terça-feira, 22 de dezembro de 2015

As relações humanas são mediadas pelo ato de comunicação que envolve seus interlocutores em um contexto social específico e em determinado tempo histórico. Nessas relações, as pessoas se utilizam de recursos oferecidos pela língua para se fazerem compreender, enriquecerem seus discursos, vencerem seus oponentes, compartilharem suas emoções.

O pressuposto e o subentendido estão entre esses recursos linguísticos e são dois dos mais utilizados em nossa comunicação diária.  O pressuposto é indiscutível tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois decorre da presença de uma palavra, expressão ou frase (ou oração) no enunciado, seja ele falado ou escrito. Veja:

Ex. As chuvas continuam a atormentar a vida dos habitantes de Salvador.
De repente, os alunos entenderam os assuntos meio ambiente e vida saudável.
O jovem que se esforça progride.

Observe que no primeiro exemplo, a palavra “continuam” enuncia que os habitantes de Salvador passam por um transtorno que já vem ocorrendo há certo tempo. No segundo, a expressão “De repente” afirma que o entendimento dos alunos sobre meio ambiente e vida saudável se deu de forma rápida. Já a oração “... que se esforça...” informa que apenas jovens com essa característica terão sucesso na vida.

Já o subentendido é uma informação implícita, presente nas entrelinhas do texto, e precisa da participação do ouvinte ou do leitor para sua compreensão. No entanto, o autor do subentendido poderá ater-se ao sentido literal das palavras e negar que tinha tido a intenção de dizer aquilo que o ouvinte inferiu. Observe:

Ex. Fala do ex-presidente do Esporte Clube Vitória proferida alguns anos atrás em uma emissora de rádio de Salvador, Bahia: “O Vitória não é time refém de treinador.”

Ao enunciar que seu clube “não é refém de treinador”, o ex-presidente sugere que outro time é refém de treinador, uma vez que afirmação para essa negação é "Algum time é refém de treinador." Nesse caso, o ouvinte irá buscar, em seu repertório cultural, a resposta para a proposição. Chega, então, à conclusão que é o Esporte Clube Bahia o detentor de tamanha desventura, haja vista a rivalidade existente entre os dois clubes e não fazer sentido o sr. Paulo Carneiro se referir a outro clube de futebol.

Analisemos, agora, o texto sobre o lançamento de um CD, de Djavan, publicado no jornal A Tarde, em agosto de 2010: “Em última análise, o disco é um passeio emocional por um recorte específico e pessoal de suas memórias musicais. Imperdível. Para os fãs.”

O enunciado possui três períodos, e os dois últimos fazem despertar a atenção do leitor. Caso estivessem estruturados em um único período, a compreensão seria que os fãs se encantariam com o novo trabalho do cantor alagoano. E só, haja vista que a palavra "Imperdível" estaria diretamente ligada a "Para os fãs."  Mas, ao criar dois períodos para a informação final, o jornalista elimina a ligação com a frase final e  sugere – afirma! – que somente os fãs irão gostar do novo CD de Djavan. Mais ninguém. Inclusive ele!

Abraços,

Paulo Jorge de Jesus

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