domingo, 8 de maio de 2016

 Ao Leitor Atento - II

Na última postagem, vimos um texto que possui uma característica rara na Língua Portuguesa, ou seja, a inexistência de palavras construídas com a utilização da letra A, certamente o fonema mais importante da língua, pelo fato de ele ser apenas vogal e, diferentemente das outras semivogais, nunca uma semivogal nas construções silábicas. E como as consoantes e as semivogais não formam núcleo da sílaba, então o fonema A é o mais importante da Língua Portuguesa. Daí o inusitado daquela produção textual.

Hoje, trazemos o texto Não despertemos o leitor, de Mário Quintana, no qual o poeta gaúcho faz uma reflexão sobre os leitores e seus comportamentos, ao mesmo tempo em que coloca uma pedra no seu caminho, Caro (a) Leitor (a), pois incluiu em um dos parágrafos uma explicação absurda que deve chamar a atenção do leitor atento.

A fim de ampliar e enriquecer o seu percurso interpretativo, sugerimos que você responda as seguintes perguntas ao final da leitura:

Qual o entendimento que você faz do título do texto? Que conselho o autor dá para os escritores conservarem seus eventuais leitores? Você concorda com o autor a respeito da frase “Pois não é mesmo tão bom falar e pensar sem esforço?” Qual a diferença de postura entre o leitor dorminhoco, o leitor semidesperto e o leitor atento? 

Confira a sua resposta com a deste blogueiro, no final da postagem.

Mãos à obra e ótima leitura!



 Não despertemos o leitor

Os leitores são, por natureza, dorminhocos. Gostam de ler dormindo.

Autor que os queira conservar não deve ministrar-lhes o mínimo susto. Apenas as eternas frases feitas. “A vida é um fardo.” – isto, por exemplo, pode-se repetir sempre. E acrescentar impunemente: “disse Bias”. Bias não faz mal a ninguém, como, aliás, os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete, como há vinte séculos já se queixava Plutarco, eram uns verdadeiros chatos. Isto para ele, Plutarco. Mas, para o grego comum da época, deviam ser a tábua de salvação das conversas.

Pois não é mesmo tão bom falar e pensar sem esforço? O lugar-comum é a base da sociedade, a sua política, a sua filosofia, a segurança das instituições. Ninguém é levado a sério com ideias originais.

Já não é a primeira vez, por exemplo, que um figurão qualquer declara em entrevista: “O Brasil não fugirá ao seu destino histórico!”

O êxito da tirada, a julgar pelo destaque que lhe dá a imprensa, é sempre infalível, embora o leitor semidesperto possa desconfiar que isso não quer dizer coisa alguma, pois nada foge mesmo ao seu destino histórico, seja um Império que desaba ou uma barata esmagada.

Mário Quintana
Abraços Fraternos,

Paulo Jorge


R.... como, aliás, os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete...” Os sábios da Grécia eram seis ou sete?!


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