domingo, 26 de outubro de 2014


Viva João Ubaldo Ribeiro!

Vez em quando aparecem no linguajar brasileiro excrescências como “elencar”, “focado”, “tipo assim” e outras de igual naipe. O nascedouro dessas construções tem origem diversa: podem vir, por exemplo, de empréstimos de outras línguas, de novelas e programas de tevês, da oralidade do dia a dia dentre outros. E a sua repetição excessiva pelos falantes e produtores textuais se dá, provavelmente, por uma visão torta de que, ao usar essas construções, o usuário estaria em um contexto interativo superior ao seu oponente. Nada mais enganoso! Na verdade, elas mais empobrecem do que enriquecem o repertório linguístico do seu usuário, pois, se é repertório, como podemos nos mover linguística e diariamente com um número tão reduzido de palavras?!

No texto que hoje postamos, reverenciando um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, o palavrão (fique à vontade para escolher o sentido que melhor lhe convier!) paralimpíadas é o mote para João Ubaldo apontar e disparar sua metralhadora afiada para os adeptos, repetimos, dessas excrescências linguísticas.

Dá-lhe, João!        


                                                                                                                                                                         Paralimpíada é a mãe!                                
Certamente eu descobriria no Google, mas me deu preguiça de pesquisar e, além disso, não tem importância saber quem inventou essa palavra grotesca, que agora a gente ouve nos noticiários de televisão e lê nos jornais. O surpreendente não é a invenção, pois sempre houve besteiras desse tipo, bastando lembrar os que se empenharam em não jogarmos futebol, mas ludopédio ou podobálio. O impressionante é a quase universalidade da adoção dessa palavra (ainda não vi se ela colou em Portugal, mas tenho dúvidas; os portugueses são bem mais ciosos de nossa língua do que nós), cujo uso parece ter sido objeto de um decreto imperial e faz pensar em por que não classificamos isso imediatamente como uma aberração deseducadora, desnecessária e inaceitável, além de subserviente a ditames saídos não se sabe de que cabeça desmiolada ou que interesse obscuro. Imagino que temos autonomia para isso e, se não temos, deveríamos ter, pois jornal, telejornal e radiojornal implicam deveres sérios em relação à língua. Sua escrita e sua fala são imitadas e tidas como padrão e essa responsabilidade não pode ser encarada de forma leviana.

Que cretinice é essa? Que quer dizer essa palavra, cuja formação não tem nada a ver com nossa língua? Faz muitos e muitos anos, o então ministro do Trabalho, Antônio Magri, usou a palavra "imexível" e foi gozado a torto e a direito, até porque ele não era bem um intelectual e era visto como um alvo fácil. Mas, no neologismo que talvez tenha criado, aplicou perfeitamente as regras de derivação da língua e o vocábulo resultante não está nada "errado", tanto assim que hoje é encontrado em dicionários e tem uso corrente. Já o vi empregado muitas vezes, sem alusão ao ex-ministro. Infutucável, inesculhambável e impaquerável, por exemplo, são palavras que não se acham no dicionário, mas qualquer falante da língua as entende, pois estão dentro do espírito da língua, exprimem bem o que se pretende com seu uso e constituem derivações perfeitamente legítimas.

Por que será que aceitamos sem discutir uma excrescência como "paralimpíada"? Já li alguns protestos na imprensa e na internet, mas a experiência insinua que paralimpíada chegou para ficar e ter seu uso praticamente imposto. Ao contrário dos portugueses, parecemos encarar nossa língua com desprezo e nem sequer pensamos em como, ao abastardá-la e ao subordiná-la a padrões e usos estranhos a ela, vamos aos poucos abdicando até de nossa maneira de ver o mundo e falar dele, nossa maneira de existir. Talvez isso, no pensar de alguns, seja desejável, mas o problema é que, por esse caminho, nunca se chegará à identificação com o colonizador que tanto se admira e inveja, mas, sim, à condição cada vez mais arraigada de colonizado, que recebe tudo de segunda mão, até suas próprias opiniões e valores.

Mas há um pequeno consolo em presenciar esse tipo de vergonheira servil. Consolo meio torto, mas consolo. Refiro-me ao fato de que nossa crescente ignorância não se limita a estropiar nossa língua, mas faz o mesmo com idiomas que consideramos superiores em tudo, como o inglês. Hoje isto caiu em desuso, mas smoking já foi aqui "smocking" durante muito tempo. Assim como doping já foi "dopping". Quanto a este, assinale-se que o som, digamos fechado, do O, em inglês, foi trocado aqui por um som aberto, é o dópin. O mesmo tipo de fenômeno ocorreu com volley, cuja primeira vogal em inglês é aberta, mas em brasinglês é fechada e já entrou no português assim.

No setor de nomes próprios, a vingança é mais completa. Em primeiro lugar, transformamos os sobrenomes deles em prenomes nossos e enchemos o País de jeffersons, washingtons, edisons (aliás, em brasinglês, Edson, como Pelé), lincolns, roosevelts e até mesmo kennedys e nixons. E não perdoamos os contemporâneos. Não só trocamos o H por E em Elizabeth, como até hoje há publicações que se referem a Margareth Thatcher, ou à princesa Margareth. Esse nome nunca teve H no fim, mas aqui é assim não só em muitos jornais quanto no caso de nossas meninas, como atesta o exemplo da minha linda e talentosa conterrânea Margareth Menezes. E das Nathalies que assim foram batizadas em homenagem a Natalie Wood. E dos Phellipes, inspirados no príncipe Philip, das Daianes da Diane, a lista não acaba.

De maneira semelhante, também alteramos não somente a pronúncia, mas as regras gramaticais do inglês. Por exemplo, é quase unânime, entre todos os numerosos militantes do brasinglês, a convicção de que qualquer plural inglês terminado em S deve ter essa letra precedida de um asterisco. Acho que é barbada apostar que, em todas as cidades brasileiras de médias para cima, serão encontrados pelo menos uma placa e cinco cardápios anunciando "Drink's". É mais chique e até o Galeão, não há muito tempo, tinha armários (lockers) de aluguel, encimados pelo letreiro "Locker's", o que fazia os falantes de inglês entender que os armários eram propriedade de um certo Mr. Locker. No Galeão, aliás, gate (portão) já soou como gay tea (chá gay) e shuttle service (ponte aérea) como chateau service (o que lá seja isso). Agora mudou, mas to (para) deu para sair um prolongado tchuu, que, a um ouvido americano, há de soar como uma onomatopeia de espirro ou partida de maria-fumaça.

Mas, até mesmo por causa ("por causa", não, por conta; agora só se diz "por conta", vai ver que vem do inglês on account of) dessas paralimpíadas, receio que as contraofensivas nacionais não serão suficientes para neutralizar a subordinação de nossa cabeça, através do incalculável poder da língua. Acho que, coletivamente, aspiramos a essa subordinação. Tem sido muito lembrado o complexo de vira-lata de que falou Nélson Rodrigues. Pois é, é isso mesmo e é também caminho seguro para sermos vira-latas de verdade.
João Ubaldo Ribeiro
O Estado de São Paulo
Acesso em: 19 de julho de 2014, às 14h33
Abraços Fraternos!

Paulo Jorge

sábado, 2 de agosto de 2014

Análise das Melhores Redações / ENEM 2010




A proposta de redação do ENEM / 2010 pedia que o candidato produzisse um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “O Trabalho na Construção da Dignidade Humana” e ofereceu os seguintes textos motivadores: “O que é trabalho escravo” (Disponível em: http://www.reporterbrasil.org.br. Acesso em: 02 set.2010 (fragmento), “O futuro do trabalho”, do filósofo e ensaísta suíço Alain de Botton, em seu novo livro The Pleasures and Sorrows of Works (Os prazeres e as dores do trabalho, ainda inédito no Brasil) e ainda a seguinte construção matemático-linguística:



 Vejamos, a seguir, um exemplo de uma redação bem avaliada:


(Sem título)

Depois de inúmeras mudanças na sociedade, vive-se, hoje, um momento em que há, por parte de muitas pessoas, uma crescente busca pela realização profissional. Para elas, a profissão, muitas vezes, pode ter um grande significado na construção de sua identidade. Há, porém, aquelas pessoas que, sem ter escolha, aceitam qualquer trabalho como forma de sobrevivência, submetendo-se, assim, à desvalorização da sua humanidade.

O Brasil é um país que vem crescendo, principalmente nas últimas décadas. Essa crescente evolução traz uma tendência trabalhadora ao povo, que, por querer acompanhar o desenvolvimento, busca, cada vez mais, melhores empregos e salários, a fim de viver mais e melhor. Observa-se, nesse contexto, que o trabalho ganhou um valor de dignificação, já que, hoje, o fato de ter um emprego gera condições para uma boa vida.

Embora se observe esse grande desenvolvimento na nação brasileira, muitos defeitos permanecem inseridos nela. Alguns deles são a concentração de terras nas mãos de poucos e a enorme desigualdade social. Ambos favorecem a existência de pessoas que são obrigadas a se submeterem a trabalhos escravos, por exemplo.

Sabendo, portanto, da importância do trabalho na vida das pessoas e dos contrastes existentes no Brasil, deve-se tomar consciência de que o governo precisa dar mais atenção aos menos favorecidos financeiramente. Projetos sociais como o Bolsa Família ajudam, mas o que deve ser feito, na verdade, é investir mais em educação, buscando, assim, erradicar a miséria e a existência do trabalho desumano. Além disso, provavelmente, uma reforma agrária contribuiria para diminuir a desigualdade social, que é uma realidade que contribui para a existência desse tipo de escravismo.



 Análise da Redação


Parágrafo 1: O Tema – O trabalho na construção da dignidade humana – aparece apresentado de forma diluída no parágrafo o que já evidencia a competência frasal do produtor textual. A Tese aparece muito bem construída no último período do parágrafo introdutório: “Há, porém, aquelas pessoas que, sem ter escolha, aceitam qualquer trabalho como forma de sobrevivência, submetendo-se, assim, à desvalorização da sua humanidade.”

Parágrafo 2: Já no Desenvolvimento, o primeiro argumento do autor para embasar sua Tese diz respeito à necessidade que as pessoas têm em buscar melhores empregos para uma melhor qualidade de vida. Um argumento, convenhamos, previsível.

Parágrafo 3: Inicialmente, a informação “... a concentração de terras nas mãos de poucos e a enorme desigualdade social.” parece fugir à ideia de trabalho na construção da dignidade humana; no entanto, a sua relação com o enunciado “Ambos favorecem a existência de pessoas que são obrigadas a se submeterem a trabalhos escravos, por exemplo.” elimina a possibilidade de fuga ao tema, estabelecendo uma perfeita relação de causa e consequência. Este, sim, é um bom argumento. Observe, também, que neste parágrafo aparece um desvio gramatical grave em “Alguns deles são a concentração de terras...” O verbo “ser” deveria estar no singular, pois este verbo prefere concordar com o Predicativo do Sujeito.

Parágrafo 4: Uma Conclusão um pouco alongada, o que evidencia uma inabilidade no uso da concisão, embora a Proposta de Intervenção apareça muito bem elaborada em “... mas o que deve ser feito, na verdade, é investir mais em educação, buscando, assim, erradicar a miséria e a existência do trabalho desumano.”

Com apenas dois argumentos – um bom e outro previsível –, um desvio gramatical grave e uma Conclusão muito alongada, à redação do candidato deveria ser creditada nota 7, no mínimo, e 8, no máximo.

Abraços,

Paulo Jorge

sábado, 26 de julho de 2014

Análise das Melhores Redações / ENEM 2009


O ENEM 2009 propôs ao candidato dissertar sobre o tema "O indivíduo frente à ética nacional", em, aproximadamente, trinta linhas, levando em consideração uma charge de Millôr Fernandes (Disponível em: http://www2.uol.com.br/millor. Acesso em 16 de setembro de 2013, às 13h10), um texto de Lya Luft, retirado da revista Veja, e outro de Contardo Calligares, publicado no site http://www1.folha.uol.com.br, ambos refletindo sobre indignação e corrupção.

 
Veja, a seguir, uma redação que obteve uma excelente pontuação, neste exame:

Lágrimas de crocodilo

O Brasil tem enfrentado, com frequência, problemas sérios e até constrangedores, como os elevados índices de violência, pobreza e corrupção – três mazelas fundamentais que servem para ilustrar uma lista bem mais longa. Porém, mesmo diante dessa triste realidade, boa parte dos brasileiros parece não se constranger – e, talvez, nem se incomodar –, preferindo fingir que nada está ocorrendo. Em um cenário marcado pela passividade, é preciso que a sociedade se posicione frente à ética nacional, de forma a honrar seus direitos e valores humanos e, assim, evitar o pior.

Na época da ditadura militar, grande parte da população vivia inconformada com a atuação de um governo opressor, afinal, com as restrições à liberdade de expressão, não era possível emitir opiniões sem medir os riscos de violentas repressões. Apesar de uma conjuntura tão desfavorável para manifestações, muitos foram os movimentos populares em busca de mudanças, mesmo com as limitações na atuação da mídia. Talvez a sensação de um Brasil melhor hoje ajude a explicar a inércia da sociedade diante da atual crise de valores na política e em todas as camadas da população.

Muitos não percebem, mas esse panorama cria um paradoxo perverso: depois de tanto sangue derramado pelo direto de expressar opiniões e participar das decisões políticas, o indivíduo se cala diante da crise moral contemporânea. Nesse contexto, protestos se transformam em lamúrias, lamentações em voz baixa, que ninguém ouve – e talvez nem queira ouvir. Ou então em piadas, “ótimo” recurso cultural para sorrir e se alienar frente à falta de uma postura virtuosa. Assim, apesar de viver em um país democrático, o brasileiro guarda seus direitos – e os dos outros – no bolso da calça, pelo menos quando tem uma para vestir.

Para que o indivíduo não se dispa de sua cidadania, é preciso honrar o sistema democrático do país. Nesse contexto, o povo deve ir às ruas, de modo pacífico, para exigir uma mudança de postura do poder público. Além disso, a mobilização deve agir na direção de quem mais necessita, ajudando, educando e oferecendo oportunidades para excluídos, que vivem à margem da vida social, abaixo da linha da humanidade. Para tudo isso, entretanto, é preciso uma mudança prévia de mentalidade, uma retomada de valores humanos esquecidos, que só será possível com a ajuda da família, das escolas e até mesmo da mídia.

Por tudo isso, fica claro que o brasileiro deve parar de negar e de rir do evidente problema ético que enfrenta. Trata-se de questões sérias, cujas soluções são difíceis e demoradas, mas não impossíveis. Se a sociedade não se mobilizar imediatamente, chegará o dia em que as piadas alienadas e alienantes resultarão, para a maioria, em risadas de hiena. E, para a minoria privilegiada, imune – ou beneficiada? – à crise ética, restarão apenas olhos marejados.


Análise da Redação

Parágrafo 1: Tópico frasal construído com muita competência. Observe que os três períodos apresentam uma Introdução, um Desenvolvimento e uma Conclusão, nos quais são apresentados o Tema da redação – "O indivíduo frente à ética nacional" – e a Tese do autor sobre o tema “... é preciso que a sociedade se posicione frente à ética nacional, de forma a honrar seus direitos e valores humanos e, assim, evitar o pior.”

Parágrafo 2: Começa o produtor textual a relacionar seus argumentos que irão embasar sua Tese. E começando muito bem, pois busca em seu repertório cultural uma informação histórica que enaltece o comportamento do brasileiro no período ditatorial no País, emitindo uma comparação com os tempos atuais.

Parágrafo 3: Aqui, o candidato amplia sua reflexão sobre o comportamento do brasileiro, apontando sua estranheza sobre a acomodação da sociedade brasileira, numa época em que vivemos uma democracia plena.

Parágrafo 4: No último parágrafo do Desenvolvimento, o produtor textual sugere qual deve ser o comportamento político do brasileiro, além de já apresentar sua visão humanista – fundamental na redação do ENEM! –, sobre o problema, ao citar que “... a mobilização deve agir na direção de quem mais necessita, ajudando, educando e oferecendo oportunidades para excluídos, que vivem à margem da vida social, abaixo da linha da humanidade.”

Parágrafo 5: Na Conclusão, outro exemplo de um perfeito Tópico Frasal apresentando sua Proposta de intervenção "Se a sociedade não se mobilizar imediatamente, chegará o dia em que as piadas alienadas e alienantes resultarão, para a maioria, em risadas de hiena." e um período finalizador construído com refinamento textual: “E, para a minoria privilegiada, imune – ou beneficiada? – à crise ética, restarão apenas olhos marejados.”

Acrescente-se o uso correto da variante padrão da Língua Portuguesa e, também, a precisão na construção da Coerência e da Coesão textuais.

Realmente, um texto merecedor de alta pontuação, haja vista que o ENEM exige dos candidatos competências relativas aos conteúdos disciplinares do Ensino Médio. É bom não esquecer!

Abraços,

Paulo Jorge

sábado, 19 de julho de 2014

Análise das Melhores Redações / ENEM 2008


Com a aproximação das datas de realização das provas do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio 2014, a partir desta semana e nas próximas três, vamos postar e analisar as melhores redações dos cinco últimos concursos desse concurso, a fim de refletirmos sobre as competências que compõem arquitetura textual do texto dissertativo-argumentativo e são cobradas no exame, aliás, essenciais, também, para outros exames e concursos.

O ENEM de 2008 pediu uma resposta para o seguinte enunciado: “Como preservar a floresta Amazônica”. Foram sugeridas três possibilidades:

1) suspender imediatamente o desmatamento;
2) dar incentivos financeiros a proprietários que deixarem de desmatar;
3) ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar.

Inicialmente, vejamos uma redação sobre o tema que alcançou uma ótima pontuação:


(Sem título)

A floresta Amazônica vem sofrendo há muito tempo com o desmatamento, problema que compromete a realização natural do ciclo da água, prejudicando, assim, o funcionamento pleno deste bioma. Desse modo, é necessário preservar tal ambiente; e uma das maneiras de fazê-lo é a efetivação de pagamentos a proprietários de terra a fim de que parem de desmatar a floresta. Contudo, não se deve executar apenas esta ação.

O cumprimento de tal atitude pode, sim, diminuir o índice de desmatamento da Amazônia, já que os proprietários de terra podem utilizar este pagamento para suas necessidades ao invés do lucro que eles ganhariam se estivessem explorando os recursos naturais de forma exorbitante, o que significa que, pelo menos teoricamente, o padrão de vida desses indivíduos não seria alterado.

Por outro lado, há uma enorme probabilidade de que, mesmo recebendo dinheiro, alguns proprietários de terra continuem devastando a floresta para enriquecerem mais rapidamente, o que, com certeza, é uma evidência concreta da sociedade capitalista e ambiciosa contemporânea. Afinal, isto mostra que certas pessoas se preocupam apenas consigo mesmas, sem se importarem com o meio ambiente.

Além disso, devido à extensão territorial do Brasil, a verba enviada aos latifundiários da Amazônia pode não chegar a essa região, fazendo com que eles permaneçam desmatando-a. Outro motivo relevante para a ocorrência de tal evento é o fato de, infelizmente, existirem muitos corruptos neste país, os quais roubam parte do dinheiro.

Diante da problemática em questão, é indispensável que os ambientalistas promovam manifestações pacíficas que tenham como objetivo a conscientização dos adultos e do governo para que ambos compreendam que é necessária a preservação ambiental, pois só assim as gerações futuras terão meios de extrair da natureza o que é essencial para a sobrevivência.

Análise da Redação

Parágrafo 1: O produtor textual atendeu plenamente à proposta de redação, pois escolheu a segunda alternativa, ou seja, defendeu a ideia de “… dar incentivos financeiros a proprietários que deixarem de desmatar;” e colocou no parágrafo inicial do texto. Ao mesmo tempo em que defende sua tese em relação a sua escolha: “Desse modo, é necessário preservar tal ambiente; e uma das maneiras de fazê-lo é a efetivação de pagamentos a proprietários de terra a fim de que parem de desmatar a floresta.” Construção perfeita da Introdução.

Parágrafo 2: Para defender sua tese, o candidato apresenta seu primeiro e bom  argumento “… já que os proprietários de terra podem utilizar este pagamento para suas necessidades ao invés do lucro que eles ganhariam se estivessem explorando os recursos naturais de forma exorbitante…” com um Tópico Frasal constituído de Introdução, Desenvolvimento e Conclusão – nessa ordem, o que demonstra competência na progressão frasal.

Parágrafo 3: Aqui, o candidato faz uma contra-argumentação correta ao argumento citado: “Por outro lado, há uma enorme probabilidade de que, mesmo recebendo dinheiro, alguns proprietários de terra continuem devastando a floresta para enriquecerem mais rapidamente…”

Parágrafo 4: Neste parágrafo, o candidato falha, pois apresenta mais duas contra-argumentações o que prejudica a defesa de sua tese. Defender um ponto de vista apresentando apenas um argumento e três contra-argumentações é demonstrar inconsistência argumentativa.

Parágrafo 5: Chama à atenção negativamente, o fato de o candidato citar “manifestações pacíficas” em sua proposta de intervenção, uma vez que não houve referência a elas ao longo do texto.

Sem dúvida uma redação acima da média, com correção no uso da variante padrão da língua e coesão perfeitas, embora um pouco fragilizada pela engenharia argumentativa.

Abraços,

Paulo Jorge

Um Professor de Ética





















A memória já não era a mesma, não se lembrava, mas seus alunos garantiam. Ele, o garoto, era seu aluno há três anos e, ali mesmo, no ICEIA. Aliás, esse era o motivo – acreditava o velho mestre – para se sentir intensamente feliz em realizar aulas nas quatro turmas do matutino, do Ensino Médio, no igualmente velho bairro do Barbalho. Três anos seguidos trabalhando com os mesmos alunos deve ser o desejo de todo professor. Em um 2012 marcado por dias tão atribulados, mais que labuta, eram momentos plenos de conhecimento, alegria e afeto.

Ao longo do ano letivo, ele, o garoto, se acostumou a sentar-se no centro da turma, alternando de companhia o que revelava sua inclinação para, constantemente, ampliando a interação, ampliar seu círculo de amigos.

Nos momentos de leitura de textos, ele, o garoto, exibia seus olhos atentos, ávidos para beber novos conhecimentos. Parecia ao professor – não tinha certeza disso – que o aluno tinha uma predisposição para marcar sua presença no ambiente, haja vista que, em todas as aulas, o rapaz levantava a mão como a exigir um justo direito.

Faziam os alunos a última avaliação de um ano letivo magnífico para o professor. Momentos e alunos para serem guardados na memória e ficarem impregnados na alma.

De repente, ele, o garoto, faz uma pergunta sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Desatento, o professor responde “sim” ao aluno.

Relembrava o mestre. A última vez em que houve uma empatia tão forte entre ele e seus alunos ocorreu no longínquo 1995, ano em que começou a lecionar. Uma Feira das Nações inesquecível selou uma relação de respeito e reconhecimento que atravessa os tempos.

Último dia do ano letivo, entrega de resultados e uma surpresa. Ele, o garoto, estava furioso:

– Professor, o senhor me disse que eu poderia utilizar a Ortografia Oficial vigente. O mestre ficou na berlinda. Não sabia o que fazer. Ou sabia e não tinha coragem de fazer. Melhor dizer ao aluno que o enunciado estava claro. Era uma saída possível. Fez isso.

– Mas eu perguntei ao senhor, e o senhor me disse que sim. Um golpe certeiro atingiu o mestre. Mas este ainda não se deu por vencido.

O senhor fala tanto em justiça, e agora? O senhor está errado, professor. Errado. A palavra ecoava em sua mente. Um nocaute implacável. Do embate, ele, o garoto, saiu-se vencedor.

Um filme passa na mente do mestre. Formando alunos e professores, prestes a completar vinte anos na Educação, nunca lhe tinha ocorrido algo semelhante. Um garoto, aos 18 anos de idade, lhe dá uma aula de conduta. E de ética.

Victor Lima Marques: um Professor de Ética!

Abraços,

Paulo Jorge

PS: Na noite do mesmo dia, o professor entra em contato com o aluno e lhe pede para ir à escola no dia seguinte para refazer a avaliação. E assim foi feito.

terça-feira, 18 de junho de 2013


A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

 
1. Introdução

 
    A Introdução apresenta o Tema e o Ponto de Vista a serem desenvolvidos pelo produtor textual. Para redação de até 25 linhas, basta escrever apenas um parágrafo. Observe, agora, algumas formas de se construir a Introdução do texto dissertativo.
 
    a) Declaração

        É um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato uma violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura para atender à demanda.
 
    b) Definição

        O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação humana.
 
   c) Divisão

       Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e grandes esforços. Experiências relatadas em jornais mostram que o combate à marginalidade social, em Nova York, vem contando com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada.

    d) Pergunta

       Será que é com novos impostos que a saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim. A cada ano, somos lesados por novos impostos para alimentar um sistema que só parece piorar.

   e) Frase nominal

       Uma tragédia. Essa é a conclusão da própria Secretaria de Avaliação e Informação Educacional do Ministério da Educação e Cultura sobre o desempenho dos alunos do 3o. ano do 2o. grau submetidos ao Saeb, que ainda avaliou estudantes da 4a. e da 8a. séries do 1o. grau em todas as regiões do território nacional.

   f) Citação direta

       “As pessoas chegam a ponto de uma criança morrer e os pais não chorarem mais, trazerem a criança, jogarem num bolo de mortos, virarem as costas e irem embora.” O comentário, do fotógrafo Sebastião Salgado, falando sobre o que viu em Ruanda, é um acicate no estado de letargia ética que domina algumas nações poderosas.

  g) Citação indireta

      Para Marx a religião é ópio do povo. Raymond Aron deu o troco: marxismo é o ópio dos intelectuais. Mas nos Estados Unidos o ópio do povo é às compras. Como as modas americanas são contagiosas, é bom ver de que se trata.

  h) Comparação

      O tema da reforma agrária está presente há bastante tempo nas discussões sobre os problemas mais graves que afetam o Brasil. Numa comparação entre o movimento pela abolição da escravidão no Brasil, no final do século passado e, atualmente, o movimento pela reforma agrária, podemos perceber algumas semelhanças.

  i) Um Provérbio

     O corriqueiro adágio de que o pior cego é aquele que não quer ver se aplica com perfeição na análise sobre o atual estágio da mídia: desconhecer ou tentar ignorar os incríveis avanços tecnológicos de nossos dias, e supor que eles não terão reflexos profundos no futuro dos jornais é simplesmente impossível.  

  j) Adjetivação

       Equivocada. Esta é a verdadeira qualidade para a política educacional do governo.

 
   2. Desenvolvimento

        A finalidade do desenvolvimento é debater, discutir, comprovar a idéia lançada na introdução do texto. A argumentação é o trabalho de soma e concatenação de raciocínio e idéias na tentativa de provar o Ponto de Vista do autor apresentado na Introdução. É preciso análise, síntese, relacionamento e classificação, ainda que uma verdade pareça evidente.

       Não se deve esquecer que toda dissertação requer uma lógica interna e outra externa. Pela primeira, entende-se a coerência, o ordenamento lógico das idéias num conjunto harmônico em que não haja falhas para uma contra argumentação; pela segunda, contudo, compreende-se a expressão lingüística. A princípio, como critério organizador, cada idéia do desenvolvimento pode constituir um parágrafo. Entre os parágrafos e os períodos, deve haver uma concatenação natural das idéias, para isso auxiliam certos conectivos, como “por outro lado”, “além disso”, “entretanto”, “apesar disso”, “mesmo assim” e outros que garantam a coesão do texto.

     Veja algumas formas de como se efetuar o desenvolvimento dissertativo.
 
        a) Argumentações favoráveis e contrárias

        b) Causa & Conseqüência

        c) Idéias pertinentes

 
   3. Conclusão 

       É a parte final do texto, para a qual convergem todas as idéias anteriormente desenvolvidas. Há dois tipos básicos de conclusão: a Reafirmação do Ponto de Vista, que retoma o posicionamento do produtor textual colocado na Introdução; e a Sugestão, em que são feitas propostas para a resolução do problema.

       Observe, a seguir, um texto dissertativo e identifique os Elementos da Estrutura Dissertativa dele, ou seja, os aspectos no que se refere ao Tema, o Ponto de Vista, os Argumentos, a Reafirmação do Ponto de Vista e / ou Sugestão. Observe, também, como se dá a coesão e a coerência textuais.

 
Texto
 
Insegurança pública
 
 
É notório que o sistema de segurança em vigor, hoje, nas grandes cidades brasileiras já não atende às mínimas condições de proteção para o cidadão comum, aquele que tem por obrigação pagar seus impostos e assegurado o seu direito de viver e de se movimentar, onde bem entender, sem receio de assaltos e violência, mas o que acontece na cidade do Rio de Janeiro já ultrapassou as fronteiras do absurdo.

 As pessoas que moram na ainda Cidade Maravilhosa convivem com uma situação somente comparável, talvez, a países em situação de guerra: são trabalhadores, mães de família, adolescentes que saem de suas casas e correm, constantemente, o risco de sofrerem algum tipo de violência, seja ela física ou psicológica.

 Ao lado disso, existem grupos de policiais, ex-policiais, agentes de segurança que agem em favelas expulsando os traficantes ou servindo de espécie de tropa de choque para oferecer proteção aos moradores. Para obter essa possível segurança, os moradores das favelas pagam um valor para que essas milícias protejam a sua comunidade contra traficantes e marginais. Há casos de comunidades em que, na tentativa de abertura de um local para venda de drogas, as milícias atuam chegando a matar os possíveis traficantes. Variadas são as discussões sobre a ação e o desempenho desses grupos, mas nenhum consenso há entre moradores e órgãos de segurança da cidade.

Outro fato importante e amplamente noticiado pela mídia foi o envio, recentemente, pelo Governo Federal, de um contingente expressivo da Força Nacional de Segurança Pública, para o Rio de Janeiro, a fim de colaborar com os órgãos de segurança do estado no combate ao crime organizado, o que não deixa de ser um auxílio importante, pois é visível a falta de uma estrutura organizada e eficiente da polícia carioca.

Não resta dúvida que são ações que tentam de imediato combater o crime organizado, entretanto a dimensão do problema da segurança, no Rio de Janeiro, parece exigir intervenções muito mais profundas do que as oferecidas aos moradores. Pelo menos até agora.

Paulo Jorge de Jesus. Salvador, 28 de janeiro de 2007.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Caros Leitores,
 
Observem uma maneira eficiente e elegante de se mostrar a importância de algo, utilizando-se apenas de negativas.
 
Ótima Leitura e Reflexão!
 
Prof. Paulo Jorge

Ler devia ser proibido!
 
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer.  
 
Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
 
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

Guiomar de Grammon. Texto adaptado.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012


A decadência de Salvador
 
Jornais baianos e paulistas focam a decadência de Salvador sem relacionar a situação atual como resultado de péssimas gestões, marcações de território desse e daquele partido, nenhum deles preocupado com o bem-estar da cidade ou de seus moradores. Assistimos a esquerda, direita, centro e partidos teocráticos urinando sobre essa terra de beleza absoluta com gestões desastradas. Por último, João Henrique, responsável por oito anos de mijadas ininterruptas, chegou com o papo cansado de que Salvador recolhe pouco e, por isso, não tem dinheiro para ser bem administrada.

APrefeitura recolhe mais do que deveria. Muitos cidadãos, como eu, pagam impostos para evitar a inadimplência. Apenas. Pagam taxa para recolhimento de um lixo que empesta todos os bairros. Pagam IPTU sem retorno. E o que mais Salvador tem condições de recolher? Seus humanos, desqualificados para sobreviver numa cidade naturalmente completa para o turismo, mal falam português com correção. Suas intermináveis joias culturais, as festas de largo, o Carnaval, o sincretismo, são tratadas por jegues diante de igrejas e, óbvio, não podem resultar em arrecadamento.

Como é que uma cidade que pode viver bem e fartamente de sua criação cultural incessante, que jorra como água na superfície, criadora de dezenas de movimentos artísticos nacionais, não tem uma secretaria de cultura que pense, organize e fomente essa riqueza? Não adianta perguntar isso a João Henrique. Nem aos seus secretários, que nunca souberam arrecadar impostos, como gestores, porque não sabem usar sua melhor e, talvez, única riqueza para fazê-lo.

Éridículo que o Carnaval de Salvador receba dinheiro público sem retorno, para acolher milhões de pessoas durante sete dias, consumindo comida, habitação, música . Só o Carnaval da Baía, se bem-feito, pode (e deve) gerar renda para enriquecer a cidade durante o ano. Cidade que não pode ter outra indústria, senão a cultural, que tem todos os equipamentos naturais e culturais para o turismo. E que quando investiu neles, com senso, recebeu deles o dobro do que investiu.
 
Acesso em: 21 de dezembro de 2012, às 19h11.
 
 
 

                                                                 Trilhas

Roberto Carlos lançou um disco para o Natal e decretou “Esse cara sou eu”. Não acreditei no plano, mas, como o disco já está à venda nos “Francis Drake” da Cidade, inspirando os bonitões que preferem um tom mais cor de rosa que o pagode.baiano para dizer que são os caras, funcionou. O sucesso de um produto cultural de massa tem que estar na pirataria. Chegou às bancas dos piratas, espalhadas pelo País, está na mass media.

Que ainda não acatou o fim do mundo como produto final. Daí porque a probabilidade é que, depois do dia 21, será Natal com Simone ecoando em cada Shopping do País, e milhares de Humanos tentando comprar e vender absolutamente tudo. Jesus Cristo é um ótimo confrade dos comerciantes. E como há Shoppings neste País... Todos muito parecidos. Ocupando um espaço sobreterrâneo que os livros de prospecção humanística não detectaram. Nem 1984, de Orwell, nem Admiráv...el mundo novo de Huxley.

O que um Maia faria em um Shopping? Não tenho culpa. Essas perguntas chegam ao meu cérebro e eu repasso. Comeria? Compraria roupas? Levaria o disco de RC? Assistiria a um filme? Desejaria o fim do mundo? Talvez. Em 2012, o mundo acabou para Oscar Niemayer, Décio Pignatari, e milhares de outros Humanos que plantaram uma árvore, fizeram um filho, mas não escreveram um livro nem construíram uma cidade. E criar qualquer coisa está cada dia mais difícil, mais colado entre Criação e Recepção. Criar está exigente como sua essência. Ninguém suporta mais repetições, imitações, reproduções. Só clonagens de originais inacessíveis.

O que é péssimo para o Planeta, se sobreviver ao seu fim, com essa criatividade escassa. Entraremos no décimo terceiro ano do século 21 com analfabetos no Brasil, ditadura em Cuba, piadas portuguesas, filósofos alemães (a França se esforça, mas...). No ar, duas novidades, a China pós.Mao, seus dragões de liberdade, sua ditadura, as conquistas e criações, e o reconhecimento da gastronomia brasileira, que, desde sempre, teve ingredientes para seduzir o Planeta. Daí que, se o mundo não acabar dia 21, em 2013 será bom conhecer a China e as obras de arte dos Chef.s brasileiros.
 
Aninha Franco em Dia 21, Trilhas, Revista Muito, A Tarde, 16.12.2012.