A CONSTRUÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO
Brincando de Deus
Certas notícias têm a estranha propriedade de ser, ao mesmo tempo, motivo para grande celebração e preocupação: é o caso da nova técnica de clonagem de ovelhas. Quando melhor desenvolvida, ela permitirá a criação de milhares de seres idênticos e com a possibilidade de as células embrionárias serem geneticamente modificadas.
Além de obter animais de melhor qualidade, abre-se perspectiva, por exemplo, de criar vacas que produzam leite com certas proteínas capazes de curar doenças humanas.
De outro lado porém, milhares de indivíduos idênticos são um potencial fator de destruição – por competição – com as espécies naturais, o que levaria à perda do patrimônio genético da natureza, com todas as terríveis conseqüências que isso pode trazer para a própria humanidade.
Mais grave é o caso da ainda remota possibilidade de clonagem de homens. Poder-se-ia, por exemplo, criar um ser humano com o fim único de servir como um banco de transplantes. Pior é imaginar o pesadelo nazista da “raça perfeita” ou o “1984” de Orwell, que estaria agora adiado apenas em algumas décadas.
Como é impossível ignorar tanto os benefícios que a clonagem com manipulação genética pode trazer à humanidade como seus riscos, torna-se urgente criar um código de ética internacional que regule esse tipo de pesquisa. É extremamente perigoso brincar de Deus.
Folha de S. Paulo - 8/3/97.
Analisando o Texto:
1. O Título
O poder de persuasão começa exatamente no título. Pela carga semântica do enunciado, o leitor é impelido à leitura, sem se dar conta, talvez, do seu caráter apelativo.
2. O Objetivo
Ao discutir a questão da clonagem de ovelhas, o autor pretende conduzir o leitor a um posicionamento a respeito do assunto: “é necessário assegurar, mediante a formulação de novas leis, a ética no procedimento científico.”
3. O Assunto
O primeiro parágrafo traz a idéia principal – “... é o caso da nova técnica de clonagem de ovelhas.” Depois dessa idéia principal vêm as idéias secundárias que apontam a face positiva da questão: – “Quando melhor desenvolvida, ela permitirá a criação de milhares de seres idênticos e com a possibilidade de as células embrionárias serem geneticamente modificadas.”
4. A Tese
O segundo parágrafo apresenta a tese que levaria o leitor a posicionar-se favoravelmente à questão da clonagem: “... animais com melhor qualidade...” e “... criar vacas que produzam leite com certas proteínas capazes de curar doenças humanas.”
5. A Antítese
Neste parágrafo, encontram-se as idéias que vão de encontro às expostas na tese: “... milhares de indivíduos idênticos são um potencial fator de destruição..” , favorecendo a competição desigual; dessa luta, levar-se-ia “à perda do patrimônio genético... .”
6. A Reafirmação da Antítese
A fim de conquistar a total adesão do seu interlocutor, o autor do texto admite a “remota possibilidade” da clonagem humana, aventando, em conseqüência, a criação de seres humanos para mutilação; condição esta que nos traz à lembrança o holocausto nazista e seu ideário da “raça perfeita” e, além disso, a perspectiva de um mundo sem liberdade prevista por George Orwell, em 1984.
7. A Síntese
É o resultado da discussão que se estabeleceu entre vantagens e desvantagens da técnica de clonagem de animais irracionais e homens. Como não se podem prever os resultados da clonagem, nem barrar o avanço da ciência, é necessário criar um código de ética internacional que regule esse procedimento, pois o homem, sentindo-se Deus, com a onipotência dada pela ciência, pode colocar em risco a vida sobre a Terra.
Parabéns, meu caro Pj!
ResponderExcluirGostei demais do seu Blog! Vou aprender muito mais por esse valioso instrumento de aprendizagem.
Um abraço,
Prof. Adil Lyra