segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mentalidade colonial

Parece que foi há muito tempo, mas foi tudo ontem. É só lembrar que Canô, que festeja, hoje, 105 anos, chegou ao mundo 19 anos depois de extinta a escravidão, prática legal da colônia e do império.BR até 1888. A questão é que o processo de humanização é tão lento, tão a passos de preguiça, que remete a séculos. Isso porque a mentalidade colonial interessa a muitos brasileiros (?) e, com isso, prossegue ativa, praticada em lugares insuspeitos, investindo contra o pensamento, a criatividade e as novas mentalidades. A agressão aos criadores e pensadores, comportamento caracteristicamente colonial, persiste no cotidiano. Gregório de Mattos (1636.1695), evocado por cada baiano do século 21 no ataque, já estava nele, no século 17, mais desvalido que os criadores atuais, expulso da Baía sem permissão de voltar, sequer morto. Mas disse porque veio.

Castro Alves foi publicado aos 23 anos, ainda vivo. A primeira edição de sua obra completa é de 1921. A obra de Gregório esperou 237 anos pela publicação da Academia Brasileira de Letras (1933), sem seu conteúdo satírico, e 269 anos para vir à luz completa, transgressora e contemporânea. James Amado conseguiu fugir depois de publicar essa obra, resgate do conteúdo mais impactante que um poeta baiano já criou. Até hoje. O historiador Luiz Henrique Dias Tavares foi preso pela publicação. E tudo aconteceu em 1968. Ontem. Mas para orgulho dos dois, Tavares e Amado, “Triste Bahia” é o suspiro da Cidade.

O Brasil assassinou Glauber Rocha. Sua luta para criar e realizar é asfixiante para aqueles que lhe dedicam atenção. Projete-se nela e está explicada a colônia. Sua criação continua mantida à distancia do Povo, que ele enxergou com tanta clareza. Paulo Francis, autoexilado nos USA, enlouqueceu aos poucos, a cada texto publicado, tentando desconstruir a mentalidade colonial do País. Coitado! E outros, tantos outros caçados pela ditadura da mediocridade. Mas as idéias, o pensamento e as novas mentalidades, autóctones, e sem copismos, continuam de pé, combatendo sob o sol do país, e até sob o céu de muitos azuis da Cidade da Baía.

Aninha Franco, A Tarde, Trilhas, Revista Muito, 16.09.2012. 
      http://www.facebook.com/. Acesso em: 17 de setembro de 2012.

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