração de um novo texto. Existem diversos Tipos de Intertextualidades:
a) Alusão: pequena referência de um personagem em um texto que acontece de forma subjetiva, não tão visível.
b) Citação: trata-se de um fragmento de texto que é marcado por aspas e ou recursos ortográficos que indica a presença de uma “fala” de outro texto ou autor em uma produção textual.
c) Epígrafe: é um recorte de um texto sobre o outro no qual é modificado e produzido com novos sentidos.
d) Paráfrase: acontece em um processo de transformação e criação de efeitos de sentidos de um texto para o outro, lembrando que, essa mudança no texto ocorre de forma ampla e visível.
e) Paródia: é uma forma de apropriação de um texto sobre o outro que será trabalhada de forma crítica e irônica.
f) Pastiche: define-se como obra literária ou artística em que se imita grosseiramente o estilo de outros escritores, pintores, músicos, etc.
g) Plágio: trata-se de apropriação de uma obra de forma ilegal. Ocorre em textos dissertativos, por exemplo, quando o produtor textual cópia literalmente os textos de apoio da proposta de redação.
h) Referencia: refere-se a uma forma de enriquecer e interpretar os textos através de personagens de outras obras estabelecendo assim uma interação.
i) Tradução: é uma atividade que abrange a interpretação do significado de um texto em uma língua e a produção de um novo texto em outra língua, mas que exprima o texto original da forma mais exata possível na língua destino
SÓ O ROCK'N'ROLL SALVA
Elvis Presley que estais no Céu,
Muito escutado seja Bill Haley,
Venha a nós o Chuck Berry,
Seja feito barulho à vontade,
Assim como Hendrix, Sex Pistols e Rolling Stones.
Rock and roll que a cada dia nos melhora,
Escutai sempre Clapton e Neil Young,
Assim como Pink Floyd e David Bowie,
Muddy Waters e The Monkees.
E não deixeis cair o volume do som
102,1 de estação.
Mas livrai-nos do Axé
Amém!
Fanáticos, uni-vos! KISS, 102,1 FM
Folha de S. Paulo. 13 de Novembro de 2005
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