sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O que pode um Artista!


Houvesse uma pesquisa, a fim de eleger a canção da MPB – Música Popular Brasileira, que melhor traduziu a grandeza da Língua Portuguesa, provavelmente, Língua, de Caetano Veloso, seria imbatível entre suas concorrentes.

Ao longo da letra da música, Caetano estabelece inúmeros diálogos  com as áreas da Música, da Filosofia, da Etimologia, da Literatura e da História para exaltar a nossa língua. Aqui, apresentamos como esses diálogos acontecem, ao mesmo tempo em que celebramos a genialidade de um grande mestre da MPB, hoje, 5 de maio, Dia da Língua Portuguesa e da Cultura entre os países de Língua Portuguesa.

Sugerimos, à medida que você fizer a leitura da letra, a audição da música. Você pode acessar, por exemplo, o endereço http://www.youtube.com/watch?v=n2KttEYpURI.
É impressionante o que Caetano consegue fazer nesta obra-prima da MPB!


Gosto de sentir a minha língua roçar
a língua de Luís de Camões = aproximar o português brasileiro do português de Portugal.
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia = parte da gramática tradicional que se dedica às características da emissão dos sons da fala, como o acento e a entoação.
E uma profusão de paródias = um tipo de intertextualidade
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa = Fernando Pessoa, poeta português do séc. XX
Da rosa no Rosa = Guimarães Rosa / Noel Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior? = a amizade é superior ao amor, porque este já se encontra dentro daquela.
E deixe os Portugais morrerem à míngua = a Língua Portuguesa em vários países.
"Minha pátria é minha língua" = “Minha pátria é a língua portuguesa”, verso de Fernando Pessoa
Fala Mangueira! Fala! = escola de samba do Rio de Janeiro


  Flor do Lácio Sambódromo = “A última flor do Lácio”, poema de Olavo Bilac. Sambódromo é um hibridismo.
Lusamérica latim em pó = O português desaparecendo no Brasil.
O que quer
O que pode esta língua? = exaltação à Língua Portuguesa
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô (sugestão de Moreno, filho de Caetano, para o nome do disco) da dicção choo-choo de Carmem Miranda = cantora, dançarina e atriz
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate = escritor, cantor e compositor
E – xeque-mate – explique-nos Luanda = capital de Angola e a mais populosa capital lusófona do mundo.
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo = segundo Caetano, uma mania de certos repórteres da emissora terminarem as frases com “dele” e suas variantes.
Sejamos o lobo do lobo do homem = “O homem é o lobo do homem”, frase de Thomas Hobbes (1588 - 1679)
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, = (jornalista, ex-mulher de Lulu Santos) Glauco Mattoso (poeta marginal) e Arrigo Barnabé (cantor e compositor) e Maria da Fé (cantora de fado portuguesa, considerada expoente neste gênero musical)  


Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
Se você tem uma idéia incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível 
Filosofar em alemão = afirmação atribuída a Heidegger, filósofo alemão (1889 – 1976)
Blitz quer dizer corisco = sinônimos de relâmpago
Hollywood quer dizer azevedo = holly (sagrado) + (wood) madeira; azevedo  (de "azevinho", esta madeira sagrada da África)
A língua é minha pátria = pai
E eu não tenho pátria, tenho mátria = um neologismo para a "mãe".
E quero frátria = irmão. Etimologicamente, subdivisão de uma tribo em Atenas e Esparta, confraria ou associação de cidadãos.
Poesia concreta, prosa caótica = Poesia vanguardista, de caráter experimental e basicamente visual.
Ótica futura
Samba-rap, chic-left (a esquerda elitizada) com banana
– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô (gíria = tô cheio)
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique (primeiro verso da música “Mozambique”, de Bob Dylan – “Eu gosto de gastar um tempo em Moçambique”, que tem o português como língua oficial)
– Arigatô, arigatô!) = palavra japonesa erroneamente tida como de origem portuguesa.
Nós canto-falamos como quem inveja negros = a música é um canto-falado.
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem = bairro de Nova Iorque e grande centro comercial e cultural dos afro-descendentes.
Livros, discos, vídeos à mancheia = “Bem aventurados os que semeiam livros / livros à mão cheia e manda o povo pensar”, versos de Castro Alves.
E deixa que digam, que pensem, que falem = verso da música “Deixa isso pra lá”, sucesso de Jair Rodrigues, na década de 60.

Abraços Fraternos!

Paulo Jorge

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