segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Arte de Descrever

Descrever significa apresentar características de seres materiais ou imateriais, humanos ou inanimados, de modo objetivo ou subjetivo.

De forma objetiva, utilizamos predominantemente substantivos concretos e com adjetivos pospostos, uma linguagem denotativa ou referencial, frases curtas, em ordem direta e visão imparcial sobre o ser descrito.
 

Observe:

“Tenho 14 anos. Sou morena, de olhos pretos e cabelos castanhos e encaracolados. Tenho 1,57m de altura e peso 54kg. Estudo no CEEP Isaías Alves, no turno matutino.”

Já subjetivamente, utilizamos essencialmente substantivos abstratos com adjetivos antepostos, uma linguagem conativa com a presença da função poética da linguagem e uma visão parcial do ser analisado.
 

Veja:

“Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim amargo,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.”

Agora, observe um exercício de descrição proposto por um material de Leitura, Interpretação e Produção Textual, veiculado pelo Correio da Bahia, em parceria com a Consultec, há alguns anos:

“Escolhe-se um objeto qualquer, para descrevê-lo de forma mais sensorial possível, sem dizer de que objeto se trata. Utilizando a visão, o tato, a audição, o paladar e o olfato, a gente dá pistas ao leitor sutilmente, conseguindo, assim, treinar nossa capacidade descritiva e desalienar as automatizações que decorrem de substituirmos as características das coisas, dos objetos, pelos nomes que possuem. Os nomes classificam, organizam, traduzem o mundo, mas, ao mesmo tempo, podem torná-lo excessivamente rotulado, pronto, destituído de personalidade, de singularidade na maneira única e intransferível com que cada um de nós o percebe.”

O exercício, aqui, é você tentar descobrir qual ser ou objeto está sendo descrito. A resposta correta você encontrará no final deste texto. Não vale a “pesca”, hein?!


Ex. 1
“Basicamente este objeto é um nariz, não muito pontudo. Pode assumir lugares variados, mas sempre estratégicos. Este objeto é uma janela por onde não se vê nada, uma janela que esconde os mistérios das estruturas. Um nariz tem dois buracos, mas este pode ter quatro ou até mais, depende do uso. A distância entre as narinas é padronizada. É a chegada de um intrincado caminho por onde transita o ar do homem moderno. É o sexo das paredes.”

Ex. 2
“Este objeto pode ter vários cheiros, cheiros artificiais, químicos, novos, ou então do que mais gosto: aromas mágicos, assim como bolor, poeira, uma poeira de ideias, poeira fina que é gostosa de se tirar com os dedos, vendo a cor aparecer aos poucos, nítida, convidativa. Para se apreciar esse objeto é preciso tempo, abri-lo devagar, ir consumindo lenta e preguiçosamente, até que o apetite se torne voraz e seja impossível largá-lo. Quando é consumido até o fim, ele se “renova” e ganha uma conotação saudosa, de tesouro bem guardado, do qual a gente às vezes se lembra e corre pra ver se está no mesmo lugar, se nos diz a mesma coisa.”

Abraços,

Paulo Jorge
 

Resposta: Na sequência, tomada de parede e livro.

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