O EDITORIAL
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Estímulo pernicioso
Findou a décima edição do Big Brother Brasil e a TV Globo já contratou mais quatro. A votação e o prêmio explicam a insistência nesse programa exaltador dos maus instintos e da competição agressiva: quase 155 milhões de votos, recorde mundial, e R$ 1,5 milhão para o vencedor. Até celebridades votaram. Não faltará espectador e muito menos quem deseje participar.
O diretor de núcleo do programa, José Bonifácio de Oliveira, o Boninho, defendeu-o: “Big Brother não é cultura. É um jogo cruel. Quanto pior, melhor”. De um lado, ele instiga ao voyerismo, isto é, o prazer de observar a intimidade de pessoas, heterossexuais ou homossexuais, em uma casa fechada. De outro, a busca da felicidade (prêmios, carros, apartamento no Rio) para quem primou pela maldade, egoísmo, sensualidade, canalhice.
Importado da tevê americana, o Big Brother Brasil expõe a fragilidade da sociedade, de forma danosa à formação do caráter e da idoneidade. Pessoas em busca do ganho pela exposição de corpos dito sarados, e de intimidades alheias ao toque da afinidade apaixonada, entregam-se ao vale-tudo em benefício pecuniário. Fraqueza de valores éticos e morais são passados ao público externo, notadamente os jovens do Twitter e do Orkurt.
Ao estimular a torcida e votação dos telespectadores, o Big Brother Brasil pinta um retrato igualmente cruel da nossa sociedade. No mínimo, valoriza a vitória sem escrúpulos, para a qual valem todos os meios, incluindo a traição, a sedução artificiosa, a maldade preconcebida, a resistência psicológica. À margem ficam a dignidade, o bem-estar, a fraternidade, o aprimoramento da cultura como forma de engrandecimento do indivíduo.
Desbragado consumismo de sensações baratas, que transforma corpos de homens e mulheres em simples objetos, e as mentes em câmaras de artimanhas, o Big Brother estimula o convívio vicioso. Parece ser este o modelo de sociedade que a TV quer propagar. A sociedade da esperteza, dos maus valores.
Editorial. A Tarde. 30 de março de 2010.
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