quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Criatividade
 

 www.pensador.uol.com.br

Diz que, em 17 de novembro, celebra-se o Dia da Criatividade. Particularmente, não sabia que havia um dia dedicado a esta característica rara entre os mortais. E dentre as definições para a palavra “criar” que o dicionário Houaiss traz, a que mais gosto é “conceber, tirar aparentemente do nada, dar existência a,”. Como exemplo, o dicionário traz “Segundo o Gênese, Deus criou o homem e depois a mulher.”; enunciado não recomendável como argumentação para os tempos atuais.

Para reverenciar este dia, trazemos a adaptação altamente criativa de A cigarra e a formiga feita por Pedro Bandeira para o texto do escritor português Antônio A. Batista e cuja autoria atribui-se a Esopo.

Ótima Leitura!

www.imagick.com.br


Contrafábula da cigarra e da formiga

A formiga passava a vida naquela formigação, aumentando o rendimento da sua “capita” e dizendo que estava contribuindo para o crescimento do Produto Nacional Bruto. Na trabalheira do investimento, sempre consultando as cotações da bolsa, vendendo na alta e comprando na baixa, sempre atenta aos rateios e às subscrições. Fechava contratos em Londres já com o pé no Boeing para Frankfurt ou Genebra, para verificar os dividendos das suas contas numeradas.

Mas vivia também roendo-se por dentro ao ver a cigarra, com quem estudara no ginásio,  metida em shows e boates, sempre acompanhada de clientes libidinosos do Mercado Comum.

E a formiga vivia a dizer por dentro:

– Ah, ah! No inverno, você há de aparecer por aqui a mendigar o que não poupou no verão! E vai cair dura com a resposta que tenho preparada para você!

Ruminando sua terrível vingança, voltava a formiga a tesourar e entesourar investimentos e lucros, incutindo nos filhos hábitos de poupança, consultando advogados e tomando vasodilatadores.

Um dia, quando voltava de um almoço no La Tambouille com os japoneses da informática, encontrou a Cigarra no shopping Iguatemi, cantarolando como de costume.

“Lá vem ela dar a sua facada!”, pensou a formiga. “Ah, ah, chegou a minha vez!”

Mas a cigarra aproximou-se  só querendo saber como estava ela e como estavam todos no formigueiro

A formiga, remordida, preparando o terreno para a sua vingança, comentou:

– A senhora andou cantando na tevê todo este verão, não foi, dona Cigarra?

– É claro!– disse a cigarra– Tenho um programa semanal.

– Agora no inverno é que vai ser mau... – continuou a formiga com toda a maldade na voz. – A senhora não depositou nada no banco, não é?

– Não faz mal. Os meus discos não saem das paradas.  E acabei de fechar um contrato com o Olympia  de Paris por duzentos mil dólares…

– O quê?!– exclamou a formiga – A senhora vai ganhar duzentos mil dólares no inverno?

– Não. Isso só em Paris. Depois tem a excursão em Nova York, depois Londres, depois Amsterdam…
Aí a formiga pensou no seu trabalho, nas suas azias, na sua vida terrivelmente cansativa e nas suas ameaças de infarte, enquanto aquela inútil cigarra ganhava tanto cantando e se divertindo! E perguntou:

– Quando a senhora embarca para Paris?

– Na semana que vem…

– E pode me fazer um favor? Quando chegar a Paris, procure por um tal La Fontaine. E diga-lhe que eu quero que ele vá para o raio que o parta!

http://portaldoprofessor.mec.gov.br Acesso em: 14 de novembro de 2015, às 15h57.

Abraços Fraternos,

Paulo Jorge

Nenhum comentário:

Postar um comentário