quarta-feira, 25 de julho de 2012

Aninha Franco

As mesmas coisas se repetem há décadas. A CPI, a CPMI, a corrupção, a miséria nas ruas, as eleições e a cara de Sarney. Tenho a impressão de que os degredados, no século 16, já reclamavam de tudo isso. O Brasil deveria trocar o nome para Tudigual. E criar uma campanha publicitária assim: “Tudigual desde Cabral. Se você não chegou ontem, encontrará tudo amanhã”. O mundo virtual também anda todo chatinho. Ô, o material do mundo real é péssimo. Notícia de gravidez de celebridade é de uma pobreza evolutiva de dar pena. Saímos do Homus erectus para o Homus tecnologicus para noticiar gravidez de celebridade.

O jeito é distrair na Torre de Babel do Translate Google. Se você escrever “pobrema” nele, lerá as traduções “pas de problème”, “nessun problema” e “no problem”. Na vida virtual. Na real, “pobrema” desce o PIB, encolhe a indústria, e tira o Brasil do Bric.s. O Bric.s está prestes a virar Ric(s), Rússia, Índia e China. Mas o que o Brasil produziu até julho de 2012? A corrupção de Goiás, a prisão de Cachoeira, a cassação de Demóstenes, os escândalos da Delta e os lucros bancários! Ninguém quer comprar.

A única possibilidade de venda do nosso ano (e)letivo é o romance de Cachoeira com a mulher do suplente de Demóstenes. Suplente de senador é tão ignóbil que esse corno é por merecimento… A história deve ser vendida para Hollywood ou Bollywood. O filme brasileiro que atingiu mais de um milhão de espectadores, em 2012, foi E aí, comeu?, que não versa sobre antropofagia tupinambá. Versa sobre “gravidez de celebridade”.

O Brasil não consegue humanizar seus humanos com conteúdo, conhecimento, habilitação e criatividade. É preciso ser humanizado com a humanidade de Shakespeare, de Márquez, de Bishop, de Elliot, de Pound, de Euclides da Cunha, de Luís Henrique dias Tavares, de Cecília Meirelles. No princípio, antes da era digital, era a era analógica? Nem sei mais. Às vezes, estou na idade da pedra lascada, da pedra polida ou mesmo da pré-história. Sem saber de que história. Se houver, espero que seja menos corrompida.

Jornal A tarde. Revista Muito. 22 de julho de 2012.



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