sábado, 9 de julho de 2016


A página em branco

Levante a mão aquele que nunca se desesperou diante de uma página em branco! Seja uma folha de papel ou a tela de um computador, este vazio diante de nossos olhos possui um poder implacável.

Grandes autores já registraram suas angústias e seus temores sobre este momento em que tudo parece conspirar contra o escritor. Escritor, aqui, registre-se, no sentido amplo da palavra. O filósofo alemão, Rob Riemen, em seu livro Nobreza de espírito, comenta que "... as horas tornavam-se longas quando o papel ficava em branco.", para o grande Thomas MannCarlos Drummond de Andrade refletiu sobre a capacidade de a folha em branco deixar impotente o produtor textual no ato inicial da escrita de um texto.

Seja literária ou não literária, a construção textual é um caminho a ser projetado, construído e revisto em cada etapa de sua criação. Fiquemos, neste momento, com uma reflexão sobre o processo de construção do texto não literário, do gênero dissertativo-argumentativo, haja vista a sua importância em vários contextos da sociedade contemporânea.

Diferentemente da fala, na qual o usuário não se encontra restrito a um determinado espaço e dispõe de recursos, por exemplo, de corrigir qualquer ato falho que venha a cometer no processo comunicativo; na escrita, o produtor textual está subordinado a convenções linguísticas e discursivas que ele deve seguir, a fim de conseguir o seu objetivo.


Quem escreve deve ter na mente, com clareza, o que irá dizer, para quem dizer e como dizer. O que irá dizer se refere ao tema a ser abordado, à tese defendida por seu autor e aos argumentos que serão utilizados, a fim de conseguir a adesão do interlocutor, por isso se deve produzir uma argumentação consistente e irrefutável.


É preciso, também, que se tenha uma imagem do leitor, porque será este que irá determinar a linguagem a ser utilizada pelo produtor textual. Em textos dissertativo-argumentativos, o uso da variante padrão é obrigatório.

Como dizer talvez venha a ser a maior dificuldade encontrada pelo produtor textual. Para se diminuir a tensão deste momento, o escritor deve atentar aos seguintes aspectos: primeiro efetuar uma leitura atenta dos textos motivadores – se houver, é claro! – que algumas instituições colocam em provas para mobilizar e ampliar o conhecimento do candidato a respeito do assunto. Em seguida, ler o tema proposto, buscar as palavras-chave do enunciado e, em seguida, verificar as informações e conhecimentos disponíveis em sua bagagem cultural e que sejam significativos para o interlocutor.

Agora o caminho se encontra pavimentado, e o produtor em condições para começar a escrever o seu texto. E como dissemos que todo texto é um processo de construção, o produtor deverá fazer uma revisão textual, antes de considerá-lo pronto.

Boa caminhada!

Paulo Jorge

segunda-feira, 4 de julho de 2016


Desvios da fala


Ocorrem em nossas interações sociais orais diversas divergências entre o modo com que pronunciamos determinadas palavras e o que recomenda a variante padrão da Língua Portuguesa, motivadas por vários aspectos, como, por exemplo, a facilidade de pronúncia de determinados fonemas, uma melhor sonoridade, dentre outras causas.

Listamos, a seguir, um TOP 10 entre as palavras mais utilizadas pelo falante que se desviam da variante padrão da Língua Portuguesa.

Boa Leitura!


1) MENOS: esta palavra só possui uma forma, independente se o termo a que ela se  refira é masculino ou feminino,  singular ou plural.
EX. Isto é menos verdade, meu amigo.
Menos pessoas apareceram no jogo de hoje.

2) RUBRICA: a palavra é paroxítona, entretanto muitos pronunciam como se o som mais forte da palavra estivesse na antepenúltima sílaba, ou seja, fosse uma proparoxítona, o que não acontece.
Ex Por favor, coloque aqui a sua rubrica.

3) EU / MIM: quando uma frase possuir um verbo terminado em AR / ER / IR e exigir sujeito, o uso deve ser EU e não MIM. Caso contrário, utiliza-se MIM.
Ex. Este trabalho é para eu fazer o mais rápido possível.
Foi o que disse para mim o gerente.

4) GRATUITO: o falante pensa que o fonema (letra) “i” não faz parte da segunda sílaba da palavra, o que não é verdade, ela faz, sim: gra-tui-to.
Ex. O passeio de bicicleta é gratuito.

5) RECORDE: possivelmente influenciado pelo seu som de origem, muitos a pronunciam como se a primeira sílaba fosse a mais forte, não é, pois se trata de uma paroxítona.
Ex. Nadador baiano bate recorde em prova aquática.

6) IBERO: trata-se uma paroxítona, pois a sílaba tônica se encontra no meio da palavra.
Ex. Tempos atrás, ocorreu um encontro ibero-americano, em Salvador.

7) TEX: certamente obedecendo à lei do menor esforço, o usuário da língua a pronuncia como se a sílaba tônica fosse a última. Na verdade, trata-se de uma paroxítona.
Ex. Obtém-se o látex a partir das seringueiras.

8) NOBEL: a palavra possui o som mais forte na última sílaba, mas o falante supõe ser a primeira.
Ex. Em 1998, José Saramago, escritor português, recebeu o Nobel de Literatura.

9) MENDIGO: condicionado pela grande nasalidade existente na Língua Portuguesa, muitos falantes pronunciam, incorretamente, “mendingo”.
Ex. Os mendigos necessitam de mais atenção das prefeituras e da sociedade.

10) PRIVILÉGIO: provavelmente, muitas pessoas pensam que a melhor sonoridade presente em “previlégio” faz dela a pronúncia correta, mas é um equívoco.
Ex. O acesso à educação de qualidade deve ser privilégio de todos.

Abraços Fraternos,

Paulo Jorge

domingo, 26 de junho de 2016

Segundo seu criador, o agrônomo e publicitário Alexandre Beck, "O personagem Armandinho nasceu da pressa do jornal Diário Catarinense, em 2010, quando precisava de três histórias de quadrinhos para o dia seguinte. O personagem, que tem traços simples e, à época, não tinha nome, já estava desenhado. Bastou desenvolver a história para publicar no dia seguinte."

Tirinha de enorme sucesso no Facebook e semelhante a Mafalda, Armandinho se mostra um questionador das ações e comportamentos sociais, quase sempre tendo como interlocutores os seus pais, embora Beck afirme que seus filhos foram a fonte de inspiração para a criação do personagem.

Veja, a seguir, cinco momentos nos quais Armandinho reflete, com ternura, os homens em sociedade.

Ótima Leitura!


Tirinhas retiradas do seguinte endereço: http://tirasarmandinho.tumblr.com/

quarta-feira, 22 de junho de 2016


O texto de hoje é de autoria de uma das escritoras referenciais da literatura brasileira. Clarice Lispector. Nele, ao mesmo tempo em que declara seu amor à Língua Portuguesa, Clarice nos dá uma aula de beleza e refinamento linguístico.

Ótima Leitura!


Declaração de amor

Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.

Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Ás vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la — como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.

Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E esse desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.

Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.

Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.


Abraços Fraternos,

Paulo Jorge

quinta-feira, 16 de junho de 2016


O texto, a seguir, me foi enviado pelo jornalista e meu amigo Julio Gomes e posto aqui em razão da criatividade no manuseio da produtora textual com a Língua Portuguesa.

Alie-se à criatividade, a competência literária, pois o texto atiça a nossa imaginação ao provocar imagens de grande poder de sedução.

Credita-se a sua autoria, a uma aluna da UFPE - Universidade Federal de Pernambuco, em um concurso promovido pela instituição, para professor titular da cadeira de Gramática da Língua Portuguesa.

Desnecessário dizer que a autora foi aprovada no referido concurso; certamente, com louvor.



Amor gramatical

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, sub-tônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.

Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-três. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à Língua Portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

Abraços Fraternos!

Paulo Jorge

Obs.: Telas de Wassily Kandinsky, artista plástico russo. (1866 / 1944)

segunda-feira, 6 de junho de 2016

A Arte de Descrever

Descrever significa apresentar características de seres materiais ou imateriais, humanos ou inanimados, de modo objetivo ou subjetivo.

De forma objetiva, utilizamos predominantemente substantivos concretos e com adjetivos pospostos, uma linguagem denotativa ou referencial, frases curtas, em ordem direta e visão imparcial sobre o ser descrito.
 

Observe:

“Tenho 14 anos. Sou morena, de olhos pretos e cabelos castanhos e encaracolados. Tenho 1,57m de altura e peso 54kg. Estudo no CEEP Isaías Alves, no turno matutino.”

Já subjetivamente, utilizamos essencialmente substantivos abstratos com adjetivos antepostos, uma linguagem conativa com a presença da função poética da linguagem e uma visão parcial do ser analisado.
 

Veja:

“Eu não tinha esse rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim amargo,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.”

Agora, observe um exercício de descrição proposto por um material de Leitura, Interpretação e Produção Textual, veiculado pelo Correio da Bahia, em parceria com a Consultec, há alguns anos:

“Escolhe-se um objeto qualquer, para descrevê-lo de forma mais sensorial possível, sem dizer de que objeto se trata. Utilizando a visão, o tato, a audição, o paladar e o olfato, a gente dá pistas ao leitor sutilmente, conseguindo, assim, treinar nossa capacidade descritiva e desalienar as automatizações que decorrem de substituirmos as características das coisas, dos objetos, pelos nomes que possuem. Os nomes classificam, organizam, traduzem o mundo, mas, ao mesmo tempo, podem torná-lo excessivamente rotulado, pronto, destituído de personalidade, de singularidade na maneira única e intransferível com que cada um de nós o percebe.”

O exercício, aqui, é você tentar descobrir qual ser ou objeto está sendo descrito. A resposta correta você encontrará no final deste texto. Não vale a “pesca”, hein?!


Ex. 1
“Basicamente este objeto é um nariz, não muito pontudo. Pode assumir lugares variados, mas sempre estratégicos. Este objeto é uma janela por onde não se vê nada, uma janela que esconde os mistérios das estruturas. Um nariz tem dois buracos, mas este pode ter quatro ou até mais, depende do uso. A distância entre as narinas é padronizada. É a chegada de um intrincado caminho por onde transita o ar do homem moderno. É o sexo das paredes.”

Ex. 2
“Este objeto pode ter vários cheiros, cheiros artificiais, químicos, novos, ou então do que mais gosto: aromas mágicos, assim como bolor, poeira, uma poeira de ideias, poeira fina que é gostosa de se tirar com os dedos, vendo a cor aparecer aos poucos, nítida, convidativa. Para se apreciar esse objeto é preciso tempo, abri-lo devagar, ir consumindo lenta e preguiçosamente, até que o apetite se torne voraz e seja impossível largá-lo. Quando é consumido até o fim, ele se “renova” e ganha uma conotação saudosa, de tesouro bem guardado, do qual a gente às vezes se lembra e corre pra ver se está no mesmo lugar, se nos diz a mesma coisa.”

Abraços,

Paulo Jorge
 

Resposta: Na sequência, tomada de parede e livro.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Linguagem Formal & Informal


Segundo o Dicionário Houaiss on-line, Provérbio – adágio, dito popular – é uma frase curta, geralmente de origem popular, rítmica e / ou rimada, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral.

Encontrados em abundância em nossa cultura, os provérbios representam para muitos de nós – principalmente para aqueles com mais de trinta anos – um repertório amplo, rico e pedagógico que contribui para a nossa formação pessoal, familiar e social.

Vivíssimos em minha lembrança afetiva, os ditados populares chamavam-me à atenção, porque era impressionante a recorrência de seu uso, principalmente pelas mulheres de nossa comunidade, a extinta Buracão, situada no bairro da Federação, que sumiu do mapa, para dar lugar a um insólito e triste viaduto que liga – ou separa?! – o bairro do Rio Vermelho à av. Vasco da Gama, aqui, em Salvador.

Lembro-me, certa vez, de que uma das minhas irmãs começou a se interessar por um garoto que não lhe retribuía as atenções. Ao perceber a situação, minha mãe dizia: “Cuidado, minha filha. Quem muito se abaixa o melhor aparece.” Ou para momentos em que demorávamos nas casas dos vizinhos: "Boa romaria faz, quem em sua casa está em paz.".

Alias, tempos em que, sem direito à voz, as mulheres falavam por meio da Conotação, em um exercício comunicativo que incitava a nossa imaginação.
 


Millôr Fernandes, desenhista, humorista, tradutor, escritor e dramaturgo brasileiro, dentre muitas de suas criatividades, reescreveu alguns provérbios bastante conhecidos em nossa oralidade, utilizando a linguagem formal, o que resultou em um humor estranho e, ao mesmo tempo, refinado.

Veja:

Ex. 1: “Quando o sol está abaixo do horizonte, a totalidade dos animais domésticos da família dos felídeos é de cor mescla entre preto e branco.
R. À noite, todos os gatos são pardos.

Ex. 2: “A criatura canonizada que vive em nosso próprio lar não é capaz de produzir efeito extraordinário que vá contra as leis fundamentais da natureza.
R. Santo de casa não faz milagre.

Agora é com você. Tente descobrir, a seguir, quais provérbios Millôr transcreveu para a variante formal da Língua Portuguesa. As respostas, você encontrará no final desta página.

 

a- “De unidade de cereal em unidade de cereal, a ave de crista carnuda, asas curtas e largas, da família das galináceas, abarrota a bolsa que existe nessa espécie por uma dilatação do esôfago e na qual os alimentos permanecem algum tempo antes de passarem à moela.

b- “Substância inodora e incolor que já se foi não é mais capaz  de comunicar movimento ou ação ao engenho especial de triturar cereais.

c- “Aquele que se deixa prender sentimentalmente por pessoa destituída de dotes físicos de encanto ou graça, acha-a extraordinariamente dotada desses mesmos encantos que os outros lhe não veem.”

d- “O traje característico que usa não identifica fundamentalmente a pessoa que, por fanatismo, misticismo ou cálculo, se isola da sociedade, levando vida austera e desligada das coisas mundanas.

Abraços Fraternos!

Paulo Jorge

Respostas:
 
a- De grão em grão, a galinha enche o papo.
b- Águas passadas não movem moinhos.
c- Quem ama o feio bonito lhe parece.
d- O hábito não faz o monge.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

MALVADOS

Publicadas no jornal a Folha de S. Paulo e no site http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/cartum/cartunsdiariosas, as tirinhas Malvados são assinadas pelo quadrinista André Dahmer Pereira, nascido no Rio de Janeiro, em14 de setembro de 1974. Normalmente, suas tirinhas não seguem uma linha cronológica e têm como personagens dois seres indefinidos, que são costumeiramente comparados a girassóis, saindo daí o apelido deles: "As flores do mal".

A seguir, reproduzimos aquelas postadas no jornal e site nos dias 23, 24 e 25/05/2016 e que refletem o atual momento político brasileiro.

Reflita e não passe mal!




quinta-feira, 26 de maio de 2016


Ao longo da realização da Copa do Mundo de Futebol, no Brasil, postamos aqui cinco crônicas esportivas de renomados escritores brasileiros, dentre eles, Luis Fernando Veríssimo, escritor gaúcho que tem a Língua Portuguesa e a Gramática, como dois de seus temas prediletos. É incrível a recorrência delas em sua produção textual, principalmente nas crônicas literárias.

O texto, a seguir, é mais um de Veríssimo com essa temática. Como provocação, desafio você, Leitor (a), tentar descobrir, nos dois últimos parágrafos, quem Veríssimo compara com a Gramática.

Aquilo que poderia resultar em algo vulgar nas mãos de outros; sob a pena de Luis Fernando Veríssimo, ganha humor, inteligência e refinamento.

Ótima Leitura!
 

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram em minha casa numa mesma missão designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza de que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo, mas é claro, certo?  O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, comover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com a Gramática). A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isto eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas reflexões inomináveis para satisfazer um gesto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.

Abraços Fraternos,

Paulo Jorge

domingo, 15 de maio de 2016


Difunde-se com frequência, pelo menos no Brasil, a crença de que a Língua Portuguesa é uma das mais difíceis do mundo, inclusive para nós, brasileiros. Daí a visão de que a dificuldade no manuseio pelos seus usuários estaria ligada à estrutura da nossa língua não só na oralidade mas também na escrita da variante padrão. É um equívoco. Todas as línguas apresentam suas especificidades que resultam em dificuldades para o falante e o produtor textual, em menor ou maior grau.

A polissemia, por exemplo, representa um recurso linguístico recorrente em várias línguas e demonstra a elasticidade que uma palavra ou expressão pode conter em sua semântica alimentada por seus usuários.
No texto desta semana, trazemos uma história que brinca com os sentidos da palavra “meia”, segundo usuários brasileiro e africano.

Ótima leitura!  


 Meia, Meia, Meia, Meia ou Meia?

Na recepção dum salão de convenções, em Fortaleza...
– Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso.
– Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de onde?
– Sou de Maputo, Moçambique.
– Da África, né?
– Sim, sim, da África.
– Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos.
– É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade...
– Pronto, tem uma palestra agora na sala meia oito.
– Desculpe, qual sala?
– Meia oito.
– Podes escrever?
– Não sabe o que é meia oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68.
– Ah, entendi, “meia” é “seis”.
– Isso mesmo, meia é seis. Mas não vá embora, só mais uma informação: A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?
– Quanto tenho que pagar?
– Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam “meia”.
– Huummm! que bom. Ai está: “seis” reais.
– Não, o senhor paga meia. Só cinco, entende?
– Pago meia? Só cinco? “Meia” é “cinco”?
– Isso, meia é cinco.
– Tá bom, “meia” é “cinco”.
– Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e meia.
– Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte.
– Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e meia.
– Pensei que fosse as 9h05, pois “meia” não é “cinco”? Você pode escrever aqui a hora que começa?
– Nove e meia, assim, veja: 9h30
– Ah, entendi, “meia” é “meia”.
– Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um fôlder de um hotel que está fazendo um preço especial para os congressistas, o senhor já está hospedado?
– Sim, já estou na casa de um amigo.
– Em que bairro?
– No Trinta Bocas.
– Trinta bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no Seis Bocas?
– Isso mesmo, no bairro “Meia” Boca.
– Não é meia boca, é um bairro nobre.
– Então deve ser “cinco” bocas.
– Não, Seis Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um encontro de seis ruas, por isso seis bocas. Entendeu?
– Acabou?
– Não. Senhor é proibido entrar no evento de sandálias. Coloque uma meia e um sapato...
O africano enfartou...

Abraços Fraternos,

Paulo Jorge

domingo, 8 de maio de 2016

 Ao Leitor Atento - II

Na última postagem, vimos um texto que possui uma característica rara na Língua Portuguesa, ou seja, a inexistência de palavras construídas com a utilização da letra A, certamente o fonema mais importante da língua, pelo fato de ele ser apenas vogal e, diferentemente das outras semivogais, nunca uma semivogal nas construções silábicas. E como as consoantes e as semivogais não formam núcleo da sílaba, então o fonema A é o mais importante da Língua Portuguesa. Daí o inusitado daquela produção textual.

Hoje, trazemos o texto Não despertemos o leitor, de Mário Quintana, no qual o poeta gaúcho faz uma reflexão sobre os leitores e seus comportamentos, ao mesmo tempo em que coloca uma pedra no seu caminho, Caro (a) Leitor (a), pois incluiu em um dos parágrafos uma explicação absurda que deve chamar a atenção do leitor atento.

A fim de ampliar e enriquecer o seu percurso interpretativo, sugerimos que você responda as seguintes perguntas ao final da leitura:

Qual o entendimento que você faz do título do texto? Que conselho o autor dá para os escritores conservarem seus eventuais leitores? Você concorda com o autor a respeito da frase “Pois não é mesmo tão bom falar e pensar sem esforço?” Qual a diferença de postura entre o leitor dorminhoco, o leitor semidesperto e o leitor atento? 

Confira a sua resposta com a deste blogueiro, no final da postagem.

Mãos à obra e ótima leitura!



 Não despertemos o leitor

Os leitores são, por natureza, dorminhocos. Gostam de ler dormindo.

Autor que os queira conservar não deve ministrar-lhes o mínimo susto. Apenas as eternas frases feitas. “A vida é um fardo.” – isto, por exemplo, pode-se repetir sempre. E acrescentar impunemente: “disse Bias”. Bias não faz mal a ninguém, como, aliás, os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete, como há vinte séculos já se queixava Plutarco, eram uns verdadeiros chatos. Isto para ele, Plutarco. Mas, para o grego comum da época, deviam ser a tábua de salvação das conversas.

Pois não é mesmo tão bom falar e pensar sem esforço? O lugar-comum é a base da sociedade, a sua política, a sua filosofia, a segurança das instituições. Ninguém é levado a sério com ideias originais.

Já não é a primeira vez, por exemplo, que um figurão qualquer declara em entrevista: “O Brasil não fugirá ao seu destino histórico!”

O êxito da tirada, a julgar pelo destaque que lhe dá a imprensa, é sempre infalível, embora o leitor semidesperto possa desconfiar que isso não quer dizer coisa alguma, pois nada foge mesmo ao seu destino histórico, seja um Império que desaba ou uma barata esmagada.

Mário Quintana
Abraços Fraternos,

Paulo Jorge


R.... como, aliás, os outros seis sábios da Grécia, pois todos os sete...” Os sábios da Grécia eram seis ou sete?!


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Ao Leitor Atento - I
 
De maneira ampla, leitura é um ato social praticado pelo indivíduo de interpretar a si próprio e o mundo, dentro de um contexto histórico, a partir de um ponto de vista. Condição essa essencial ao homem, pois suas leituras determinam a sua condição de ser e estar no mundo.

Na postagem desta semana, disponibilizamos um teste para você, Leitor (a), exercitar a sua competência leitora, ou seja, tente descobrir qual fato inusitado, raríssimo na Língua Portuguesa ocorreu nesta produção textual.

A resposta se encontra no final do texto.

Não vale a "pesca", hein?!


Como é que é?!*

Sem nenhum tropeço, posso escrever o que quiser sem ele, pois rico é o português e fértil em recursos diversos, tudo permitindo, mesmo o que de início, e somente de início, se pode ter como impossível. Pode-se dizer tudo, com sentido completo, como se isto fosse mero ovo de Colombo.

Desde que se tente sem se pôr inibido, pode muito bem o leitor empreender este belo exercício, dentro do nosso fecundo e peregrino dizer português, puríssimo instrumento dos nossos melhores escritores e mestres do verso, instrumento que nos legou monumentos dignos de eterno e honroso reconhecimento.

Trechos difíceis se resolvem com sinônimos. Observe-se bem: é certo que, em se querendo, esgrime-se sem limites com este divertimento instrutivo. Brinque-se mesmo com tudo. É um belíssimo esporte do intelecto, pois escrevemos o que quisermos sem o "E" ou sem o "I" ou sem o "O" e, conforme meu exclusivo desejo, escolherei outro, discorrendo livremente, por exemplo, sem o "P", "R" ou "F", ou o que quiser escolher. Podemos, em estilo corrente, repetir sempre um som ou mesmo escrever sem verbos.

Com o concurso de termos escolhidos, isso pode ir longe, escrevendo-se todo um discurso, um conto ou um livro inteiro sobre o que o leitor melhor preferir. Porém mesmo sem o uso pernóstico dos termos difíceis, muito e muito se prossegue do mesmo modo, discorrendo sobre o objeto escolhido, sem impedimentos. Deploro sempre ver moços deste século inconscientemente esquecerem e oprimirem nosso português, hoje culto e belo, querendo substituí-lo pelo inglês. Por quê?

Cultivemos nosso polifônico e fecundo verbo, doce e melodioso, porém incisivo e forte, messe de luminosos estilos, voz de muitos povos, escrínio de belos versos e de imenso porte, ninho de cisnes e de condores.
Honremos o que é nosso, ó moços estudiosos, escritores e professores. Honremos o digníssimo modo de dizer que nos legou um povo humilde, porém viril e cheio de sentimentos estéticos, pugilo de heróis e de nobres descobridores de mundos novos.

(Texto de livre circulação e sem autoria.)

Abraços Fraternos,

Paulo Jorge

* Título criado pelo blogueiro.


Resp.: O texto não possui a letra "A".

domingo, 28 de fevereiro de 2016


Na postagem anterior, falamos do Novo Acordo Ortográfico com relação, basicamente, à acentuação das palavras; nesta semana, vamos tratar de outras mudanças na Ortografia Oficial da Língua Portuguesa, às vezes, retornando às regras de acentuação.

Diferentemente do que muitos propagam, inclusive professores de Português, o acordo facilita a nossa produção textual. Reduziu-se o número de condições especiais, sem se perder, a meu ver, a autenticidade e a beleza da Língua Portuguesa.

Bons Estudos!

 
1) Alfabeto: ganha três letras: k, w, y

2) Trema: desaparece em todas as palavras: frequente, linguiça, aguentar etc.

3) Some o acento agudo no I e no U fortes depois de ditongos, em palavras paroxítonas:
Ex. Baiuca, bocaiuva, feiura etc.

4) Desaparece o acento agudo no U forte nos grupos gue, gui, que, qui:
Ex. averigue, apazigue, ele argui, enxague etc.


1) agro, ante, anti, arqui, auto, contra, extra, infra, intra, macro, mega, micro, maxi, mini, semi, sobre, supra, tele, ultra:

Quando a palavra seguinte começar com h ou com vogal igual à última do prefixo: Ex. auto-hipnose, auto-observação, anti-herói, anti-imperialista, micro-ondas etc.

Em todos os demais casos: Ex. autorretrato, autossustentável, autoanálise, autocontrole, antirracista, antissocial, antivírus, minidicionário, minissaia, minirreforma, ultrassom etc.

2) hiper, inter, super: quando a palavra seguinte começar com h ou com r:
Ex. super-homem, inter-regional, hiper-real etc.

Em todos os demais casos: hiperinflação, supersônico, internacional etc.

3) Sub: quando a palavra seguinte começa com b, h ou r:
Ex. sub-base, sub-reino, sub-humano etc.

Em todos os demais casos:
Ex. subsecretário, subeditor etc.

4) Vice: sempre com hífen.
Ex. vice-rei, vice-presidente etc.

5) Pan, circum: quando a palavra seguinte começa com h, m, n ou vogais:
Ex. pan-americano, circum-hospitalar etc.

Em todos os demais casos:
Ex. pansexual, circuncisão etc.

Abraços Fraternos,

Paulo Jorge