terça-feira, 18 de junho de 2013


A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

 
1. Introdução

 
    A Introdução apresenta o Tema e o Ponto de Vista a serem desenvolvidos pelo produtor textual. Para redação de até 25 linhas, basta escrever apenas um parágrafo. Observe, agora, algumas formas de se construir a Introdução do texto dissertativo.
 
    a) Declaração

        É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato uma violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura para atender à demanda.
 
    b) Definição

        O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana.
 
   c) Divisão

       Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e grandes esforços. Experiências relatadas em jornais mostram que o combate à marginalidade social, em Nova York, vem contando com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada.

    d) Pergunta

       Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim. A cada ano, somos lesados por novos impostos para alimentar um sistema que só parece piorar.

   e) Frase nominal

       Uma tragédia. Essa é a conclusão da própria Secretaria de Avaliação e Informação Educacional do Ministério da Educação e Cultura sobre o desempenho dos alunos do 3o. ano do 2o. grau submetidos ao Saeb, que ainda avaliou estudantes da 4a. e da 8a. séries do 1o. grau em todas as regiões do território nacional.

   f) Citação direta

       “As pessoas chegam a ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais, trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora.” O comentário, do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações poderosas.

  g) Citação indireta

      Para Marx a religião é ópio do povo. Raymond Aron deu o troco: marxismo é o ópio dos intelectuais. Mas nos Estados Unidos o ópio do povo é às compras. Como as modas americanas são contagiosas, é bom ver de que se trata.

  h) Comparação

      O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado e, atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças.

  i) Um Provérbio

     O corriqueiro adágio de que o pior cego é aquele que não quer ver se aplica com perfeição na análise sobre o atual estágio da mídia: desconhecer ou tentar ignorar os incríveis avanços tecnológicos de nossos dias, e supor que eles não terão reflexos profundos no futuro dos jornais é simplesmente impossível.  

  j) Adjetivação

       Equivocada. Esta é a verdadeira qualidade para a política educacional do governo.

 
   2. Desenvolvimento

        A finalidade do desenvolvimento é debater, discutir, comprovar a idéia lançada na introdução do texto. A argumentação é o trabalho de soma e concatenação de raciocínio e idéias na tentativa de provar o Ponto de Vista do autor apresentado na Introdução. É preciso análise, síntese, relacionamento e classificação, ainda que uma verdade pareça evidente.

       Não se deve esquecer que toda dissertação requer uma lógica interna e outra externa. Pela primeira, entende-se a coerência, o ordenamento lógico das idéias num conjunto harmônico em que não haja falhas para uma contra argumentação; pela segunda, contudo, compreende-se a expressão lingüística. A princípio, como critério organizador, cada idéia do desenvolvimento pode constituir um parágrafo. Entre os parágrafos e os períodos, deve haver uma concatenação natural das idéias, para isso auxiliam certos conectivos, como “por outro lado”, “além disso”, “entretanto”, “apesar disso”, “mesmo assim” e outros que garantam a coesão do texto.

     Veja algumas formas de como se efetuar o desenvolvimento dissertativo.
 
        a) Argumentações favoráveis e contrárias

        b) Causa & Conseqüência

        c) Idéias pertinentes

 
   3. Conclusão 

       É a parte final do texto, para a qual convergem todas as idéias anteriormente desenvolvidas. Há dois tipos básicos de conclusão: a Reafirmação do Ponto de Vista, que retoma o posicionamento do produtor textual colocado na Introdução; e a Sugestão, em que são feitas propostas para a resolução do problema.

       Observe, a seguir, um texto dissertativo e identifique os Elementos da Estrutura Dissertativa dele, ou seja, os aspectos no que se refere ao Tema, o Ponto de Vista, os Argumentos, a Reafirmação do Ponto de Vista e / ou Sugestão. Observe, também, como se dá a coesão e a coerência textuais.

 
Texto
 
Insegurança pública
 
 
É notório que o sistema de segurança em vigor, hoje, nas grandes cidades brasileiras já não atende às mínimas condições de proteção para o cidadão comum, aquele que tem por obrigação pagar seus impostos e assegurado o seu direito de viver e de se movimentar, onde bem entender, sem receio de assaltos e violência, mas o que acontece na cidade do Rio de Janeiro já ultrapassou as fronteiras do absurdo.

 As pessoas que moram na ainda Cidade Maravilhosa convivem com uma situação somente comparável, talvez, a países em situação de guerra: são trabalhadores, mães de família, adolescentes que saem de suas casas e correm, constantemente, o risco de sofrerem algum tipo de violência, seja ela física ou psicológica.

 Ao lado disso, existem grupos de policiais, ex-policiais, agentes de segurança que agem em favelas expulsando os traficantes ou servindo de espécie de tropa de choque para oferecer proteção aos moradores. Para obter essa possível segurança, os moradores das favelas pagam um valor para que essas milícias protejam a sua comunidade contra traficantes e marginais. Há casos de comunidades em que, na tentativa de abertura de um local para venda de drogas, as milícias atuam chegando a matar os possíveis traficantes. Variadas são as discussões sobre a ação e o desempenho desses grupos, mas nenhum consenso há entre moradores e órgãos de segurança da cidade.

Outro fato importante e amplamente noticiado pela mídia foi o envio, recentemente, pelo Governo Federal, de um contingente expressivo da Força Nacional de Segurança Pública, para o Rio de Janeiro, a fim de colaborar com os órgãos de segurança do estado no combate ao crime organizado, o que não deixa de ser um auxílio importante, pois é visível a falta de uma estrutura organizada e eficiente da polícia carioca.

Não resta dúvida que são ações que tentam de imediato combater o crime organizado, entretanto a dimensão do problema da segurança, no Rio de Janeiro, parece exigir intervenções muito mais profundas do que as oferecidas aos moradores. Pelo menos até agora.

Paulo Jorge de Jesus. Salvador, 28 de janeiro de 2007.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Caros Leitores,
 
Observem uma maneira eficiente e elegante de se mostrar a importância de algo, utilizando-se apenas de negativas.
 
Ótima Leitura e Reflexão!
 
Prof. Paulo Jorge

Ler devia ser proibido!
 
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer.  
 
Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
 
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

Guiomar de Grammon. Texto adaptado.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


A decadência de Salvador
 
Jornais baianos e paulistas focam a decadência de Salvador sem relacionar a situação atual como resultado de péssimas gestões, marcações de território desse e daquele partido, nenhum deles preocupado com o bem-estar da cidade ou de seus moradores. Assistimos a esquerda, direita, centro e partidos teocráticos urinando sobre essa terra de beleza absoluta com gestões desastradas. Por último, João Henrique, responsável por oito anos de mijadas ininterruptas, chegou com o papo cansado de que Salvador recolhe pouco e, por isso, não tem dinheiro para ser bem administrada.

APrefeitura recolhe mais do que deveria. Muitos cidadãos, como eu, pagam impostos para evitar a inadimplência. Apenas. Pagam taxa para recolhimento de um lixo que empesta todos os bairros. Pagam IPTU sem retorno. E o que mais Salvador tem condições de recolher? Seus humanos, desqualificados para sobreviver numa cidade naturalmente completa para o turismo, mal falam português com correção. Suas intermináveis joias culturais, as festas de largo, o Carnaval, o sincretismo, são tratadas por jegues diante de igrejas e, óbvio, não podem resultar em arrecadamento.

Como é que uma cidade que pode viver bem e fartamente de sua criação cultural incessante, que jorra como água na superfície, criadora de dezenas de movimentos artísticos nacionais, não tem uma secretaria de cultura que pense, organize e fomente essa riqueza? Não adianta perguntar isso a João Henrique. Nem aos seus secretários, que nunca souberam arrecadar impostos, como gestores, porque não sabem usar sua melhor e, talvez, única riqueza para fazê-lo.

Éridículo que o Carnaval de Salvador receba dinheiro público sem retorno, para acolher milhões de pessoas durante sete dias, consumindo comida, habitação, música . Só o Carnaval da Baía, se bem-feito, pode (e deve) gerar renda para enriquecer a cidade durante o ano. Cidade que não pode ter outra indústria, senão a cultural, que tem todos os equipamentos naturais e culturais para o turismo. E que quando investiu neles, com senso, recebeu deles o dobro do que investiu.
 
Acesso em: 21 de dezembro de 2012, às 19h11.
 
 
 

                                                                 Trilhas

Roberto Carlos lançou um disco para o Natal e decretou “Esse cara sou eu”. Não acreditei no plano, mas, como o disco já está à venda nos “Francis Drake” da Cidade, inspirando os bonitões que preferem um tom mais cor de rosa que o pagode.baiano para dizer que são os caras, funcionou. O sucesso de um produto cultural de massa tem que estar na pirataria. Chegou às bancas dos piratas, espalhadas pelo País, está na mass media.

Que ainda não acatou o fim do mundo como produto final. Daí porque a probabilidade é que, depois do dia 21, será Natal com Simone ecoando em cada Shopping do País, e milhares de Humanos tentando comprar e vender absolutamente tudo. Jesus Cristo é um ótimo confrade dos comerciantes. E como há Shoppings neste País... Todos muito parecidos. Ocupando um espaço sobreterrâneo que os livros de prospecção humanística não detectaram. Nem 1984, de Orwell, nem Admiráv...el mundo novo de Huxley.

O que um Maia faria em um Shopping? Não tenho culpa. Essas perguntas chegam ao meu cérebro e eu repasso. Comeria? Compraria roupas? Levaria o disco de RC? Assistiria a um filme? Desejaria o fim do mundo? Talvez. Em 2012, o mundo acabou para Oscar Niemayer, Décio Pignatari, e milhares de outros Humanos que plantaram uma árvore, fizeram um filho, mas não escreveram um livro nem construíram uma cidade. E criar qualquer coisa está cada dia mais difícil, mais colado entre Criação e Recepção. Criar está exigente como sua essência. Ninguém suporta mais repetições, imitações, reproduções. Só clonagens de originais inacessíveis.

O que é péssimo para o Planeta, se sobreviver ao seu fim, com essa criatividade escassa. Entraremos no décimo terceiro ano do século 21 com analfabetos no Brasil, ditadura em Cuba, piadas portuguesas, filósofos alemães (a França se esforça, mas...). No ar, duas novidades, a China pós.Mao, seus dragões de liberdade, sua ditadura, as conquistas e criações, e o reconhecimento da gastronomia brasileira, que, desde sempre, teve ingredientes para seduzir o Planeta. Daí que, se o mundo não acabar dia 21, em 2013 será bom conhecer a China e as obras de arte dos Chef.s brasileiros.
 
Aninha Franco em Dia 21, Trilhas, Revista Muito, A Tarde, 16.12.2012.

domingo, 4 de novembro de 2012

Na cracolândia, sem gato

Todas as grandes metrópoles brasileiras viram explodir nos últimos três ou quatro anos uma bomba relógio em suas regiões centrais: as cracolândias. O tema tem sido frequentemente agendado pela imprensa, chegando às primeiras páginas dos jornais, às manchetes dos sites e às escaladas dos telejornais em pelo menos três momentos distintos recentes: quando a prefeitura de São Paulo tentou remover literalmente da noite para o dia os usuários de crack da região do Bom Retiro, quando um dependente de crack no centro de Curitiba virou febre nas redes sociais graças ao fato de ser bonitão, branco e ter olhos claros, e quando, recém-eleito, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, resolveu que era hora de enfrentar a sua cracolândia. 

O crack, como qualquer pessoa sensata sabe, representa hoje uma questão tentacular, multifacetada e extremamente complexa para qualquer gestor público. Há até mesmo governantes que prefiram pegar uma ponguinha no problema para atribuir os índices vertiginosos de homicídios em seus territórios ao consumo e tráfico do crack. Em Salvador, não faz muito tempo, estampou-se outdoors   exibindo o pé de um cadáver ilustrando a informação de que 80% dos homicídios da cidade eram em decorrência do crack. Sim, o crack é um problema de segurança pública, de saúde pública, de saúde mental, tema de ampla inquietação social e que exige, inclusive, a ação do Ministério Público, do poder Judiciário, para que seja conduzido com o mínimo de equilíbrio diante da infinidade de polêmicas que gera, como, por exemplo, quando se trata da questão de prender ou internar e se tal internação deve ou pode ser voluntária ou involuntária. Mas daí a considerá-lo como o elemento responsável por 80% dos homicídios na grande Salvador, ‘menos, cara pálida, menos’.

O fato, no entanto, é que a gestão que se formata a partir do resultado das urnas há uma semana não pode adiar um dia sequer, já na fase de transição, a inclusão do debate sobre o enfrentamento do crack e das cracolândias em Salvador. Salvador é uma cidade essencialmente turística e não adianta chamar os deuses e artistas coroados da terrinha abençoada por Senhor do Bonfim para fazerem, mesmo de graça, uma campanha publicitária para trazer visitantes para a cidade,  se quando estes colocarem um pé no Pelourinho forem recepcionados por zumbis dispostos a qualquer coisa para trocar por uma pedra de crack na próxima viela. 


E como não se pode esquecer que o mundo tem um pezinho e meio na hipocrisia ariana, é bom lembrar que nas cracolândias da Bahia de Todos os Santos e Orixás não há crackeleiro gato com teor de apelo suficiente para que clínicas de desintoxição do Brasil inteiro se interessem em fazer merchandising como aconteceu com o tal ‘mendigo gato’ de Curitiba, adotado imediatamente. O tal só teve o tratamento que teve pelo tom de pele, pelos traços nórdicos e pela cor dos olhos. Até sua nomenclatura foi alterada, pois deveria atender, sobretudo pela imprensa, pelo que de fato é/era: um crackeleiro branco.
 

Malu Fontes. Jornalista e professora da FACOM / UFBA.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Imagina depois da Copa
Jeonju é daqueles lugares que não soem figurar nos sonhos de férias dos brasileiros. A cidade, porém, já foi sede de Copa do Mundo, há dez anos, quando o Brasil levou o penta.
Espetada nos cafundós da Coreia do Sul, Jeonju tem um famoso bibimbap (prato com arroz e vegetais) e nenhum aeroporto comercial. Quem foi acompanhar os jogos lá precisou viajar por terra --desde Seul, são três horas de ônibus.
No quesito aeroportos, os coreanos optaram por investir em Incheon, na Grande Seul. Fazia sentido para eles. Vive ali quase metade da população do país, que queria abocanhar conexões aéreas na Ásia (Incheon ganha há sete anos seguidos o título de melhor aeroporto do mundo).
Já para os brasileiros, além da melhorar os aeroportos, o que faz sentido neste Mundial?
Bem ou mal, as metrópoles daqui passam pela maior transformação urbana conjunta já vista no país. O debate na eleição dos "prefeitos da Copa" parece, no entanto, versar sobre outro planeta.
Graças ao evento, os eleitos terão poder maior do que o normal, indica estudo divulgado no mês passado nos EUA.
Com anos de pesquisa sobre o efeito de Copas e Olimpíadas, o professor Victor Matheson, da Holy Cross, escreveu: "O melhor que pode ser dito dos megaeventos é que permitem aos governantes superar dificuldades políticas para investir em infraestrutura".
Eduardo Paes, anfitrião reeleito da final da Copa e dos Jogos no Rio, chegou a conclusão semelhante sem desgastar tanto os neurônios.
"Esse negócio de Olimpíada é sensacional, preciso usar como desculpa para tudo", disse ele ao "TV Folha". "Tem coisa que tem a ver com a Olimpíada. Tem coisa que não tem nada a ver, mas eu uso."
Usa para quê?
Paes poderia ter respondido num encontro que houve só para isso no Rio, mas não deu as caras. Como não apareceu o também reeleito Marcio Lacerda quando esse debate chegou a BH.
Proposto por ONGs em 11 das 12 sedes (Brasília não tem prefeito), ele tinha o tema "Copa, Olimpíada e eleições: qual o legado social para a sua cidade?".
Não dá para esperar que a resposta venha dos pitacos da Fifa. Seu relatório técnico sobre a candidatura brasileira, em 2007, proclamava que São Paulo tem uma "extensa rede de metrô" e que nossos aeroportos podem receber a Copa "confortavelmente".
A mesma entidade agora é invocada ao arrancar dinheiro do BNDES até para aeroportos a centenas de quilômetros da Copa. Em terra de cego, a "exigência da Fifa" reina.
O bate-estacas em curso nas cidades ressoou pouco nesta eleição --em São Paulo, foi abafado pelo kit gay. Talvez sinal de fracasso coletivo em planejar metrópoles melhores para viver. Se nem na Copa conseguimos, imagine depois.
Roberto Dias é editor de Novas Plataformas.
Folha de S. Paulo, em 20/10/2012. 

domingo, 21 de outubro de 2012

O Arco-íris eleitoral,

A Baía não está dividida entre azul e vermelho. Não se enganem os políticos. E nem todo azul é rico e nem todo vermelho é pobre. Se há cores eleitorais no Brasil, elas são da cor de políticos, da cor de eleitores e da cor de humanos em processo. Os políticos eram eleitos e se tornavam proprietários do Estado. E brigavam, desesperadamente, para estender a permanência. Os eleitores votavam, se revoltavam, e reclamavam. Ah! Como os eleitores se queixaram de tudo, desde sempre, há tanto tempo.

Os políticos eleitos para executar e fiscalizar, e os funcionários concursados para vigiar e punir os eleitos, pagos com salários diretos, indiretos e muito prestígio, são, sempre foram, alérgicos a criticas. Houve tempo em que era impossível criticar. O Correio Nagô pagava contas telefônicas astronômicas. As televisões filmavam os fatos que, editados, privilegiavam interesses. Mas existe a verdade? Indagou, agora, um neurônio religioso. Nem Jota Cê respondeu a isso. Calou-se porque estava cansado da dor, alegou um neurônio humano, demasiado humano. Poderia ter dito que verdade é o relato mais próximo de um fato.

Sobre eles, os fatos, os jornais se dividiam em oposição e situação. Posição era raro. Ainda é. E entre os fatos, as lendas e as fábulas, com uma ditadura, quase pontual, desencaminhando as conquistas, o Brasil, a rainha que a lucidez escondeu, caminhava. Aí, humanos em processo tomaram gosto pela posição e se tornaram eleitores. As redes sociais abriram seus portais para todas as posições, e cada mural é um jornal que, lido e freqüentado, pode fazer um estrago internacional em questão de segundos. Como se vê, nada mais está dividido entre azul e vermelho. Há um arco-íris nas disputas.
 Aninha Franco, Trilhas da Revista Muito de 21 de outubro de 2012.

domingo, 14 de outubro de 2012

Entre o Curso e o Discurso

O Caos do Brasil Colônia era sem luz. A vontade era reprimida, sempre, com violência letal. Entre o Curso e o Discurso, havia o Poder teocrático e o militar, um nutrindo o outro de patrimônio e almas. Edmar Bacha, criador da expressão Belíndia para explicar o Brasil, com poucos brasileiros com IDH Belga e milhares com IDH indiano, está de livro novo na praça mostrando que a desigualdade brasileira deu seu maior salto durante a última ditadura, com os “milagres econômicos” dos milagreiros Bulhões, Simonsen e Delfim Neto.

As conquistas se esgueiraram entre os Poderes teocrático e militar, entre a cruz e o baraço, entre o fulejo e o porrete, esbarrando, sempre, no controle populista do querer coletivo. O Povo ainda desconhece essa história, a verdadeira, a de muito sangue e muita exploração, que um dia há de se reler, com clareza, expondo as dificuldades de alcançar uma democracia de Curso, para além do discurso. Não nos enganemos. A miséria e a ignorância ainda são os melhores negócios do País, as que geram mais lucros, mas há direções ao curso, disperso pela violência e cooptação dezenas de vezes.

A eficácia do Poder Judiciário revela-se, clara, independente, julgando o Poder Executivo no Poder e o condenando, como é natural. E nas eleições, nelas, que surpreendem a cada dois anos, vê-se o Curso derrotar o Discurso, com vagar, mas sem esmorecimento. A ameaça teocrática de Russomano foi derrotada, temporariamente, pela briga pueril do PSDB com o PT, que prejudica o País desde 1994. Mas é bom ficar alerta. A teocracia é incansável. A gestão de Eduardo Paes (RJ) venceu no primeiro turno todos os apoios estelares a Freixo, porque Paes iniciou, sem discurso, nos últimos quatro anos, o curso que Freixo prometeu fazer nos próximos quatro.

Os números que Dilma Rousseff conquistou combatendo a corrupção, em 2011, foram derrotados pelos cursos de Eduardo Campos, em Pernambuco, e de Aécio Neves, em Belo Horizonte, cidades de estados com IDH crescentes. Os cursos derrotaram o discurso de Lula, que enfraquece a cada má gestão que ele avaliza. Como quem deve ganhar, sempre, é a Sociedade, que todas as vitórias e todas as derrotas sirvam, exclusivamente, à sua vitória.
Aninha Franco, Trilhas, Revista Muito, A Tarde, 14.10.2012.